Quando se fala em serviços de saúde, é fundamental levar em consideração a sua utilização. Como já alertamos, o excesso de procedimentos também faz mal ao paciente que é, muitas vezes, exposto à riscos desnecessários. Claro, esses exames são extremamente úteis à prática médica e essenciais para diversos diagnósticos. Contudo, também é um fato que muitos dos exames emitem radiação nociva e a prescrição deve ser avaliada caso a caso, como apontamos recentemente. O tema, inclusive, é alvo de campanha da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Se não bastasse os perigos à saúde, a supertilização também onera todo o sistema e é um fator importante no cálculo da VCMH.
Exatamente pela importância em se falar e conscientizar sobre a questão é que divulgamos no trabalho “Tendências no uso de serviços de saúde médicos e odontológicos e a relação com nível educacional e posse de plano privado de saúde no Brasil, 1998-2013” na 23º edição do Boletim Científico. A pesquisa descreveu as tendências no uso dos serviços de saúde médicos e odontológicos e a relação com nível educacional, sexo, idade e posse de plano privado de saúde.
Segundo a pesquisa, houve aumento dos serviços tanto entre indivíduos com planos de saúde quanto os que não possuem. Contudo, verificou-se que o percentual de uso ainda foi maior em todos os anos para aqueles que estão na saúde suplementar. A utilização dos serviços médicos aumentou progressivamente, passando de 55,2% em 1998 para 71,3% em 2013 e, entre os exclusivamente odontológicos, saltou de 1% para 6,3%. O percentual de adultos que consultou dentista no último ano passou de 35,2% para 47%.
Diferentemente do uso de serviços médicos, as pessoas com maior idade tendem a utilizar menos os serviços odontológicos. A idade apresentou tendências inversas comparando o uso do serviço médico com o odontológico no período analisado.
Quer ver esse e outros trabalhos publicados em nosso Boletim Científico? Acesse e conheça.
Quem acompanha informações sobre o setor de saúde sabe que a Judicialização é um tema cada vez mais recorrente e presente na pauta por diferentes razões e necessidades. Assunto caro aos segmentos de saúde do país, é um dos mais abordados aqui no Blog, pela imprensa e também pelos trabalhos da categoria Direito do Prêmio IESS de Produção Científica em Saúde Suplementar. O crescente aumento das ações judiciais tanto no sistema público quanto privado faz com que, de tempos em tempos, sejamos impactados com notícias e informações sobre a questão.
Olhando, por exemplo, o histórico de trabalhos vencedores do Prêmio IESS conseguimos acompanhar como a questão tem sido tratada pelo setor, quais os pontos historicamente mais sensíveis nessa relação e, talvez mais importante, constatar que esses trabalhos têm contribuído para o aperfeiçoamento do setor.
Exatamente com esse mesmo objetivo, o trabalho “Uma análise da produção acadêmica sobre a evolução do fenômeno da judicialização da saúde no Brasil”, publicado na 23º edição do Boletim Científico realizou uma revisão narrativa, com levantamento bibliográfico e documental em que se procedeu a coleta de artigos e jurisprudências em sites eletrônicos.
Para se ter uma ideia, Entre 2014 e 2016, o total de ações judiciais envolvendo a saúde teve incremento de 243%, segundo o relatório Justiça em Números, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). São desde questionamentos sobre valores dos serviços e reajuste dos planos até indenizações por erros médicos, passando por requerimentos de medicamentos, terapias e outros.
Outro número alarmante mostra que no período entre 2010 e 2015, apenas com a compra de três medicamentos de alta complexidade, o governo federal teve um gasto de aproximadamente R$ 1,5 bilhão. Esse valor é maior do que o recurso utilizado para a compra de todos os outros medicamentos adquiridos por via do Judiciário. Pesquisas realizadas em Estados da Federação demonstram que foram gastos, aproximadamente, R$ 2,7 milhões em somente 18 processos judiciais, com pedidos de medicamentos de alto custo, para atender 523 pacientes. Ou seja, 97,21% do custo total da judicialização nos anos de 2009-2010 foi aplicado para aproximadamente 2,2% do total de processos.
Voltando à publicação, segundo o Relatório de Pesquisa do CNJ, os argumentos mais frequentes para fundamentar as sentenças são os pertencentes à tríade direito à saúde, direito à vida e direito à dignidade da pessoa humana. O direito à saúde corresponde à 87,57% dos fundamentos, seguido do direito à vida, com 53,50% e, por fim, o direito à dignidade da pessoa humana em 24,48% das respostas.
