Há mais de 420 milhões de pessoas com Diabetes no mundo. Ainda mais grave, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 1,5 milhão de pessoas morrem em decorrência da doença por ano. Apenas no Brasil, ainda de acordo com a OMS, há pouco mais de 16 milhões de diabéticos, o que representa 8,1% da população adulta.
Frente a esses números, os resultados do estudo “Effects and Factors Related to Adherence to A Diabetes Pay-for-Performance Program: Analyses of a National Health Insurance Claims Database” (apresentado na última edição do Boletim Científico com o título “Efeitos e fatores associados à adesão a um programa de pagamento por performance para Diabetes: análise de uma base de dados dos sinistros do Seguro Nacional de Saúde”), indicam uma solução interessante para melhorar o tratamento da doença, possibilitando mais qualidade de vida, e, ao mesmo tempo, reduzir os custos de seu tratamento.
O trabalho, desenvolvido em Taiwan, acompanhou um programa para cuidado de pacientes com Diabetes e avaliou as diferenças nos comportamentos de pacientes que aderiam ao programa com pagamento por performance e outros que permaneceram no programa com o modelo de pagamento padrão por serviço executado.
Os resultados apontam que apesar dos pacientes que aderiram ao modelo de pagamento por performance terem utilizados mais serviços médicos, suas despesas médias anuais foram 14,3% inferiores aos do outro grupo. Uma redução significativa. De acordo com os pesquisadores, com o maior número de acompanhamentos, foi possível reduzir o número de casos de hospitalização, que custam mais caro para o sistema de saúde e significam que os pacientes estão em uma condição pior. Logo, o aumento da frequência de utilização dos serviços foi convertido em redução de custos e melhora da qualidade de vida. Uma experiência que poderia ser recriada por aqui.
Não é o acesso, mas a educação o principal determinante para que as pessoas mantenham cuidados adequados com sua higiene bucal. De acordo com o estudo “Socio-Economic Determinantsof the Need for Dental Care in Adults” (presente na última edição do Boletim Científico com o título “Determinantes socioeconômicos da necessidade de assistência odontológica em adultos”), realizado na França, a necessidade de cuidados dentários chega a ser 55% superior entre pessoas com baixa instrução se comparado com pessoas com mais anos de estudo.
O estudo constatou que, apesar de o acesso aos cuidados com a saúde bucal ser universal na França desde 2004, ainda existe uma elevada concentração de pessoas que não utilizam o serviço com regularidade. O que leva a necessidade de tratamentos odontológicos mais caros e demorados. A pesquisa apontou, ainda, que a necessidade de tratamentos odontológicos é significativamente maior entre pessoas que não fizeram uma visita ao dentista nos últimos dois anos.
Os pesquisadores envolvidos no estudo acompanharam cerca de três mil adultos e sugerem que a vulnerabilidade social pode ser o principal fator para que as pessoas releguem os cuidados com a higiene bucal a um nível mais baixo de prioridade, demonstrando que não basta garantir acesso ao tratamento, mas também é preciso trabalhar em programas de promoção da saúde. Algo que sempre defendemos.
Fornecer subsídios para a aquisição de planos de saúde pode ajudar a reduzir a pobreza e aumentar a atividade econômica. Ao menos é o que indica o estudo “Assessing the Effects of the New Cooperative Medical Scheme on Alleviating the Health Payment-Induced Poverty in Shaanxi Province, China” (publicado no último Boletim Científico como o título “Avaliação dos efeitos de um novo esquema cooperativo de plano de saúde sobre a redução da pobreza causada por gastos altos em saúde na Província de Shaanxi, China”).
O estudo constatou que o número de famílias na província de Shaanxi (zona rural da China) que viviam abaixo da linha da pobreza diminuiu quase 5% após o governo local oferecer planos de saúde subsidiados para a população. De acordo com o estudo, essas famílias estavam tendo que arcar com despesas hospitalares muito elevadas para o padrão local. A partir do subsidio, essas famílias também passaram a apresentar maior poder de consumo, o que auxiliou a economia local. Apesar de não ser abordado no estudo, também é crível imaginar que com o acesso à saúde facilitado, essas famílias poderão se tornar mais produtivas, o que deve estimular um ciclo virtuoso de crescimento socioeconômico.
Apesar de ser uma experiência local, os resultados certamente estimulam sua aplicação em novas regiões.
O estudo “Five-Year Mortality and Hospital Costs Associated with Surviving Intensive Care” (apresentado na última edição do Boletim Científico com o título “Mortalidade em cinco anos e custos hospitalares associados à sobreviventes da terapia intensiva”), constatou que, nos cinco anos após sair da UTI, pacientes têm mais chance de morrer do que as pessoas que nunca foram internadas. Além disso, a passagem pela UTI também está associada a maior frequência de utilização de recursos de saúde, como consultas e terapias.
