Em todo o mundo, as pessoas estão vivendo mais e as populações mundiais estão envelhecendo. A Organização Mundial de Saúde estima que haja 2 bilhões de idosos no mundo em 2025. Em 2000, havia 605 milhões. Em 15 anos o Brasil será o sexto país no mundo em número de idosos. Essas são ótimas notícias.
Mas este fato deve ser acompanhado por uma série de adaptações da sociedade. Uma das questões mais relevantes a ser enfrentada é que o idoso, por causa das doenças típicas da idade, tem uma despesa maior com a saúde, justamente quando sua renda é menor.
Por isso, cada vez mais, é imprescindível que a pessoa se preocupe com a saúde ainda na juventude, para que tenha uma velhice com mais qualidade de vida, e se previna financeiramente, para que tenha como arcar com este aumento de custo inerente à idade.
Além disso, o avanço da tecnologia está cada vez mais rápido. A sua incorporação, associada ao maior desenvolvimento de habilidades por parte dos cirurgiões, tem trazido mudanças na forma de abordagem e tratamento de determinadas patologias, oferecendo vantagens flagrantes na qualidade de vida do paciente. No entanto, este benefício também eleva os custos.
Como a população está envelhecendo e todos irão querer usufruir destes benefícios, gastaremos frações crescentes da renda com saúde. Como será financiada essa despesa crescente, especialmente a dos idosos daqui a 40 anos? Uma proposta que vem sendo estudada pelo IESS, Instituto de Estudos de Saúde Suplementar, é a constituição de Previdência em Saúde. A ideia é poupar quando ainda se é jovem para garantir um fundo que financie suas despesas com saúde no futuro. Além da mensalidade do plano para coberturas de doenças no presente, o segurado guarda outra parte em uma poupança, que poderá ou não ser usada com a saúde, mas que, se for, terá benefícios tributários.
Melhor ainda é se este plano tiver um sistema de franquia, em que os primeiros reais das despesas com consultas, exames ou qualquer outro procedimento são cobertos pelo beneficiário, e as despesas acima do valor da franquia são cobertas pelo plano de saúde. Este arranjo é muito atrativo para aqueles que querem se proteger contra as doenças ditas catastróficas (aquelas cujo tratamento pode levar à ruína as finanças da família), com uma mensalidade mais baixa.
Neste caso, se o beneficiário for consciente, ele usará o plano de saúde na medida certa para ficar saudável, mas sem desperdícios, para que sua poupança fique protegida.
Os chamados "planos orientados pelo consumidor" são produtos que incentivam o beneficiário a assumir maior responsabilidade sobre a tomada de decisão quanto ao uso dos recursos da medicina e de seus recursos financeiros próprios.
Este conceito de planos, atualmente não contemplado na legislação brasileira, nasceu em Cingapura na década de 80 e foi sendo aperfeiçoado até chegar ao modelo atual, que tem obtido boa adesão nos EUA. Por suas características e incentivos, pode-se esperar que tais planos ajudem a enfrentar o desafio de financiamento da saúde dos idosos.
O modelo vigente no país exige um cenário de comprometimento cada vez maior da renda para gastos em saúde, tanto de impostos como a dos indivíduos. O valor pago pelos beneficiários de planos de saúde é reajustado paulatinamente a cada mudança de faixa etária, e o indivíduo precisa estar preparado. Incentivar um comportamento prudente da sociedade e apresentar as alternativas para o planejamento financeiro de longo prazo fazem parte da mudança cultural necessária para enfrentar as mudanças no padrão de consumo decorrente do envelhecimento da população e consequente crescimento das despesas médico-hospitalares.
Autor: José Cechin - Superintendente Executivo do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) e ex-Ministro de Estado da Previdência e Assistência Social.