A cirurgia bariátrica, como já temos apontado há algum tempo, não pode ser somente estética, já que há uma série de riscos relacionados ao procedimento.
Contudo, ao longo da última década, a quantidade de cirurgias desse tipo aumentou significativamente e já ultrapassa a marca de 88 mil cirurgias por ano apenas no Brasil. Como também já mostramos aqui no Blog.
O estudo "Aggressive clinical approach to obesity improves metabolic and clinical outcomes and can prevent bariatric surgery: a single center experience", publicado na última edição do Boletim Científico com o título “Abordagem clínica agressiva à obesidade melhora os resultados metabólicos e clínicos e pode prevenir a cirurgia bariátrica: uma experiência única no centro”, indica que esse aumento é resultado, principalmente, de intervenções clínicas mal sucedidas na perda de peso.
Os resultados do trabalho indicam, ainda, que 93% das cirurgias bariátricas poderiam ser evitadas se as intervenções clínicas fossem bem feitas. O que não acontece, segundo os pesquisadores, por seis motivos: os medicamentos anti obesidade são tipicamente administrados como monoterapia, mesmo sabendo que nenhum dos medicamentos disponíveis hoje no mercado pode conseguir mais do que 10% da meta de perda de peso; a farmacoterapia não é efetivamente combinada a outras intervenções, como a psicoterapia, vigilância e dieta intensiva; curta duração da farmacoterapia; falta de estratégias para manutenção de perda de peso; mal entendimento da complexa fisiopatológica da obesidade; e sub prescrição dos medicamentos contra a obesidade (o estudo aponta que apenas 2% dos pacientes com IMC superior a 30kg/m² receberam medicação contra obesidade).
Para corrigir essa situação e reduzir o total de cirurgias bariátricas – que, novamente, constituem um tratamento efetivo contra obesidade, mas que deve ser empregado apenas como última alternativa –, os pesquisadores sugeriram uma abordagem mais “agressiva”, corrigindo as falhas usualmente detectadas na abordagem clínica. Os resultados, após dois anos de acompanhamento com pacientes que apresentavam obesidade entre moderada e severa, mostram melhoras significativas, como a perda de 20% da massa corporal por quase três quartos (74,4%) dos pacientes. O que indica que a abordagem clínica intensiva proposta neste trabalho para o tratamento da obesidade pode ser uma alternativa eficaz à cirurgia bariátrica.
Se você se interessa pelo assunto, não deixe de ler, também, o Estudo Especial “Evolução da obesidade no Brasil” e o TD 59 – “Impactos da cirurgia bariátrica”.
A multimorbidade, caracterizada pela presença de duas ou mais doenças crônicas atinge cerca de um quarto (24,2%) dos brasileiros em idade adulta. A taxa, contudo, é significativamente mais alta entre mulheres do que entre os homens, atingindo 28,8% das mulheres e apenas 19% dos homens. Do mesmo modo, a prevalência da multimorbidade é maior entre as pessoas mais velhas, abrangendo apenas 5,5% da população com idade entre 18 anos e 24 anos, mas 54,7% das pessoas entre 65 anos e 84 anos.
O assunto, ainda pouco explorado no Brasil, é tema do estudo “Epidemiology of multimorbidity within the Brazilian adult general population: Evidence from the 2013 National Health Survey”, publicado na última edição do Boletim Científico com o título “Epidemiologia da multimorbidade na população geral brasileira: Evidências da pesquisa nacional de saúde de 2013”.
O estudo utilizou a base de dados da Pesquisa Nacional de Saúde 2013, que ouviu 60,2 mil adultos com idade superior a 18 anos e, a partir da análise dessa base de dados, explora a distribuição e identifica padrões de multimorbidade de condições crônicas de saúde física e mental entre os brasileiros.
De acordo com o estudo, o porcentual da população brasileira com multimorbidade é comparável com ao registrado na Escócia (23,2%), sugerindo que a presença dessas condições crônicas na população adulta brasileira apresenta proporções semelhantes as encontradas em países mais ricos.
Além disso, foi constatado que enquanto apenas uma em cada quatro pessoas com um ou mais problemas de saúde física apresentava comorbidades mental, três em cada quatro pessoas com problema de saúde mental apresentam comorbidades físicas.