O estudo mostra que os magistrados entendem que o direito à saúde deve ser garantido a todos, a despeito de qualquer política pública ou a observância ao orçamento público. São desconsiderados, por exemplo, elementos que compõem as políticas públicas de medicamentos no país.
A análise vai, portanto, ao encontro do que temos apontado sobre a necessidade de magistrados receber municiamento para o correto embasamento técnico-científico para o melhor julgamento. Claro que a busca por direitos por meio da justiça faz parte das relações na sociedade, mas é importante que o direito individual não se sobreponha ao direito coletivo, gerando prejuízos à saúde da maior parcela da população.
Prevê-se que a prevalência de insuficiência cardíaca aumentará em 46% até 2030, afetando mais de 8 milhões de homens e mulheres acima de 18 anos. Para quem ainda nunca ouviu falar, é uma doença crônica de longo prazo, embora possa, às vezes, se desenvolver repentinamente.
Esse mal pode afetar apenas um lado do coração – direito ou esquerdo. Mas na prática, mesmo que se desenvolva em somente um dos lados, ambos acabam sendo afetados com o passar do tempo. Se o órgão tem problemas, o corpo todo padece e o fôlego pode acabar até mesmo em uma caminhada intensa. Isso acontece todos os dias com aproximadamente 6 milhões de brasileiros com insuficiência cardíaca.
Exatamente pela importância do tema, o trabalho “Análise do desempenho da taxa de reinternação hospitalar em 30 dias para pacientes com insuficiência cardíaca e sobrevida a longo prazo”, destaque da 23º edição do Boletim Científico apresentou dados sobre essa doença que gera uma taxa de reinternação de 20% a 25% dos pacientes por qualquer causa dentro de um mês.
Além de maiores taxas de readmissão, os pacientes com insuficiência cardíaca têm um risco substancial de mortalidade, com quase um terço dos pacientes morrendo no primeiro ano. Segundo o estudo, a insuficiência cardíaca é o principal diagnóstico para cerca de 1 milhão de beneficiários por ano no Medicare, sistema de seguros de saúde gerido pelo governo dos Estados Unidos da América e destinado às pessoas de idade igual ou maior que 65 anos ou que tenham certos critérios de rendimento. Para o cálculo de taxa de reinternação, o Medicare utiliza taxas de readmissão padronizadas para risco de 30 dias para quantificar a qualidade do serviço prestado.
Os dados de 2005 a 2013 foram coletados da base do Get With The Guidelines (GWTG) e analisados juntamente com os dados do Medicare. Também foi calculado, durante um intervalo de 3 anos, a taxa de mortalidade (do período da alta hospitalar até o óbito).
O estudo analisou, então, a taxa global de reinternação e de mortalidade desses pacientes. O trabalho mostra a necessidade de utilização de medidas mais significativas e centradas no paciente para o incentivo do atendimento adequado aos pacientes com insuficiência cardíaca.
Confira o trabalho na íntegra na 23º edição do Boletim Científico.
Acabamos de divulgar a 23º edição do “Boletim Científico IESS” que resume publicações científicas de interesse para a saúde suplementar lançadas no 2º quadrimestre de 2018. Voltado para pesquisadores acadêmicos e gestores da área de saúde, a publicação apresenta trabalhos lançados nas principais revistas científicas do Brasil e do mundo nas áreas de saúde, tecnologia, economia e gestão.
O objetivo é apresentar casos, informações, atualizações e orientações que forneçam ferramentas e subsídios para pesquisadores e gestores da saúde suplementar na melhor tomada de decisão em todo o país. A edição mais recente apresenta pesquisas que abordam judicialização, dados de reinternação, cobertura dos planos, uso dos serviços médicos e odontológicos, entre outros temas.
Entre eles, os destaques são “Análise do desempenho da taxa de reinternação hospitalar em 30 dias para pacientes com insuficiência cardíaca e sobrevida a longo prazo: conclusões da base de dados do ‘Get With the guidelines-heart failure’” que aborda a relação do desempenho de hospitais e a sobrevida do paciente nos casos da doença crônica na seção de Economia&Gestão. O destaque em Saúde&Tecnologia ficou para “Estimando o gasto futuro com saúde e cuidados com idosos na Austrália com mudanças na morbidade”, que busca estimar o efeito do envelhecimento na saúde total e no gasto com cuidados aos idosos na Austrália entre 2015 e 2035.
