Acabamos de divulgar a atualização do Índice de Variação do Custo Médico-Hospitalar (VCMH) que registrou alta de 16,9% nos 12 meses encerrados em março de 2018. Assim como tem ocorrido nos últimos anos e ao longo da série histórica do índice, o crescimento foi muito superior à oscilação da inflação geral do País, medida pelo IPCA, que registrou aumento de 2,7% no mesmo período.
Houve menor intensidade de aumento do VCMH/IESS no período analisado em relação ao mesmo período de 2017, quando a alta foi de 19,4%. A principal hipótese para explicar o comportamento do indicador está no esforço das operadoras de planos de saúde em promover programas de atenção primária e promoção da saúde aos beneficiários, incorrendo em redução de custos. Além disso, o setor de saúde suplementar pode estar apresentando indícios de melhoria a partir da aplicação de novos modelos de pagamento para a prestação de serviços de saúde, na busca por eficiência.
O aumento do índice VCMH foi impulsionado, principalmente, pelos itens de despesas de Internação e de Terapias. Apesar do item “Outros Serviços Ambulatoriais” ter apresentado a maior variação proporcional, de 27,4%, seguido por Terapias, cujo índice foi de 26,6%, esses dois itens ainda representam um peso menor na composição total das despesas. As internações, item que compõe a maior parte da variação de custo, com 61%, teve aumento de 16,7%. Consultas e Exames tiveram variação de 9,5% e 10,1%, respectivamente.
O avanço nos custos da saúde suplementar do Brasil se dá sob um grande volume de falhas de mercado, como de assimetria de informações na cadeia que compromete comparações e concorrência e não confere clareza nos critérios de formação de preços de insumos como materiais e medicamentos. A adoção de novas tecnologias sem a exigência de estudos de custo-efetividade e análise do sistema em absorver esse incremento de despesas é outro fator de pressão de custos.
Outro ponto importante decorre do fato de o Brasil passar por um processo de transição demográfica, com a maior participação de idosos no total da população, o que impacta diretamente na demanda de serviços de saúde, em especial de internações. Note-se que a faixa etária de idosos é a que mais cresce no mercado brasileiro de saúde suplementar.
No Brasil, o VCMH do IESS é o único índice do setor disponibilizado ao público, calculado de forma consistente há mais de dez anos, com base numa amostra de aproximadamente 10% do total de beneficiários de planos individuais e familiares de todas as regiões do país.
Continuaremos apresentando detalhes do índice nos próximos dias. Continue acompanhando.
Na última quarta-feira (18/4), aqui no Blog, lançamos o TD 69 – Tendências da variação de custos médico-hospitalares: comparativo internacional – e prometemos um especial com cinco posts sobre a Variação dos Custos Médico-Hospitalares (VCMH), os motivos para que o indicador apresente avanços constantes no Brasil e no mundo e mecanismos para combater esse crescimento.
Para começar, contudo, é fundamental deixar claro qual a diferença entre o índice VCMH e outros indicadores econômicos mais conhecidos, como o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA), que detecta a inflação geral do País. Basicamente, enquanto a inflação medida pelo IPCA avalia a variação dos preços de uma cesta de produtos, o VCMH varia em função tanto do aumento dos custos dos serviços de saúde quanto da frequência de utilização deles. Ficou claro? Provavelmente não...
Na prática, a diferença é a seguinte: se o IPCA aponta que o quilo da batata subiu 10%, ao invés de pagar R$ 2 pelo quilo do produto (o valor é apenas ilustrativo) você pagaria R$ 2,20; Se o preço abobrinha subiu 20% e o da berinjela caiu 5%, ao “fazer a feira” você provavelmente irá trocar um produto pelo outro e comprar o suficiente para alimentar sua família até que o preço dos produtos que vocês mais gostam voltem a um patamar usual. É a lei da oferta e da procura. Se as pessoas deixam de consumir um item, seu preço tende a cair; se muitas pessoas querem a mesma coisa, seu preço tende a subir.
Agora, imagine esse cenário no mercado de saúde. Se o custo do raio-X subir 10% e você precisa verificar se quebrou um osso ou confirmar uma suspeita de sinusite, vai deixar de fazer o exame? Pois é, não há como. Substituir também não costuma ser a saída mais eficiente, seja pelas particularidades de cada procedimento, muitas vezes específicos para o caso tratado, seja porque a alternativa costuma ser ainda mais cara. Apenas para ficar no exemplo dado, uma ressonância magnética da perna pode ter um custo mais de 5 vezes superior ao de um Raio-X, já um PET custa ao menos 4 vezes mais que a ressonância.
O mesmo vale para consultas, internações, outros exames, terapias e os demais serviços de saúde. E se substituir não é uma opção viável, deixar de usar o sistema de saúde nem pensar. Para completar, dado o envelhecimento populacional pelo qual estamos passando (para saber mais, consulte nossa área temática), a tendência é aumentar a utilização desses serviços, não diminuir.
Para entender a diferença do VCMH para o IPCA basta fazer um exercício de raciocínio bastante simples. Imagine um cenário em que o preço dos serviços de saúde não avance, mas a utilização deles sim. Por exemplo, vamos assumir que, em 2016, foram realizadas 1 milhão de consultas com o custo médio de R$ 100 e, em 2017, foram realizadas 1,1 milhão de consultas também com o custo médio de R$ 100. De acordo com a metodologia do IPCA, a variação nesse cenário é inexistente, já que o preço por consulta não oscilou. Já o VCMH registraria um aumento de 10% uma vez que o custo total para a realização desses procedimentos avançou de R$ 100 milhões (R$ 100 vezes 1 milhão de consultas) para R$ 110 milhões (R$ 100 vezes 1,1 milhão de consultas). Considerando que além da utilização do serviço, o custo da consulta também tivesse subido de R$ 100 para R$ 110, o IPCA iria registrar um aumento de 10%, já o VCMH apontaria alta de 21% uma vez que o custo total teria subido de R$ 100 milhões (como no exemplo anterior) para R$ 121 milhões (R$ 110 vezes 1,1 milhão de consultas).
A metodologia aplicada pelo IESS, no Brasil, para calcular a VCMH é amplamente reconhecida e adotada em diversos países ao redor do mundo. No TD 69, unimos os dados de três das principais consultorias que apuram o comportamento do VCMH (Aon Hewitt, Mercer e Willis Towers Watson), traçando, pela primeira vez, um panorama geral e integrado do indicador no mundo, ao invés da fotografia parcial capturada por cada um dos relatórios. Mas isso é assunto para amanhã. Não perca!