Mesmo quem não é do setor tem sido impactado pelo assunto nas últimas semanas. As novas regras para uso da telemedicina definidas na resolução 2.227/2018, do Conselho Federal de Medicina (CFM), deverão entrar em vigor no mês de maio, mas já levantaram intensos debates entre especialistas.
Isso porque, ao mesmo tempo em que a resolução foi publicada no Diário Oficial da União (DOU), o CFM reabriu o debate público por mais 60 dias sobre as normas que determinam as regras para consultas online, telecirurgias e telediagnóstico, entre outras formas de atendimento à distância. Nós já falamos do tema aqui, mostrando como a Telemedicina pode auxiliar no contato entre médicos e pacientes.
Entre os debates sobre o tema, um bom ponto foi apresentado por Sandra Franco, consultora jurídica e presidente da Academia Brasileira de Direito Médico e da Saúde. A especialista aponta o mesmo benefício que apresentamos, já que a norma permite que médicos atendam pacientes em áreas de difícil acesso, por exemplo, usando um computador ou smartphone.
Doutoranda em Telemedicina, Sandra afirma que é o avanço da tecnologia no setor de saúde é inevitável. “Não podemos ser contrários ao uso da tecnologia responsável na saúde, em especial em um país com a nossa realidade. Esse não é o momento de se insurgir em críticas e tentar evitar o inevitável: o avanço da Tecnologia na Medicina. Em outros países, a Telemedicina já é uma realidade há muito tempo. Assim, devemos canalizar as energias para buscar as ferramentas necessárias para instrumentalizar a resolução da maneira mais ética, juridicamente segura e favorável aos pacientes e profissionais da saúde”, ressalta.
A especialista vai além e lembra dos pontos positivos trazidos pelo modelo em outros países. “A Telemedicina (em um conceito amplo) existe há muito tempo em hospitais e planos de saúde de outros países do mundo como, por exemplo, EUA e Inglaterra. Estudos locais apontam que para resultados positivos e diminuição de custos. O uso da Telemedicina de forma adequada e regulamentada será favorável para os médicos e para a sociedade”, conclui.
Veja a matéria publicada no Diário de Petrópolis.
Inteligência artificial está se tornando, cada vez mais, algo do dia a dia. Especialmente na medicina diagnóstica. Já comentamos, aqui no Blog, projeto colocado em prática pelo Hospital Sírio-Libanês para mapear o risco de câncer de pulmão por meio de varredura em laudos de tomografias de tórax.
Agora, as novas tecnologias estão dando um passo além e prometendo fazer diagnósticos em tempo recorde e sem a necessidade de médicos, ao menos no primeiro contato com o paciente. Na China, a clínica Ping An Good Doctor realiza diagnósticos em até 1 minuto sem a presença de um único funcionário, apenas contando com inteligência artificial e a consulta a um banco de dados com mais de 2 mil doenças comuns. Claro, todo diagnóstico é posteriormente revisado por médicos que, caso necessário, entram em contato com o paciente para dar recomendações complementares. Após a consulta, o sistema já disponibiliza os remédios adequados para o tratamento.
Pode parecer coisa de filme, mas o modelo parece estar dando certo e já atende mais de 50 milhões de pessoas por mês. A BBC Brasil publicou, recentemente, reportagem que detalha essa e outras novas tecnologias empregadas para auxiliar no diagnóstico. Outro exemplo é um aparelho de ultrassom que pode ser acoplado ao celular, tornando seu uso rápido e prático.
Esses avanços ainda têm uma importante função: ajudar a combater a escalada de custos na saúde e combater desperdícios. Afinal, entre 25% e 40% dos exames laboratoriais não são necessários e, além do custo financeiro, podem acarretar riscos para a saúde dos pacientes, como revela o TD 62 – Evidências de práticas fraudulentas em sistemas de saúde internacionais e no Brasil.
Para entender melhor o assunto e o peso dos gastos com exames complementares, recomendamos rever a apresentação que nosso superintendente executivo, Luiz Augusto Carneiro, fez no Seminário SINDHOSP e Grupo Fleury.
As novas regras para uso da telemedicina definidas na resolução 2.227/2018, do Conselho Federal de Medicina (CFM), devem entrar em vigor em 90 dias (em maio), mas já estão levantando debates acalorados. Parte deles porque, ao mesmo tempo em que a resolução foi publicada no Diário Oficial da União, o CFM abriu uma consulta pública de 60 dias para receber sugestões de aprimoramentos das normas.