Continue acompanhando a nossas publicações aqui no blog. Nos próximos dias, vamos publicar posts analisando esses e outros destaques dessa edição.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 1 em cada 11 pessoas no mundo tem diabetes. A situação preocupa. Em 2014, a estatística apontava para 422 milhões de diabéticos, um avanço considerável em relação aos 108 milhões de 1980. Já o Ministério da Saúde aponta que entre 2006 e 2016 houve um aumento de 60% no diagnóstico da doença no Brasil.
Por aqui, estudo divulgado esse ano pela universidade britânica King’s College, em parceria com a Universidade de Gottingen, da Alemanha, os custos da diabetes no Brasil vão dobrar até 2030, atingindo os US$ 97 bilhões, nas estimativas mais conservadoras, ou ainda US$ 123 bilhões (R$ 406 bilhões), em um pior cenário. O trabalho vai em linha com a nossa “Projeção das despesas assistenciais da saúde suplementar”, que mostra que as operadoras de planos de saúde devem gastar R$ 383,5 bilhões com assistência de seus beneficiários em 2030, um avanço de 157,3% em relação ao registrado em 2017.
Com essa preocupação, o trabalho “Association between supplementary private health insurance and visits to physician offices versus hospital outpatient departments among adults with diabetes in the universal public insurance system” (Relação entre a posse de um seguro privado de saúde e visitas a consultórios médicos e ambulatórios hospitalares entre adultos com diabetes no sistema público de saúde), publicado na 22º edição do Boletim Científico, mostrou a utilização dos serviços médicos na Coréia do Sul.
Naquele país, todos os cidadãos (exceto aqueles com baixa renda, que recebem um auxílio) são cobertos pelo Seguro Nacional de Saúde (NHI). No entanto, devido à alta carga de custos pessoais causada pela baixa cobertura do NHI e pelo aumento da demanda por serviços de qualidade, muitas pessoas estão adquirindo um seguro de saúde suplementar privado (ou supplementary private health insurance – SPHI).
O estudo utilizou dados de 2011 do Korea Health Panel – uma amostra nacionalmente representativa de indivíduos e com 6.379 consultas selecionadas de atendimento de diabetes. Com isso, concluiu-se que os pacientes com seguro privado tinham 1,7 vez mais chances de escolher hospitais para atendimento médico ambulatorial em comparação com pacientes sem o SPHI.
A maioria dos pacientes com diabetes, exceto aqueles com casos graves ou complicações, podem ser tratados em consultórios médicos, o que maximiza a eficiência dos recursos de saúde. No entanto, o trabalho mostra que muitos segurados são mais propensos a usar os serviços hospitalares porque o seguro específico para esse serviço alivia o peso dos custos do atendimento.
Quer conferir esses e outros trabalhos? Veja a 22º edição do Boletim Científico na íntegra.
O câncer colorretal está entre os mais incidentes no mundo. Em 2018, estima-se que o câncer colorretal será o segundo tumor mais comum entre mulheres no Brasil, com 18.980 casos detectados, atrás apenas do câncer de mama. Já entre os homens, é a terceira causa de câncer mais comum, com cerca de 17.300 casos, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Exatamente por conta dos números da doença e com a finalidade de conscientizar e alertar a população, o mês de setembro foi escolhido para diferentes campanhas de prevenção do câncer do intestino, além de informar sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer colorretal e estimular hábitos de vida mais saudáveis que colaboram na prevenção desta doença. O câncer colorretal pode ser evitado em 90% dos casos.
Entre os fatores do estilo de vida modificáveis, destaca-se a inatividade física, que potencializa o surgimento da doença. A falta de atividade física também está diretamente relacionada com o risco de obesidade, que é outro fator de risco para o câncer colorretal. Dados do estudo “Global Burden of Disease” revelam que a inatividade física é o segundo maior fator de risco à saúde ao qual a população brasileira está exposta.
Foi por isso que o trabalho “Mortalidade e anos de vida perdidos pelo câncer colorretal atribuível à inatividade física no Brasil (1990-2015): conclusões do estudo de carga global de doença” publicado na 22º edição do Boletim Científico buscou estimar a mortalidade por todas as causas, por causas específicas e os anos de vida perdidos por morte prematura devido ao câncer colorretal atribuível à inatividade física no Brasil.
