Acompanhamos hoje (24), o “Encontro sobre os Novos Projetos da Diretoria de Desenvolvimento Setorial”, realizado pela ANS no Rio de Janeiro. Um dos debates mais importantes se desenvolveu no painel sobre o redesenho da prestação e da remuneração dos serviços na atenção ao idoso. Na oportunidade, foi lançado o projeto “Idoso bem cuidado”, que propõe uma nova abordagem à assistência ao idoso.
Esse é um tema importante e que temos apresentado diversos estudos e análises desde 2012. Já naquele ano, apresentamos, em evento em São Paulo, projeções sobre o impacto do envelhecimento na saúde suplementar, na saúde pública e na previdência. Também apresentamos, em 2013, um estudo analisando o impacto de forma integrada em todo o sistema de saúde. Ainda em 2013, divulgamos uma atualização das projeções de gastos com saúde por conta do envelhecimento e deveremos retomar esse tema nas próximas semanas.
Algumas das teses que defendemos desde 2012 começam, finalmente, a ganhar corpo no mercado brasileiro de saúde. Nas últimas semanas, o ministro Ricardo Barros, por exemplo, vinculou o debate do financiamento à saúde ao contexto de reequilíbrio de contas da Previdência Social. Essa análise de que saúde e previdência são indissociáveis, como forma de manter as contas públicas equacionadas em meio a um processo de mudança demográfica, é uma visão bastante madura sobre o tema. Possibilita, também, delinear qual pode ser, e como se financia, a saúde suplementar brasileira a partir do ciclo de envelhecimento populacional.
O que vimos também no debate da ANS, hoje, foi um alinhamento muito significativo às propostas que temos defendido para garantir a sustentabilidade econômica, financeira e assistencial da saúde suplementar. O projeto assistencial a idosos apresentado pela agência reguladora promete, entre outras iniciativas, desenvolver indicadores de qualidade de operadoras e, principalmente, prestadores de serviços não hospitalares. A nosso ver, em algum momento, os serviços hospitalares também farão parte da agenda de qualidade, o que inclui clínicas, laboratórios e fornecedores de insumos médicos.
Outro ponto amplamente defendido pelos debatedores envolveu a modernização dos modelos de remuneração de prestadores de serviços, reduzindo, principalmente, o peso do fee-for-service e evoluindo para métodos que premiam a eficiência, a resolução clínica e, principalmente, privilegiam a qualidade assistencial ao paciente, combatendo também o desperdício. Temos alertado sobre a importância do modelo DRG (Diagnosis Related Groups). No debate, mencionou-se a adoção do bundle payment e do pay-for-performance. Nos dois casos, isso envolveria a aplicação do DRG. Para saber mais sobre o DRG, leia o TD-54, que analisa custos e qualidade do DRG para serviços hospitalares, e as apresentações feitas pela PwC, em eventos do IESS, sobre a experiência internacional na aplicação do DRG e um estudo de caso da aplicação do método na África do Sul.
O modelo proposto pela ANS procura analisar a saúde do idoso de forma integral, com ênfase também no atendimento primário. Essa é uma abordagem muito interessante e que, quem sabe no futuro, poderia também ser sugerida não só para idosos, mas para todos os beneficiários.
O Brasil conta com 6,6 milhões de beneficiários de planos de saúde com 59 anos ou mais, segundo números da ANS referentes a dezembro de 2015. O que representa 13,2% dos 49,7 milhões de beneficiários. Muito se fala que idosos não conseguem contratar planos de saúde ou que, ao passar dos anos, são “expulsos” do sistema. Os números desmentem tal crença e, portanto, esse é um mito a ser desmistificado.
Em 2007, havia 4,7 milhões de beneficiários com 59 anos ou mais. O que representava 12% de um universo de 39,3 milhões vínculos. De lá para cá, o total de beneficiários idosos aumentou 39%, enquanto o total de beneficiários, considerando todas as faixas etárias, avançou 26,5%. Ou seja, a proporção dos idosos cresce. E esse crescimento se justifica por duas razões: novas contratações de planos feitas por idosos e processo de envelhecimento populacional, o que, obviamente, resulta em mudanças de faixa etária entre aqueles que já possuem o plano.
Em 2015, enquanto o mercado de planos de saúde registrou redução de 1,5% no total de beneficiários, o número de vínculos da terceira idade aumentou 2,8%. Foram mais de 181 mil novos vínculos, resultado, insistimos, de novas contratações e de migrações de faixa etária.
Para quem quiser saber mais, os números estão no IESSdata. Basta selecionar, pela ordem: Dados de Saúde / Beneficiários de Planos Médico-Hospitalares, Período 2007 a 2015, Periodicidade Anual, Seleção / Detalhada / 59 anos ou mais, Regiões / Total e Aplicar.