Acabamos de produzir a primeira edição do “Boletim Científico IESS” de 2017. Voltado para pesquisadores acadêmicos e gestores da área de saúde, a publicação indica os principais estudos científicos, nacionais e internacionais, publicados no primeiro bimestre deste ano sobre saúde, tecnologia, economia e gestão no setor de saúde suplementar. O objetivo é auxiliar pesquisadores e gestores da saúde suplementar a se manterem atualizados sobre os principais estudos publicados no bimestre.
Os destaques dessa edição são os estudos “Os efeitos prováveis do seguro de saúde complementar de oferta obrigatória pelo empregador sobre a cobertura de saúde na França”, na seção de Economia&Gestão, que analisa os efeitos do Acordo Interprofissional Nacional naquele País; e, em Saúde&Tecnologia, “Epidemiologia da multimorbidade na população geral brasileira: evidências da pesquisa nacional de saúde de 2013”, que se destaca por apresentar dados nacionais sobre o tema, que ainda é pouco explorado no Brasil. Nos próximos dias, aqui no blog, vamos publicar posts analisando esses e outros destaques dessa edição.
Em 2016, o total de beneficiários de planos médicos hospitalares recuou 2,8%, o que representa o rompimento de 1,4 milhão de vínculos. Um movimento que, como já apresentamos na última edição da NAB e comentados aqui no Blog, faz sentido frente a redução de 1,32 milhão de empregos formais registrada no Brasil ao longo do ano passado.
Contudo, no mesmo período, o mercado de planos exclusivamente odontológicos registrou alta de 3,8%, com o acréscimo de 815,3 mil novos vínculos. O que, então, justifica esse comportamento?
A primeira “vantagem” dos planos exclusivamente odontológicos é que, apesar de ter superado a marca dos 22 milhões de beneficiários em 2016, o segmento ainda conta com menos da metade do total de vínculos médico-hospitalares. Ou seja, ainda está longe de ser maduro e tem mais margem para crescer.
Os custos de planos exclusivamente odontológicos também são mais atrativos se comparados aos planos comuns, o que permite tanto as famílias acessá-los com mais facilidade, mesmo com a redução da renda média; quanto as empresas, mesmo em um momento de crise econômica, oferecer o benefício com menos impacto nos seus custos.
Aliás, esse é justamente um dos pilares do crescimento destes planos. Cada vez mais empresas têm oferecido o benefício como uma forma de reter talentos. A exemplo do que acontece com os planos médico-hospitalares, os planos coletivos empresariais (aqueles oferecidos pelas empresas aos seus colaboradores) também respondem pela maior parte dos vínculos exclusivamente odontológicos: são 16,2 milhões ou 73,5% do mercado.
Os custos reduzidos em comparação com os planos médico-hospitalares também resultam em mais uma distinção: não é o acesso, mas a educação o principal determinante para que as pessoas mantenham cuidados adequados com sua higiene bucal. O fato é constado em pesquisas internacionais como a “Socio-Economic Determinantsof the Need for Dental Care in Adults”, apresentada na 14° edição do Boletim Científico com o título “Determinantes socioeconômicos da necessidade de assistência odontológica em adultos”.
Já que, de acordo com dados do IBGE, a escolaridade média do Brasileiros cresceu 29,6% entre 2001 e 2015 (o crescimento ultrapassou os 50% para certos grupos), é natural que também o cuidado bucal e a busca e valorização dos planos exclusivamente odontológicos cresça no País.
Esses fatores, somados, tem impulsionado a contratação desses planos nos últimos anos e indicam que ainda há espaço para continuar crescendo. Mas claro, há desafios no caminho. E esse é o tema de amanhã, no último dia do nosso especial sobre planos exclusivamente odontológicos aqui no Blog. Não deixe de ler.
A redução do índice de mortalidade materna e neonatal são preocupações comuns para muitos países no mundo. No Brasil, essas taxas vêm caindo ao longo dos últimos 20 anos, mas ainda estão em um patamar elevado, acima da meta da ONU.