De 7.656 pacientes internados na UTI que o estudo acompanhou, 5.259 sobreviveram até a alta hospitalar. Nos 5 anos após a alta, os doentes que foram internados na UTI apresentaram maior mortalidade em relação aos hospitalizados que não receberam cuidados intensivos. Sendo que vieram a falecer 32,3% daqueles que passaram pela UTI e 22,7% daqueles que não necessitaram desses cuidados. A pesquisa ainda detectou que, nos cinco anos após passagem pela UTI, esses pacientes foram internados mais vezes, apresentaram maior número médio de dias em hospitais e tiveram maior média de custos hospitalares.
A passagem pela UTI também está associada a maior prevalência de doenças críticas e morbidades significativas, incluindo complicações neuromusculares, insuficiência respiratória, incapacidade física e declínio cognitivo e psicológico.
Nós já apontamos aqui, no Blog, que o estresse ocupacional é um dos maiores problemas de saúde no mundo, diretamente ligado a sete das dez principais causas de morte, inclusive às doenças cardiovasculares. Também já mostramos que empresas com investimentos em políticas de bem-estar e de promoção da saúde apresentaram crescimento cerca de 5% superior quando comparadas a outras e listamos soluções e propostas para tornar essas práticas rotina em organizações de todos os portes.
Agora, o estudo “Medical cost analysis of a school district worksite wellness program” (apresentado na última edição do Boletim Científico com o título “Uma análise dos custos médicos no programa de promoção a saúde no trabalho: estudo de caso com professores em um distrito escolar), mostra que, além desses benefícios, programas de promoção da saúde podem representar uma redução efetiva e significativa dos gastos com saúde.
De acordo com o estudo, os participantes de programas de promoção da saúde gastam cerca de 5% a menos com saúde. O levantamento acompanhou aproximadamente 2,5 mil professores nos Estados Unidos entre 2009 e 2014 e revelou os gastos em saúde por participantes do programa de promoção da saúde foi de US$ 795,2 entre 2011 e 2012; US$ 800,2 de 2012 a 2013 e, US$ 753,4 no biênio 2013-2014. No entanto, para aqueles que não aderiram ao programa, os gastos médios em saúde foram de US$ 824,2 entre 2011 e 2012 (+3,6%); US$ 832,4 de 2012 a 2013 (+4%); e, US$ 816,8 no biênio 2013-2014 (+8,4%). O que significa que os participantes que aderiram ao programa apresentaram uma melhora na qualidade de vida e mudaram o seu comportamento na utilização dos serviços de saúde.
Outra importante relação captada pelo estudo foi a proporção entre os gatos da empresa com o programa de promoção da saúde e sua economia em gastos com saúde de seus beneficiários. No total, durante o período de seis anos, o programa apresentou um custo de US$ 1,4 milhão mas que gerou uma economia na área de gastos em saúde para empresa de US$ 3,6 milhões. O que significa que para cada US$1 investido em promoção, a empresa deixou de gastar US$2,56.
Além da economia de recursos, é preciso considerar, também, que há um ganho de produtividade, com colaboradores mais dispostos e com mais qualidade de vida. O que é bom para todos.
Entre os idosos, a diabete Mellitus e as doenças cardiovasculares causam mais gastos catastróficos em saúde (aqueles que correspondem a mais de 10% da renda anual do indivíduo) do que o câncer. Essa é a conclusão da pesquisa “Catastrophic Health Care Expenditure among Older People with Chronic Diseases in 15 European Countries” (apresentada na última edição do Boletim Científico com o título “Gastos catastróficos com saúde entre idosos com doenças crônicas em 15 países europeus”).
O estudo analisou a prevalência de doenças crônicas em indivíduos com mais de 50 anos de 15 países da União Europeia (Áustria, Bélgica, República Checa, Dinamarca, França, Alemanha, Hungria, Itália, Holanda, Polônia, Portugal, Espanha, Eslovênia, Suécia e Suíça) e apontou que mesmo para os planos de saúde com conta de poupança e franquia anual (já apresentados aqui no Blog), que tendem a entregar resultados melhores para os beneficiários (muito em decorrência da liberdade de escolha desses a partir dos indicadores de custo-efetividade a que têm acesso), o impacto econômico-financeiro dessas doenças é muito elevado.
O estudo indica, ainda, que o comprometimento de recursos com gastos catastróficos em saúde não é negativo apenas para o beneficiário, mas para as operadoras e, em última análise, para a economia desses países que já têm maior prevalência de população idosa. Para evitar essa situação, o estudo recomenda a adoção de mecanismos de amortização de gastos out-of-pocket (quando é o beneficiário que paga pelo tratamento), como a adoção de subsídios ou mesmo a inclusão de alguns tratamentos na lista de procedimentos que o beneficiário não precisa pagar mesmo antes de atingir a franquia do plano; modelo adotado para consultas e exames preventivos.
Outra solução, não apontada pelo estudo, mas que, em nossa opinião, pode ser até mais efetiva é apostar em programas de promoção da saúde. Especialmente porque, com a expectativa de vida cada vez maior, a tendência é que esses eventos se tornem ainda mais frequentes. Afinal, prevenir é sempre melhor que remediar. Principalmente quando o assunto é saúde.