Outro ponto importante do debate é a tese, defendida por ao menos 9 Conselhos Regionais de Medicina (CRM) que a resolução irá afastar os profissionais de saúde dos pacientes. Conforme mostra reportagem do jornal O Tempo.
Para nós, antes de afastar pacientes e médicos, a tecnologia irá proporcionar maior contato, inclusive auxiliando pessoas que, de outro modo, teriam muita dificuldade em passar por uma consulta. Vamos explicar.
É fato que o teleatendimento já é usado hoje em dia, e um levantamento recente da Abramge, destacado em reportagem do O Globo, indica que a tecnologia reduz 30% das idas ao pronto-socorro. Antes de acreditarmos que a telemedicina afastou os pacientes dos profissionais, vemos que as pessoas passaram por uma consulta e tiveram seu problema sanado sem a necessidade de ir ao pronto-socorro – a que ainda teriam ido se continuassem se sentindo mal. Vale ressaltar, o pronto-socorro é mal utilizado no Brasil, sendo procurado por pacientes que deveriam estar em consultas com clínicos gerais ou especialistas ao invés de procurando um serviço que é vocacionado para o atendimento de emergências. Claro, cabe aí um mea culpa, já que faltam programas – ou divulgação de programas – que eduquem a população sobre qual o melhor caminho a se seguir para acessar os serviços de saúde de acordo com cada caso.
Outro exemplo de proximidade, este bastante obvio, é a quantidade de pessoas que teriam que viajar horas para ter uma consulta com um médico e, agora, com o auxílio da tecnologia, podem se consultar de forma muito mais rápida e prática. Infelizmente, não temos números para indicar, mas em um País de proporções continentais e disparidade socioeconômicas como o nosso, não é difícil imaginar que milhares (se não milhões) de pessoas se beneficiariam da adoção de telemedicina em uma escala mais elevada.
E tudo isso analisando a questão apenas pela ótica de possibilitar maior contato entre paciente e médico. Se considerarmos a questão econômico-financeira, então, há ainda mais argumentos a favor da tecnologia.
Como já nos estendemos bastante, hoje vamos apenas recomendar a leitura do post “Teleodontologia reduz despesas e melhora acesso”, que detalha um estudo trazido pelo 19° Boletim Científico em dezembro de 2017. Ou seja, há mais de um ano já temos estudos sobre experiências internacionais que apontam benefícios da telemedicina tanto do ponto de vista do acesso quanto econômico. Outro dia nos aprofundaremos sobre o assunto.
No começo desta semana, falamos um pouco sobre como a tecnologia está avançando e trazendo novidades para o setor de saúde. Os exemplos que apresentamos aqui no Blog, contudo, são projetos apresentados na maior feira de tecnologia do mundo, a Consumer Eletronics Show (CES), e estão longe de chegarem ao mercado, ao menos de forma ampla e capaz de auxiliar milhares de pessoas.
Há, entretanto, tecnologias que têm avançado rapidamente nos últimos anos e já se tornaram presentes no dia a dia de milhões de pessoas e prometem trazer novidades para o setor muito antes.
Mesmo que você ainda não use, já deve ter visto ou ouvido alguém conversando com a Siri, Cortana, Alexa, a assistente do Google ou algum outro tipo de Inteligência Artificial (AI, na sigla em inglês). Estes dispositivos estão ganhando cada vez mais espaço e deixando os celulares para assumir novos lugares em nossas casas e nossas vidas. A forma mais comum é de um smart speaker, uma caixa de som inteligente, conectada à internet que responde a comandos de voz.
Segundo a Amazon, produtora da Alexa, mais de 40 milhões de residências no mundo já contam com o produto. A expectativa da empresa é vender 100 milhões de unidades até o fim de 2019. Levou 30 anos para o número de aparelhos celulares superar o de pessoas na Terra, mas segundo uma pesquisa recente da Ovum, uma empresa de pesquisa sobre tecnologia nos Estados Unidos, a mesma marca deve ser atingida pelos smart speakers até 2021, menos da metade do tempo.