Como estratégia para reduzir a mortalidade materna e neonatal, o governo das Filipinas ampliou os subsídios oferecidos para aquisição de planos de saúde. O estudo “The Impact of Healthcare Insurance on the Utilisation of Facility-Based Delivery for Childbirth in the Philippines”, publicado na última edição do Boletim Científico com o título “O impacto do seguro de saúde na utilização de instituições de saúde para o parto nas Filipinas”, faz um levantamento do resultado dessa política e destaca, como principais resultados, o aumento de 5% a 10% no total utilização de serviços de cuidados de saúde das mulheres.
Esses cuidados podem ser realizados em estabelecimentos de saúde público, privado ou não governamental. Os pesquisadores estimam que o aumento da cobertura de seguro de saúde provavelmente será uma abordagem eficaz para aumentar o acesso das mulheres aos serviços de saúde, preservando vidas, especialmente no momento de gravidez e nascimento das crianças.
Demonstram, assim, que incentivar a contratação de planos e seguros de saúde pode auxiliar a melhoria de indicadores de saúde populacional, como já apontamos em outras oportunidades aqui no Blog.
O resultado é ainda mais importante se considerarmos que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), anualmente, 303 mil mulheres morrem durante a gravidez ou na hora do parto, como também já destacamos aqui. Um assunto que merece toda atenção.
Ontem,aqui no Blog, falamos sobre a falta de critérios claros de avaliação de custo efetividade para incorporar novas tecnologias na saúde suplementar. O que termina por encarecer e até mesmo comprometer a sustentabilidade do setor. Porém, obviamente, há tecnologias que podem ser empregadas para a facilitar a relação dos beneficiários com a operadora e mesmo auxiliar o paciente a ter mais cuidado com a própria saúde. É o caso, por exemplo, de aplicativos em dispositivos móveis, cada vez mais presentes no nosso dia a dia.
A lista de possibilidades é extensa. Há aplicativos para ajudar a controlar o peso, para se alimentar melhor, para lembrar de tomar remédios nas doses e horários corretos e até para engajar e integrar paciente, médico, indústria, operadoras de saúde, farmácias.
A própria ANS possui um aplicativo que disponibiliza informações como: dados das operadoras; reajuste de planos individuais e familiares; e, consulta sobre a cobertura obrigatória de acordo com o plano de saúde contratado.
Muitas operadoras de planos de saúde também possuem aplicativos para facilitar o contato com seus beneficiários, tirar dúvidas, encontrar médicos, hospitais, laboratórios e outros serviços credenciados cobertos pelo plano. Contudo, comparando o total de downloads desses aplicativos e o número de vínculos, não é difícil perceber que ainda é muito baixa a parcela de beneficiários que conhece ou utiliza esses recursos.
Todas essas funções trazem benefícios não só para o paciente, mas sim para toda a cadeia do setor de saúde suplementar, prova disso é o estudo “Mobile Health Apps to Facilitate Self-Care: A Qualitative Study of User Experiences”, publicado no 13º Boletim Científico com o título "Aplicativos móveis de saúde para facilitar o autocuidado: um estudo qualitativo das experiências dos usuários", que acompanhou usuários para saber até que ponto esses aplicativos são realmente eficazes em promover uma mudança comportamental e, efetivamente, auxiliar as pessoas a cuidarem melhor da própria saúde. Os resultados são positivos, como já apontamos aqui.
Só falta os beneficiários descobrirem que podem contar com eles.
No Brasil, com temos apontado inúmeras vezes aqui no Blog, ainda estamos engatinhando quando o assunto é adoção de critérios de custo-efetividade para a incorporação de novas tecnologias na saúde suplementar.
Por outro lado, há países que não só adotam a Avaliação de Tecnologia da Saúde (ATS) como um procedimento básico há anos, mas que debatem quais devem ser os parâmetros para aperfeiçoar essa avaliação.
Como a adoção de ATS para a saúde suplementar, por aqui, ainda não foi adotada, podemos nos valer da experiência internacional para estruturar o melhor modelo de avaliação possível. Com isso em mente, recomendamos a leitura do artigo “Changing Health Technology Assessment Paradigms?”, publicado na última edição do Boletim Científico com o título “Mudando os paradigmas da avaliação de tecnologia da saúde?”, que resume os debates do Fórum de Avaliação de Tecnologia da Saúde (ATS) 2016, nos Estados Unidos.