Acabamos de produzir a nova edição do “Boletim Científico IESS”. Voltado para pesquisadores acadêmicos e gestores da área de saúde, a publicação indica os principais estudos científicos, nacionais e internacionais, publicados no quarto bimestre de 2016 sobre saúde, tecnologia, economia e gestão no setor de saúde suplementar. O objetivo é auxiliar pesquisadores e gestores da saúde suplementar a se manterem atualizados sobre os principais estudos publicados no bimestre.
Um dos destaques dessa edição é o estudo “Determinantes socioeconômicos da necessidade de assistência odontológica em adultos”, que detectou que mais 35% da população adulta da França precisa de cuidados dentários, mostranto o potencial de crescimento deste mercado naquele País. Nos próximos dias, aqui no blog, vamos publicar posts analisando esses e outros destaques dessa edição.
Aqui, no Brasil, já nos acostumamos a ver farmácias que não vendem apenas remédios, mas também produtos de beleza, higiene e até alimentos (como leite em pó e barras de cereais). Nos Estados Unidos, contudo, as farmácias estão mudando e começando a oferecer um outro tipo de serviço: atenção primária em saúde.
A ideia é oferecer, além dos medicamentos, enfermeiros e clínicos gerais capazes de resolver pequenos problemas de saúde, sem que o paciente tenha que deslocar até um hospital ou unidade de atendimento emergencial.
O modelo, além de ajudar a evitar lotações em unidades que deveriam se preocupar com casos mais graves do que uma gripe, por exemplo, também está contribuindo para a redução de gastos com saúde.
De acordo com o estudo “The changing face of pharmacies in America: retail clinics” (apresentado na última edição do Boletim Científico com o título “Mudança no perfil das farmácias americanas: atendimento de atenção primária”), o novo modelo de clinicas farmacêuticas tem um custo de 30% a 40% inferior ao de clinicas médicas regulares, e aproximadamente 80% menos do que o de cuidados semelhantes prestados em unidades de emergência.
A pesquisa aponta, ainda, que o modelo é bem aceito pela população, sendo que 50% dos norte-americanos já consideram utilizar este serviço ao invés de procurar pelo atendimento tradicional. Parte da aceitação se deve ao fato de quase 40% da população morar a até 10 minutos de uma farmácia.
A doença cardiovascular (DCV) é a principal causa de morte em todo o mundo já há muitas décadas. Contudo, desde 1990, o número de mortes por DCV aumentou 66% em países com renda per capita média ou baixa, enquanto permaneceu relativamente estável em países com elevada renda per capita.
O estudo “Quality Improvement for Cardiovascular Disease Care in Low- and Middle-Income Countries: A Systematic Review” (apresentado na última edição do Boletim Científico com o título Melhoria da qualidade dos Cuidados em Doenças Cardiovasculares em Países de Renda Baixa e Renda Média: uma Revisão Sistemática) buscou entender porque essa diferença e o que é possível fazer para sanar o problema.
Os resultados mostraram que as melhorias no tratamento de hipertensão, diabetes, colesterol alto, doença da artéria coronária, derrame, doença reumática do coração e insuficiência cardíaca congestiva, em países de baixa e média renda, se restringem a fases iniciais da doença. Entretanto, na fase aguda ou crônica da doença, de acordo com o estudo, grande parte dos pacientes são tratados de forma incompleta, com medicamentos padrão para prevenção.
Para mudar esse cenário, a pesquisa recomenda a adoção de sete medidas, algumas já presentes no Brasil, outras que poderiam ser implementadas:
- Cobertura nacional de saúde;
- Adoção de medicamentos essenciais;
- Controle de preço de medicamentos;
- Adoção de protocolos clínicos;
- Implementação de padrões de melhoria de qualidade;
- Utilização de análise comparativa (benchmarking); e,
- Utilização de tecnologias móveis de comunicação
Apresentamos três novos produtos para saúde (HDHP, HRA e HSA) nas nossas últimas postagens e que ainda não existem no Brasil, mas já fazem parte do mercado norte-americano há algum tempo. E têm resultado ótimos resultados por lá.
De acordo com o estudo “Consumer-Directed Health Plans: A review of the evidence” (apresentado na última edição do Boletim Científico com o título "Planos com conta poupança de saúde com franquia anual"), o total de trabalhadores nos Estados Unidos que contam com um plano desse tipo (HRA, HSA etc.) cresceu de 4%, em 2006, para 20% em 2014.
Mais importante do que a aceitação e expansão desse tipo de plano – que têm como grande vantagem envolver os beneficiários no processo de decisão de gastos, o que ajuda a tornar mais racional a utilização de serviços de saúde –, é o fato deles reduzirem entre 5% e 15% o total de despesas com saúde em comparação aos planos tradicionais. O que representaria uma economia de US$ 57 bilhões por ano.
Ainda que o foco do estudo não tenha sido avaliar a qualidade do atendimento prestado aos beneficiários desse tipo de plano, o documento deixa claro que não houve piora nesse sentido. Em nossa avaliação, a tendência é justamente a oposta: uma vez que os beneficiários tenham mais instrumentos e poder para avaliar a qualidade dos atendimentos e estabelecer uma relação direta com seu custo, o tratamento ofertado tende a ser superior ao dos planos convencionais.