Quem nos acompanha periodicamente sabe que um dos temas que mais repercutimos na cadeia de saúde é a necessidade constante de ampliação da transparência. É com esse objetivo que fizemos diferentes estudos, publicações e eventos. Foi com isso em mente que realizamos o Seminário Internacional “Qualidade Assistencial e Segurança do Paciente em Serviços de Saúde”, que buscou incentivar a implementação de uma agenda nacional de indicadores para mensurar o desempenho da prestação de serviços de saúde no Brasil e estimular a troca de conhecimento e a aplicação de ações para a redução desse problema.
Exatamente por isso que ações nesse âmbito devem ser divulgadas. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) acaba de divulgar uma nova versão do seu guia de planos de saúde. Agora, a ferramenta inclui informações sobre a rede hospitalar credenciada para diferentes produtos. Ela também permite comparar na mesma tela do computador, lado a lado, diferentes pesquisas para quesitos como preço máximo de venda por faixa etária, cobertura, área de abrangência, tipo de acomodação (ambulatorial ou quarto), se tem franquia ou coparticipação. O guia conta com cerca de 17.500 planos médicos hospitalares e 4 mil planos odontológicos cadastrados, entre contratos individuais e coletivos, com venda ativa.
Importante passo para o fomento de mais acesso às informações por parte dos beneficiários, essa é a primeira atualização do guia desde o seu lançamento em 2009. A nova versão agora traz informações sobre o atendimento e ainda alerta para caso de empresas que estejam sob direção fiscal, por exemplo. Nós já mostramos aqui como funciona a regulação em caso de constatação de irregularidades por parte da ANS com a publicação do estudo “Regimes de Direção e de Liquidação Extrajudicial”.
Municiar o paciente de informações e fazer com que ele seja parte ativa em todo o processo traz maior eficiência e racionalidade para os serviços de saúde. “O maior objetivo do guia é empoderar o consumidor para que ele possa fazer a escolha mais adequada à sua necessidade. Além disso, esperamos incentivar a concorrência entre as empresas do setor”, contou Rogério Scarabel, titular da Diretoria de Produtos da ANS, para o Jornal O Globo. Além disso, a agência informou que o guia para contratação, em que as diferenças entre os contratos são explicadas, está disponível na área de “perguntas mais frequentes" na nova versão.
A participação mais ativa do beneficiário de plano de saúde no controle e promoção do seu próprio bem-estar é algo fundamental. Trazer o indivíduo para perto e promover sua atuação nas decisões relacionadas ao uso do plano é uma das bandeiras que sempre defendemos. Afinal, municiar o paciente de informações e fazer com que ele seja parte ativa em todo o processo traz maior racionalidade do uso dos serviços de saúde.
Como apontamos em diferentes momentos, esse é um dos pilares dos planos com coparticipação e franquia anual. Esses modelos têm sido repercutidos pela imprensa e sociedade nesta semana por conta da medida em análise final por parte da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que prevê a melhor regulamentação de novos produtos para o setor, como mostramos aqui.
Previstas desde 1998, as modalidades de franquia e coparticipação ainda carecem de regras específicas para maior utilização. Se os planos com coparticipação têm apresentado leve aumento nos últimos anos, isso não pode ser afirmado no que diz respeito ao modelo de franquias, que ainda não é adotado na prática.
Como mostramos, amplamente utilizados em sistemas internacionais de saúde, estas modalidades podem fazer com o que o beneficiário seja mais consciente no uso de seu plano de saúde evitando procedimentos desnecessários e mais criterioso com os diferentes serviços.
Para se ter uma ideia, estudo publicado na 13° Boletim Científico IESS mostrou que a expansão de novas modalidades de planos nos Estados Unidos representou uma redução entre 5% e 15% no total de despesas com saúde em comparação aos planos tradicionais. Para o sistema norte-americano, isso significa economia de US$ 57 bilhões ao ano.
Com diferentes iniciativas para aproximar o beneficiário da gestão de sua própria saúde, como o projeto “Sua Saúde: Informe-se e Faça Boas Escolhas”, a melhor regulação desses produtos representará novo avanço por parte do órgão regulador no anseio do empoderamento do beneficiário.