Um outro objetivo foi analisar a tendência temporal dessas estimativas ao longo de 25 anos (1990 a 2015) em comparação com as estimativas globais e de acordo com a situação socioeconômica dos Estados brasileiros. Para tanto, a medida utilizada neste artigo foi anos de vida ajustados por incapacidade (ou sua sigla em inglês “Disability Adjusted Life years - DALYs”).
Ao longo de 25 anos, a população brasileira mostrou resultados mais preocupantes do que em todo o mundo. No período analisado, a mortalidade por câncer colorretal atribuível a inatividade física aumentou no Brasil (0,6%) e diminuiu em todo o mundo (-0,8%).
Os sintomas do câncer colorretal na maioria das vezes surgem nos estágios mais avançados da doença com mudanças repentinas dos hábitos intestinais, como diarreia, constipação e fezes com sangue e escuras, além de dor abdominal, anemia, fraqueza e perda de peso.
É importante que pessoas sem histórico de câncer colorretal na família procurem o coloproctologista a partir dos 50 anos. Se houver casos na família, esse acompanhamento deve ter início 10 anos antes da idade do diagnóstico familiar.
Vale ressaltar que hábitos mais saudáveis entre toda a população impacta diretamente na incidência e prevalência de diferentes doenças. Além disso, o diagnóstico precoce aumenta a chance de cura ao detectar a doença no início, evitando um tratamento mais agressivo, reduzindo o tempo e os custos. Isso significa ganho de segurança e qualidade de vida para o paciente e de eficiência para o sistema de saúde.
COMPARTILHE:
Ao mesmo tempo em que se avançam os tratamentos para doenças desafiadoras em todo o mundo, como o câncer, e se aumenta a longevidade da população em âmbito global, aumenta-se também os problemas em decorrência de hábitos ruins de saúde. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que epidemia de sobrepeso e obesidade já afeta 39% da população adulta e 18% das crianças e adolescentes entre 5 e 18 anos.
Ainda segundo a OMS, a obesidade e o sobrepeso estão associados ao aumento do risco de 14 tipos de câncer, como o câncer de mama (pós-menopausa), cólon, reto, útero, vesícula biliar, rim, fígado, mieloma múltiplo, esôfago, ovário, pâncreas, próstata, estômago e tireoide.
Exatamente pela preocupação com relação ao tema que o trabalho “A crescente carga de câncer atribuível ao alto índice de massa corporal no Brasil” publicado na 22º edição do Boletim Científico buscou verificar se a redução do IMC elevado poderia reduzir a incidência de câncer no País, além de apresentar projeções da incidência de cânceres potencialmente evitáveis devido ao alto IMC para o ano de 2025. As estimativas de incidência de câncer tiveram como base os dados do GLOBOCAN - da OMS – e do Instituto Nacional do Câncer (Inca).
A pesquisa mostrou que aproximadamente 15 mil casos de câncer por ano no Brasil (ou 3,8% do total) poderiam ser evitados com a redução do excesso de peso e da obesidade. Para 2025, a publicação projeta mais de 29 mil novos casos (ou 4,6% do total de novos casos) atribuíveis ao IMC elevado. Descobriu-se que 15.465 (3,8%) de todos os novos casos de câncer diagnosticados no Brasil em 2012 foram atribuíveis ao IMC elevado, com uma carga maior em mulheres, com 5,2%, do que em homens, com 2,6%.
Já os tipos de câncer mais comuns atribuíveis ao sobrepeso foram mama, colo de útero e cólon para mulheres e cólon, próstata e fígado entre os homens. As maiores frações atribuíveis populacionais (PAFs) para todos os cânceres estão mais concentradas nos Estados mais ricos do país, como da região Sul, que apresentou 1,5% entre os homens e 3,4% para as mulheres e no Sudeste, com 1,5% entre eles e 3,3% para elas. Estimou-se, ainda, que os casos de câncer atribuíveis ao alto índice de massa corporal irão chegar aos 29.490 em 2025, o que representará 4,6% de todos os cânceres no país. A estimativa ainda aponta maior incidência entre mulheres, com 18.837 do total, ou 6,2%, do que nos homens, com 3,2%, atingindo os 10.653.
Má alimentação, pouca atividade física e sedentarismo são fatores determinantes para excesso de peso e obesidade, em conjunto com outros hábitos de vida e consumo. Portanto, é cada vez mais clara a necessidade de políticas e ações voltadas para maior conscientização da população sobre as consequências do estilo de vida. Logo, o trabalho fornece informações cruciais para a criação de ferramentas para apoiar a criação de programas e políticas para prevenção do câncer no Brasil.
