Lançado esta semana durante o Seminário Internacional “Qualidade Assistencial e Segurança do Paciente em Serviços de Saúde”, o 2° Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil, produzido pelo IESS e pelo Instituto de Pesquisa Feluma, da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais traz números alarmantes acerca da assistência em saúde no Brasil.
Nós já falamos aqui no Blog que a publicação mostra que os hospitais públicos e privados do Brasil registraram, em 2017, seis mortes, a cada hora, decorrentes dos chamados “eventos adversos graves”, ocasionados por erros, falhas assistenciais ou processuais ou infecções, entre outros fatores. Outro fator importante apontado pela publicação é que esses eventos consumiram R$ 10,6 bilhões apenas do sistema privado de saúde no período analisado.
Além das vidas perdidas por eventos adversos e dos pacientes que tiveram sua recuperação ou sua qualidade de vida afetada, esse problema ainda determina um elevado impacto em leitos-dia para o sistema de saúde brasileiro, uma vez que essas situações também refletem no tempo de recuperação dos pacientes. Impedindo que mais pacientes sejam atendidos.
De acordo com o estudo, cada evento adverso grave determina a extensão do período de internação em média em 14,4 dias (16,4 dias para pacientes no SUS e 10,5 dias para pacientes na rede privada).
Com isso, ao longo de 2017, foram consumidos 14,3 milhões de leitos-dia em função de eventos adversos. Sendo 4,7 milhões em razão de eventos adversos graves. O estudo mostra que o tempo de internação entre os pacientes que não passaram por evento adverso é de 6 dias para o SUS e 3,5 dias para a rede privada. Portanto, seria possível atender aproximadamente mais 7,7 milhões de pacientes (2,9 milhões relacionados a eventos adversos gerais e mais 4,7 milhões relacionados a eventos adversos graves) sem aumentar os gastos ou ampliar a rede.
Contando com 165,9 milhões de leitos-dia em 2017, o país utilizou apenas 96,6 milhões, ou seja, uma ociosidade de 41,8%. Sendo assim, é importante que o sistema esteja focado nas internações em centros de excelência maiores para racionalizar os recursos, reduzir custos e concentrar profissionais qualificados em ambientes com maior controle de processos, ao invés de distribuir leitos por todas as cidades. Isso certamente contribui para a diminuição da ocorrência de eventos adversos.
O 2° Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil foi calculado com base em uma amostra de 456.396 pacientes internados em hospitais da rede pública e privada ao longo de 2017. Os dados foram coletados junto a instituições localizadas em municípios de grande porte e com IDH acima da média nacional. Com isso, é possível que os números nacionais sejam maiores do que os encontrados.
Confira a publicação na íntegra.
Publicado na última sexta-feira (27) no Diário Comércio Indústria & Serviços (DCI), artigo de autoria da advogada Caroline Santos aponta a necessidade de os setores de saúde investirem na prevenção, com foco em melhores práticas antes do paciente precisar utilizar os serviços hospitalares.
Para isso, a especialista apresenta os dados do primeiro Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil, produzido por nós e pela Faculdade de Medicina da UFMG, que aponta a morte de 829 brasileiros por dia em decorrência de condições adquiridas nos hospitais – causadas por eventos adversos.
Segundo ela, a sustentabilidade hospitalar está diretamente relacionada com a mitigação dessas falhas. Vale lembrar que outra questão que merece ser observada é o custo gerado por essas situações. O anuário projeta que, em 2016, os eventos adversos consumiram R$ 10,9 bilhões de recursos que poderiam ter sido melhor aplicados, apenas na saúde suplementar brasileira.
Além disso, o artigo apresenta outra estatística alarmante. Segundo a advogada, nos últimos 10 anos, houve aumento de 1600% nos processos por erro médico. “Enquanto a saúde não for prioridade no país, a judicialização não irá diminuir”, aponta Caroline. Como já mostramos, esse é um ponto de enorme importância dentro dos sistemas de saúde. Em oposição à política pública de saúde, a decisão judicial é geralmente motivada pelo benefício individual, e, assim, perde-se de vista o bem-estar social.
Tendo em vista, como aponta o artigo, que “os eventos adversos acontecem por falta de emprego de políticas de segurança do paciente”, da necessidade latente de melhor atuação para a padronização de procedimentos hospitalares e adoção de indicadores de qualidade e segurança do paciente realizaremos, no próximo dia 15 de agosto, o Seminário Internacional - Qualidade Assistencial e Segurança do Paciente em Serviços de Saúde.
As inscrições para o evento são gratuitas, mas as vagas são limitadas! Conheça a programação completa e faça sua inscrição aqui.
Publicado hoje (22/05) na Folha de S. Paulo, reportagem de Cláudia Collucci sobre a internação de um familiar traz dados do Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil, produzido por nós e pela Faculdade de Medicina da UFMG, que aponta dados alarmantes na qualidade assistencial.
No texto intitulado “Bastam algumas horas à beira do leito para observar riscos em hospitais”, a jornalista conta como os três dias acompanhando o pai no hospital foram suficientes para identificar uma série de falhas em procedimentos que podem trazer graves complicações para os pacientes.
As falhas na assistência apontadas pela reportagem foram de diferentes tipos – desde um possível banho ao paciente que deveria estar imóvel durante três dias até a troca da medicação e uma quase queda. A natureza delas, no entanto, tem causas conhecidas, como já lembramos em diferentes momentos. “Enfermagem sobrecarregada, falta de prontuário eletrônico, sistema de informação precário, entre outros problemas, explicam boa parte dessas falhas que podem comprometer a segurança do paciente”, aponta Collucci.
A jornalista fala que, nesse período, lembrou-se da pesquisa que publicamos no último ano. “O estudo cai como uma luva nesse contexto”, comenta. “Os eventos adversos em saúde não são privilégio do Brasil ou de instituições específicas (por isso, não faz sentido nomeá-las). Ocorre que estudos internacionais apontam que eles são evitáveis em cerca de 60% dos casos”, continua a colunista.
Como bem lembra a reportagem, os erros não devem ser personalizados para determinados profissionais, mas são das instituições e ainda exige um longo caminho para melhoria. É necessário, portanto, a ampliação da discussão sobre os eventos adversos em instituições de saúde para que se amplie a transparência, o uso e divulgação de indicadores de qualidade que garantam a segurança do paciente. “Não temos informações sobre o índice de infecção hospitalar ou de reinternação daquela instituição. É comum observar nos hospitais quadros com listas de recomendações para um cuidado mais seguro, mas bastam algumas horas na beira do leito para perceber que ainda há uma enorme distância entre a teoria e a prática”, conclui a reportagem.
Apenas uma ressalva deve ser feita, já que a coluna utiliza dados de 2015. A mais recente edição do Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil, com dados de 2016, mostra que a cada 5 minutos, 3 brasileiros morrem nos hospitais por falhas que poderiam ser evitadas. Confira o estudo na íntegra.