Para a área de saúde, esse avanço representa uma grande oportunidade na medida em que as pessoas estarão ainda mais conectadas e utilizando recursos de voz para se comunicar. Apenas para nos mantermos no exemplo da Alexa, a Amazon já tem previstos programas de questionário médico para ajudar com diagnóstico, agendamento de consultas e exames, lembretes para o uso correto de medicação, compra e entrega de medicamentos, teleatendimento, aconselhamento para adoção de hábitos mais saudáveis e até terapia 100% online.
Sem dúvida, estamos longe de conhecer todo o potencial desta tecnologia, mas nos parece inegável que questões como a Internet das Coisas, monitoramento e mesmo atendimento remoto estão avançando não para a palma da mão em apps para celulares e tablets, mas para recursos ainda mais inteligentes, ativados por voz por meio de assistentes digitais inteligentes.
Nós, certamente, vamos acompanhar de perto o desenvolvimento deste maravilhoso mundo novo!
Ah, se você quiser saber mais sobre o avanço dessas tecnologias, a The Atlantic, revista americana com mais de 160 anos, tem um artigo bastante interessante e completo sobre o assunto. Infelizmente, ele só está disponível em inglês. Mas, claro, com a tecnologia disponível hoje, até isso não é mais um empecilho.
A maior feira de tecnologia do mundo, a Consumer Eletronics Show (CES), acabou de acontecer em Las Vegas (EUA). Celulares, TV, veículos, drones e todo tipo de avanços tecnológicos costumam ser anunciados por lá, mas este ano uma das estrelas foi um segmento bastante conhecido por nós: a saúde.
Como já falamos aqui, a Internet das Coisas e aplicativos já estão trazendo grandes avanços para saúde das pessoas e a tendência é de que o movimento se aprofunde e as integrações sejam cada vez mais naturais. E a CES 2019 trouxe diversas novidades nesse sentido.
Além de novos avanços em weareables, como são conhecidos relógios, óculos e outros equipamentos tecnológicos que monitoram desde batimento cardíaco e pressão até a postura ao longo do dia, algumas novidades foram gigantes como investimentos em soluções para pessoas com dificuldade de locomoção.
Medidores portáteis de poluição, raios ultravioletas e outras variáveis prometem ajudar a monitorar o ambiente e disponibilizar informações por meio de apps de celular, auxiliando pessoas a evitar ambientes nocivos para sua saúde.
Ainda pensando no avanço feito na indústria de telecomunicações, empresas estão aproveitando os novos designs de fones de ouvidos de celulares para repensar os aparelhos auditivos. Uma solução tanto para reduzir o custo de produção quanto para combater o estigma dos aparelhos tradicionais, umas das principais barreiras para sua utilização.
Para saber mais novidades, vale ler a reportagem “Indústria da tecnologia investe em soluções para melhorar a saúde”, do jornal O Globo.
Já dissemos em diferentes oportunidades como o avanço da tecnologia impacta diretamente nos serviços de saúde em todo o mundo. Mais do que tendência, as diferentes tecnologias empregadas na assistência já são uma realidade em diversos países para diferentes finalidades. Já falamos, por exemplo, da frequência, eficiência e economia no uso do Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP) nos Estados Unidos aqui ou ainda sobre como o recebimento de exames por meios digitais facilita a vida de pacientes, médicos e clínicas em outra publicação.
O artigo “Cost savings from a teledentistry model for school dental screening: an Australian health system perspective” (Modelo de teleodontologia na triagem escolar como forma de redução dos gastos: uma perspectiva do Sistema de saúde na Austrália) publicado na 19º edição do Boletim Científico, busca avaliar os custos deste serviço nas escolas do país em relação ao modelo tradicional de assistência bucal oferecido hoje em dia.
Para contextualizar, o Serviço Odontológico Escolar australiano fornece o atendimento odontológico gratuito ou de baixo custo para crianças em idade escolar. Entre 2013 e 2014, a despesa nacional total em cuidados dentários na Austrália aumentou de US$ 6 para US$ 9 bilhões, sendo 60% desses gastos estimados como despesa out-of-pocket (desembolso direto pelos indivíduos).
O trabalho analisou os custos fixos e variáveis do tratamento num período de 12 meses dos dois modelos de triagem dentária para todas as crianças em escolas (2,7 milhões de crianças) de 5 a 14 anos. A análise de custo envolveu remuneração da equipe, o custo de deslocamento, custo de hospedagem, além do material utilizado.