Não deixe de conferir a 22º edição do Boletim Científico na íntegra.
Não é de hoje que falamos de como o avanço tecnológico representa ganho de eficiência também para o setor de saúde. Já falamos, por exemplo, da frequência, eficiência e economia no uso do Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP) nos Estados Unidos ou ainda sobre como o recebimento de exames por meios digitais facilita a vida de pacientes, médicos e clínicas.
Mais do que tendência, as diferentes tecnologias empregadas na assistência já são uma realidade para diversas finalidades e começam a ganhar maior disseminação também em nosso país. A boa notícia dessa vez vem do Tribuna Online por meio de reportagem que mostra como a medicina a distância tem auxiliado na redução da espera no setor público e agilizado o diagnóstico de pacientes com consultas e relatórios online.
A reportagem mostra a Telessaúde, ferramenta do Ministério da Saúde que proporciona atendimento ao paciente sem que ele tenha que se deslocar para outro município contando com médicos, enfermeiros, dentistas, nutricionistas e psicólogos, entre outros profissionais.
Por meio dos princípios da atenção primária em saúde, o programa busca reduzir a lista de espera fornecendo atendimento básico prévio aos pacientes. “O maior benefício é a possibilidade de o paciente ter o seu caso resolvido na própria cidade. Não vai ter deslocamento, não vai atrasar o diagnóstico, o problema dele é resolvido de forma eficiente e rápida. Só é internado quem realmente precisa”, contou a chefe da unidade de e-saúde da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), a fonoaudióloga Carmen Barreira-Nielsen.
A Atenção Primária à Saúde e a telemedicina são temas frequentes aqui em nossas publicações. As duas modalidades são fundamentais para o bem-estar do paciente e o desenvolvimento dos setores de saúde no país. A importância do tema repercute nas nossas publicações e nos trabalhos inscritos e laureados com o Prêmio IESS, auxiliando na ampliação do debate pela sociedade e o setor.
Nesse sentido, você pode conhecer o trabalho vencedor da categoria Promoção de Saúde e Qualidade de Vida no VII Prêmio IESS - “Atenção Primária na Saúde Suplementar: estudo de caso de uma Operadora de Saúde de Belo Horizonte”, de Eulalia Martins Fraga.
Já sobre a telemedicina, mostramos no Boletim Científico como a aplicação de teleodontologia resultou em redução significativa nos gastos com essa modalidade da assistência no sistema de saúde australiano.
É bom conhecer iniciativas e casos que resultem em melhora da qualidade para o paciente e de eficiência ao sistema. A redução dos custos com viagem e hospedagem, além da melhora e do aprimoramento na verificação de exames e rapidez no encaminhamento para outros profissionais especializados, pode ser usada, por exemplo, em áreas rurais ou de difícil acesso. A redução de custos garante a possibilidade de investimento em outras áreas da saúde em prol do paciente.
Já virou lugar comum falar sobre a necessidade de se buscar e cultivar bons hábitos de saúde. Até porque os dados sobre a situação do brasileiro são alarmantes. Como apontamos, a cada 6 beneficiários de planos de saúde, 1 é obeso. De acordo com o Vigitel Saúde Suplementar, em 2016, 17,7% dos brasileiros com plano de saúde eram obesos, ou seja, apresentaram índice de massa corporal (IMC) igual ou superior a 30kg/m².
A média do brasileiro é ainda pior. Dados do Ministério da Saúde mostram que 18,9% da população acima de 18 anos nas capitais brasileiras é obesa. O percentual é 60,2% maior que o obtido na primeira vez que o trabalho foi realizado, em 2006, quando essa parcela era de 11,8%.
Em todo o mundo, a obesidade é uma das principais causas de morte e está relacionada a uma variedade de comorbidades. Além disso, a obesidade pode resultar em até 30% mais gastos com saúde do que em pacientes não obesos. Embora exista uma ampla literatura médico-econômica sobre os custos da obesidade, há poucas descrições na literatura sobre a utilização específica de recursos do Pronto-Socorro (PS).
Sendo assim, o trabalho “Obesity and emergency care in the French CONSTANCES cohort” (Obesidade e atendimento de emergência numa coorte populacional) publicado na 22º edição do Boletim Científico avaliou e comparou as taxas de visitas de emergência da população obesa (Índice de Massa Corporal - IMC ≥ 30kg/m²) em relação aos participantes com peso normal, levando em consideração comorbidades e situações socioeconômicas.