Será que é possível reduzir gastos no setor de saúde suplementar sem diminuir a qualidade? O estudo “Association Between Hospital Participation in a Medicare Bundled Payment Initiative and Payments and Quality Outcomes for Lower Extremity Joint Replacement Episodes", publicado na 15ª edição do Boletim Científico com o título “Associação entre a participação de hospitais em uma iniciativa do Medicare de pagamento por pacote (Bundled payment) e os resultados de qualidade para episódios de implante de prótese de articulação” , avalia o programa Bundled Payments for Care Improvement (BPCI), dos Estados Unidos, e garante que sim, é possível.
De acordo com o estudo, foi possível observar que nos hospitais que participaram do programa BPCI os gastos caíram, em média, U$ 1.166 a mais do que no grupo de comparação que não participava do programa. Isso sem alterar a qualidade da assistência prestada entre os hospitais analisados.
Na realidade, entrevistas com os pacientes dos dois grupos mostraram que os que realizaram implante de prótese de articulações (principalmente joelho e quadril) nos hospitais participantes do BPCI apresentaram resultados mais expressivos, como melhorias na mobilidade, menores problemas físicos e emocionais e menos dor no período de recuperação.
Um forte indicador de que programas de controle de gasto com foco em eficiência acabam por beneficiar o atendimento dos pacientes.
Os erros de medicação estão entre os mais comuns nos cuidados de saúde. Tais erros são, principalmente, resultados de fragilidade nos processos de trabalho e poderiam ser evitados como ou ao menos reduzidos com a adoção de indicadores de qualidade, como apontamos no estudo “Erros acontecem: a força da transparência no enfretamento dos evento adversos assistenciais em pacientes hospitalizados”, também já apresentado aqui no blog.
O estudo “Perceptions and Attitudes towards Medication Error Reporting in Primary Care Clinics: A Qualitative Study in Malaysia”, publicado na última edição do Boletim Científico com o título “Percepções e atitudes em relação aos relatórios de erros de medicação em clínicas de cuidados primários: um estudo qualitativo na Malásia”, reforça essa percepção e destaca que para formular soluções de segurança adequadas, é necessário adotar sistemas de informação em que os erros possam ser reportados. De acordo com o estudo, antes de ser possível reduzir os erros de medicamento, é preciso identificar e compreender corretamente suas causas e compartilhar essas informações com os profissionais envolvidos no processo de ministrar medicamentos.
O trabalho destaca, ainda, que o comprometimento dos profissionais de saúde é fundamental para assegurar a melhoria no tratamento dos pacientes e, embora o processo possa ser complexo e até traumático, compartilhar os próprios erros é algo necessário para o aprendizado.
É preciso ter cuidado redobrado com pacientes com câncer, não só por fatores relacionados a doença, mas também psicológicos. Pode parecer obvio, mas o estudo “Injuries before and after diagnosis of cancer: nationwide register based study”, publicado na 15º edição do Boletim Científico com o título “Lesões antes e após o diagnóstico de câncer: Estudo baseado em registro nacional da Suécia”, apontou que o risco de lesões aumenta expressivamente entre os pacientes com câncer, sendo que essa é uma das principais causas de morte não relacionada ao câncer para essas pessoas.
De acordo com o estudo, o risco de tanto lesões iatrogênicas, (complicações decorrentes de procedimentos e tratamento médicos) quanto não-iatrogênicas aumenta para os portadores de todos os tipos de câncer. Especialmente no período de duas semanas antes e duas semanas depois de confirmado o diagnóstico.
Isso significa que é preciso redobrar os cuidados com esses pacientes, tanto durante procedimentos médicos, quanto fora deles. A terapia, por exemplo, é essencial para reduzir esse risco.
O trabalho aponta, ainda, que é importante entendermos que as lesões que não resultam de intervenções médicas são cada vez mais reconhecidas entre os pacientes com câncer, o que indica um elevado risco de autolesão e suicídio, especialmente durante o primeiro ano após o diagnóstico.