Como esperado, o estudo apontou uma redução significativa nos gastos com a aplicação de teleodontologia. O custo estimado foi de US$ 50 milhões, compreendendo custo fixo da educação em teleodontologia de US$ 1 milhão e os salários de pessoal (tele-técnicos, supervisores, bem como o suporte à tecnologia da informação), que somam os outros US$ 49 milhões. A redução de custos com salários nesse novo modelo foi de US$ 56 milhões e em relação às despesas com a viagem e material foram de US$ 16 milhões e US$ 14 milhões, respectivamente, uma redução anual de US$ 85 milhões no total.
Esta é uma solução que pode ser aplicada não só no país do estudo, mas em âmbito global e também em outras áreas da saúde. A redução dos custos com viagem e hospedagem, além da melhora e do aprimoramento na verificação de exames e rapidez no encaminhamento para outros profissionais especializados, pode ser usada, por exemplo, em áreas rurais ou de difícil acesso. Essa redução de custos garante a possibilidade de investimento em outras áreas da saúde.
Não é de hoje que falamos que a questão da adoção de novas tecnologias em saúde é um dos temais mais latentes do setor, já que é um dos principais fatores que impulsionam os custos de saúde em todo o mundo. Exatamente por isso, o assunto já foi tema do Seminário IESS e diferentes publicações aqui no blog.
Na saúde suplementar brasileira, esse assunto é especialmente grave. Mesmo que haja discussões sobre os estudos de custo e efetividade da adoção de diferentes tecnologias, a utilização da Avaliação das Tecnologias em Saúde (ATS) ainda é embrionária e depende do que está sendo feito no setor público.
Devido à grande importância, esse tema também foi destaque entre os vencedores do VII Prêmio IESS de Produção Científica em Saúde Suplementar. O trabalho “Aplicação de Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS) na tomada de decisão em hospitais” foi ganhador do 2ª lugar na categoria “Promoção da Saúde” e buscou analisar os métodos de ATS na tomada de decisão em hospitais vinculados à REBRATS (Rede Brasileira de Avaliação de Tecnologias em Saúde). A pesquisa foi desenvolvida por Fernando de Rezende Francisco para obtenção do mestrado na Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas.
Por meio de entrevistas com gestores de onze núcleos de ATS (NATS) estruturadas com base nos princípios de boas práticas de ATS em hospitais, a pesquisa apontou que a avaliação ainda é aplicada de maneira incipiente na tomada de decisão. Segundo o trabalho, ainda não há clareza sobre como a produção e difusão dos estudos de ATS têm realmente influenciado a tomada de decisão por parte dos hospitais. Sendo assim, uma série de ações estratégicas são fundamentais para o bom desempenho dos núcleos na incorporação e desincorporação de tecnologias em saúde.
Segundo o autor, o Brasil já possui estrutura para o trabalho dos Núcleos de Avaliação de Tecnologias em Saúde. No entanto, ainda há espaço para seu fortalecimento com uma maior clareza na definição da necessidade de cada um desses núcleos, como por exemplo, considerar as especificidades locais das diferentes regiões do país.
A incorporação de novas tecnologias é um dos temas mais latentes para os sistemas de saúde. Exatamente pelo impacto no setor, este também é um dos assuntos mais recorrentes aqui no blog, eventos do IESS e em estudos, como o TD 56 – A avaliação das tecnologias em saúde e as suas incorporações no sistema de saúde nacional e em internacionais. A adoção de novas tecnologias é um dos principais fatores que impulsionam os custos de saúde e impactam a vida de pacientes no mundo todo e daí a importância de se repercutir o tema com diferentes iniciativas.
Ainda pouco discutido, no entanto, é a participação do paciente em todo o processo de incorporação de novas tecnologias. Por mais que alguns países tenham esforços para integrar o envolvimento do paciente nos processos de Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS), este ainda é um novo debate na área e alguns países ainda estão apenas iniciando esta discussão.
Exatamente por isso, o artigo “Why patients should be involved in health technology assessment” (Porque os pacientes devem ser envolvidos na avaliação da tecnologia da saúde) publicado na 19º edição do Boletim Científico tem o objetivo de apresentar os aspectos que justificam esta necessidade.
Os autores elencam algumas perspectivas para isso. A primeira diz respeito aos direitos dos pacientes, já que eles merecem uma voz nos planejamentos de saúde. A segunda aponta que os princípios do tratamento precisam estar de acordo com valores morais do paciente e da comunidade. A terceira fala exatamente da perspectiva do paciente, com sua percepção única do que é viver com condições e patologias específicas. Por fim, a quarta aponta que o envolvimento deste participante na cadeia de saúde facilita o avanço metodológico da ATS, em especial para áreas cujo o conhecimento científico ainda é recente.