Utilizou-se uma coorte epidemiológica francesa denominada “CONSTANCES”, uma amostra aleatoriamente selecionada de adultos franceses. Foram incluídos 21.035 participantes com peso normal e 5.003 obesos. O estudo concluiu que os participantes obesos visitaram o pronto-socorro com mais frequência do que os participantes com peso normal com uma taxa de 30,5% contra 26,7% entre os homens e 30,3% ante 24,4% entre as mulheres.
Portanto, pode-se, de fato, apontar uma relação direta entre a obesidade e a utilização de recursos de cuidados de emergência, aumentando ainda mais em casos de obesidade severa. Sendo assim, esse aumento da população obesa no Brasil de 60,2% em 12 anos impacta diretamente nos desafios dos setores de saúde, que já buscam alternativas para lidar com a maior longevidade e, consequentemente, aumento de comorbidades da população, entre outros fatores.
Má alimentação, pouca atividade física e sedentarismo são fatores determinantes para excesso de peso e obesidade, em conjunto com outros hábitos de vida e consumo. Portanto, é cada vez mais clara a necessidade de políticas e ações voltadas para maior conscientização de diferentes populações sobre as consequências do estilo de vida.
Confira a última edição do Boletim Científico na íntegra.
Definir, identificar e reduzir o desperdício no setor de saúde é um desafio global e envolve uma série de agentes, políticas e esforços conjuntos. Por mais que já tenha se tornado um tema frequente em nossas publicações, o tema não é específico do caso brasileiro e ainda requer uma série de medidas para seu maior enfrentamento no país.
Nesse mesmo anseio de redução do desperdício para garantir a sustentabilidade do sistema em diferentes modelos, especialistas têm debatido o assunto em âmbito global. Sendo assim, alguns formuladores de políticas e pesquisadores sugerem que seguros com ampla cobertura podem levar ao uso excessivo dos serviços em saúde.
É nesse sentido que planos que se utilizam de fator moderador (coparticipação ou franquia) ou gerenciamento da utilização podem reduzir o desperdício ao restringir o uso dos serviços de baixo valor orientado pela demanda.
Com o objetivo de verificar se existe relação entre o uso excessivo de serviços de saúde e as características do plano do beneficiário, o trabalho “Overuse and Insurance Plan Type in a Privately Insured Population” (Tipo de plano de saúde e sobre utilização de uma população com seguro de saúde privado) publicado na 22º edição do Boletim Científico usou dados de 2009 a 2013 de três grandes seguradoras de planos de saúde nos EUA.
Desse modo, os planos de Health Maintenance Organizations (HMO), que possuem fator moderador, registraram um significativo menor uso em todos os serviços avaliados, como exame de vitamina D, exame de imagem para dor lombar e exames cardíacos.
Entre os demais resultados, importante ressaltar a associação entre a maior utilização de procedimentos em planos de alta franquia e a falta de coordenação da atenção primária dentro do sistema de saúde – significativamente associada a maiores taxas de uso excessivo.
Produtos fundamentais para ampliar o acesso do plano de saúde, planos com franquia e coparticipação estão associados com o uso mais racional dos serviços de saúde – item básico do receituário para minar a escalada dos custos com saúde ao lado das demais soluções necessárias ao sistema, como mudanças no modelo de pagamento aos prestadores, comprovação da efetividade das novas tecnologias a serem incorporadas, entre outros.
Essa preocupação reflete também em diversas iniciativas, como o movimento internacional Choosing Wisely, que levantou cerca de 200 procedimentos em saúde de benefício questionável para o paciente (foram exames, procedimentos e intervenções médicas em várias áreas da saúde), contribuindo para a ampliação do debate da superutilização dos serviços de saúde.
Não custa lembrar o nosso esforço para a criação de conhecimento e ferramentas quanto ao tema. O TD 62 – “Evidências de práticas fraudulentas em sistemas de saúde internacionais e no Brasil” apresentou os impactos de práticas fraudulentas e as experiências bem-sucedidas de combate. Os números acendem um alerta: aproximadamente 19% dos gastos assistenciais da saúde suplementar no país foram consumidos por desperdícios e fraudes, ou seja, cerca de R$25,5 bilhões no ano de 2016.
Quer saber mais sobre planos com fator moderador, veja nossa área temática.