Fica, portanto, o desafio. É importante a correta e maciça comunicação sobre as novidades ao consumidor para que ele saiba não só os custos dos diferentes procedimentos e como isso influencia na sua mensalidade, mas também sobre os benefícios dos procedimentos para a sua saúde.
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Na vida, estamos sempre comparando. Quando vamos comprar um carro, comparamos preços, design, segurança, tecnologia oferecida, economia de combustível... O mesmo vale na aquisição de um apartamento, quando decidimos nos hospedar em um hotel e, de uma forma mais ampla, em qualquer contratação de serviços. Por que, então, quando falamos de saúde isso deveria ser diferente?
A resposta, obviamente, é que não deveria.
Acontece que no Brasil não há métricas adequadas para aferição de qualidade de prestadores de serviços de saúde que permitam a correta comparação entre os concorrentes. Especificamente no segmento de saúde suplementar, a comparação é possível porque a ANS oferece uma série de indicadores de avaliação das operadoras: Dados dos Planos e Operadoras, Monitoramento da Garantia de Atendimento, Programa de Qualificação de Operadoras e Índice de Reclamações, entre outros.
No caso de prestadores, infelizmente, não temos como comparar se as melhores práticas recomendadas são exercidas em nossa região ou pelos prestadores que fazem o atendimento do nosso plano. Faltam critérios e indicadores de qualidade e de performance para mensurar a performance e diferenciar prestadores de serviço (médicos, clínicas, laboratórios e hospitais). Seja para recompensar a eficiência e o melhor desfecho clínico, seja para penalizar desperdícios. Muito da reputação dos prestadores advém de fatores como acreditação e percepção de qualidade dos pacientes, mas, efetivamente, não se tem informações, por exemplo, da quantidade de eventos adversos ocorridos em um hospital ou de qual é o porcentual de infecções considerando o volume global de atendimentos.
Independentemente do porte ou da localização do prestador, essa informação não está disponível. Mas isso não precisa ser assim. A agenda da transparência é crucial para o setor.
Nos Estados Unidos, apenas para dar um exemplo, é possível pesquisar hospitais por nome ou região (cidade, estado etc.) e comparar seus resultados aos demais concorrentes, ou mesmo do País, em mais de 60 quesitos. Por exemplo: é possível conhecer com que frequência um hospital é procurado para tratar doenças do coração, pneumonia, asma ou uma série de outras doenças; quais os índices de readmissão, infecção hospitalar e mortalidade; valores cobrados por procedimentos; e muito mais.
Tudo isso de forma rápida e fácil, na internet, para que qualquer pessoa possa fazer comparações a qualquer momento, onde quer que esteja e, em caso de necessidade, contar com critérios claros para a tomada de decisão. Esse poder de decisão ao paciente é um dos principais fatores para a melhoria do sistema de saúde.
Uma dessas ferramentas disponíveis é o Hospital Compare, mantido pelo governo como parte do Medicare; outra, o The Leapfrog Group, mantido pela iniciativa privada. As próprias seguradoras nos EUA mantém uma estrutura de captação de informações totalmente independente para prover o paciente com a máxima informação disponível.
A ideia de empoderar o paciente para que ele possa escolher onde quer ser tratado e como implementar esses sistemas no Brasil estará entre os temas do seminário internacional "Indicadores de qualidade e segurança do paciente na prestação de serviços na saúde", que realizaremos dia 26 no Hotel Renaissance, em São Paulo. Não perca a chance de debater o assunto com um dos maiores especialistas mundiais, Matt Austin, pesquisador e professor da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins e supervisor científico de Pesquisa Hospitalar do The Leapfrog Group. As inscrições são gratuitas, mas as vagas são limitadas.
Não temos dúvidas de que, se o sistema de produção de indicadores de qualidade for estabelecido e tornado público no Brasil, os pacientes vão se sentir mais seguros na sua escolha. Vão adorar! Ou não vão?