Pelo seu alto impacto em toda o sistema, a discussão sobre a Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS) tem que fazer cada vez mais parte da rotina de debates do setor, favorecendo a tomada de decisão e envolvendo os diferentes agentes desta cadeia de valor, sejam pacientes, formuladores de políticas e profissionais de saúde.
A incorporação de novas tecnologias é um dos temas mais sensíveis para o setor de saúde. Por isso, é um dos assuntos que mais buscamos analisar aqui no blog, em estudos como o TD 56 – A avaliação das tecnologias em saúde e as suas incorporações no sistema de saúde nacional e em internacionais – e eventos como o Seminário Incorporação de Tecnologias na Saúde.
Este também é o foco do trabalho “Hospital based health technology assessment in Brazil: an overview of the initial experience” (Avaliação de tecnologias em saúde em hospitais brasileiros: uma visão geral da experiência inicial), publicado no 19º Boletim Científico, que mostra como esta prática é indispensável na gestão dos sistemas de saúde.
A pesquisa buscou avaliar a produção científica, os desafios e as características de vinte e três Núcleos de Avaliação de Tecnologia (NATs), entre os anos de 2011 e 2012. Para tanto, foram feitas entrevistas com membros dos conselhos destes núcleos localizados em todas as regiões do Brasil. Destes, 65% pertenciam a instituições de ensino, sendo 44% associados a universidades federais. A maior produção foi dos centros no Sudeste e Sul do país.
Alguns fatores foram encontrados em comum na literatura produzida pelos núcleos, como disparidades regionais na carga de trabalho, produção e treinamento técnico. Além disso, os grandes entraves apresentados pela maioria dos centros como limitador da atuação foram a falta de experiência e os baixos níveis de treinamento avançado para a avaliação de tecnologias em saúde (ATS).
A adoção de novas tecnologias é um dos principais fatores que impulsionam os custos de saúde no mundo todo e daí a importância de trabalhos como este, que apontam para a necessidade de investimentos na educação continuada de profissionais que trabalham em hospitais para a produção de trabalhos relevantes sobre ATS.
O estudo “Electronic health records and the frequency of diagnostic test orders” (“Prontuário Eletrônico do Paciente e a frequência de solicitações de exames de diagnóstico”), publicada no 18º Boletim Científico, analisa a frequência, eficiência e economia no uso do Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP) nos Estados Unidos.
De acordo com o estudo, em 2005, foi estimado que o uso do PEP melhoraria a qualidade, a relação custo-eficácia e a eficiência de serviços de saúde, além de economizar cerca de US$ 81 bilhões por ano. Contudo, em 2012, após uma reavaliação, foi constatado que ao invés de diminuir os custos em saúde, houve um aumento de mais de US$ 800 bilhões.
Com os dados disponíveis em âmbito nacional nos Estados Unidos, foi descoberto que os médicos que detinham acesso ao PEP solicitaram mais testes do que os que não empregavam o sistema, assim como aqueles que usavam ativamente este tipo de prontuário também solicitavam exames mais completos de hemogramas do que os que não usavam, mesmo depois de ajustes para a demografia do paciente, estado de saúde e mix de casos.
Os profissionais de saúde que utilizavam o PEP solicitavam mais tomografias computadorizadas e raios X, enquanto que a relação do uso de ressonâncias magnéticas não foi significativa. Assim acredita-se que o acesso computadorizado simplifica o processo de solicitar exames levando a uma maior frequência de pedidos.
Dessa forma, conclui-se que a adoção do PEP, por si só, não é suficiente para produzir os ganhos de eficiência previamente almejados. A melhor eficácia dos sistemas de PEP deve ser buscada na melhora dos processos organizacionais e com a complementação por modelos de cuidados que dão ênfase na qualidade, valor e eficiência dos serviços e exames. Uma outra análise pode apontar, inclusive, que os testes extras possuem efetiva utilidade clínica.
O artigo mostrou que ainda há uma série de análises e complementos que devem ser estudados para a maior efetividade do PEP. Quer saber sobre o seu emprego no Brasil? Então não deixe de ler nosso post “Transição para prontuário eletrônico está associada a melhora de atendimento dos pacientes”.