O Ministério da Saúde e representantes da indústria alimentícia nacional firmaram um acordo para a redução de açúcares nos alimentos processados. Segundo o acerto, nos próximos cinco anos, 144 mil toneladas do produto devem deixar de ser utilizadas na composição de achocolatados, sucos de caixa, refrigerantes, iogurtes, biscoitos e bolos, como revelou reportagem da Folha de S.Paulo.
A medida é importante para combater a epidemia de obesidade pela qual passamos e já apontamos aqui no blog. Afinal, já somos o quinto país com maior número de obesos no mundo, segundo a OMS. Aproximadamente 20% da população nacional é obesa e 50% apresenta sobrepeso.
Números que também nos levam a ser um dos líderes globais em cirurgia bariátrica, com 88 mil operações por ano, atrás apenas dos Estados Unidos. Vale lembrar que além de todos os riscos associados a esse tipo de intervenção (veja nosso post sobre o assunto), mais de 4,5% das pessoas submetidas a algum tipo de cirurgia bariátrica morrem em até um ano após a operação em decorrência de problemas relacionados ao procedimento. Ou seja, a questão está longe de se restringir ao campo da estética.
Outra ação do Ministério da Saúde no sentido de ajudar as famílias a se alimentarem melhor e reduzir o consumo de produtos processados e ultraprocessados – com excesso de açúcares, sódio e outras substâncias que podem ser nocivas para o organismo – é o Guia Alimentar para a população brasileira. O documento separa os produtos em quatro categorias: ingredientes in natura ou minimamente processados; ingredientes culinários; alimentos processados; e, produtos ultraprocessados. Vale a leitura.
Como já falamos em diferentes momentos aqui, a obesidade é um dos grandes perigos modernos e já é considerada uma epidemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Ao mesmo tempo em que se avançam os tratamentos para doenças desafiadoras em todo o mundo, como o câncer, e se aumenta a longevidade da população em âmbito global, outros problemas tem aparecido em decorrência dos hábitos ruins de saúde em todo o mundo. É pela preocupação com o tema que hoje, 11 de outubro, foi escolhido como o Dia Nacional de Prevenção à Obesidade.
Dados da OMS mostram que epidemia de sobrepeso e obesidade já afeta 39% da população adulta e 18% das crianças e adolescentes entre 5 e 18 anos. No Brasil, desde 2006, o índice de brasileiros obesos cresceu em 60%. Hoje aproximadamente 20% da população é obesa e 50% apresenta excesso de peso. O país já é o quinto em população obesa no mundo.
Se antigamente a obesidade era mais comum em países ricos, esse cenário mudou hoje em dia com o maior acesso da população aos diversos produtos industrializados, carboidratos refinados e demais alimentos como refrigerantes e doces. Isso fez com que o índice de obesidade atingisse níveis alarmantes.
Não é de hoje que alertamos sobre o aumento da incidência do problema. Já mostramos por meio do estudo especial “Evolução da obesidade no Brasil” e o alerta acerca dos “Impactos da cirurgia bariátrica” no TD 59.
A urgência do tema também já refletiu em trabalhos vencedores do Prêmio IESS de Produção Científica em Saúde Suplementar, como o trabalho “Impacto da Cirurgia Bariátrica, em médio prazo, na utilização de serviços de saúde, morbimortalidade e custo com atenção médica”, de Silvana Bruschi Kelles, 1° lugar na edição 2014.
Mais do que epidemia global que afeta pessoas de diferentes locais, é urgente também alertar sobre a relação do excesso de peso com outras morbidades. Cerca de 15 mil casos de câncer por ano são atribuíveis ao excesso de peso e obesidade no Brasil de acordo com pesquisa inédita realizada pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP em parceria com a Universidade de Harvard e a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer da OMS. Já falamos sobre a pesquisa aqui.
A relação entre câncer e o excesso de peso é, aliás, temas de estudos globais já mostramos em nosso Boletim Científico. Já falamos sobre a Mortalidade e anos de vida perdidos pelo câncer colorretal atribuível à inatividade física no Brasil; “A crescente carga de câncer atribuível ao alto índice de massa corporal no Brasil”; ou ainda sobre a relação da condição com a utilização do pronto-socorro.
Achamos importante reforçar esses dados periodicamente e lembrar que a cada 6 beneficiários de planos de saúde, 1 é obeso, segundo a última pesquisa Vigitel Saúde Suplementar 2016. No total da pesquisa, 18,7% dos homens beneficiários de planos de saúde estão obesos enquanto, entre as mulheres, a proporção é de 17%.
Mesmo que os beneficiários de planos de saúde sigam um pouco mais as recomendações do médico quanto aos hábitos de vida saudável, ainda é necessária uma mudança de postura entre todos os brasileiros. Pequenas mudanças na rotina, como, por exemplo, a prática de atividade física regular e melhores hábitos alimentares, impactam diretamente na luta contra a obesidade.
Vale ressaltar que hábitos mais saudáveis impactam diretamente não só na saúde de cada indivíduo, mas também para a sustentabilidade do setor de saúde. Prevenção e promoção de saúde são pilares fundamentais para a redução de procedimentos mais complexos e emergenciais, muito mais caros e de maior risco para o paciente.
Ao mesmo tempo em que se avançam os tratamentos para doenças desafiadoras em todo o mundo, como o câncer, e se aumenta a longevidade da população em âmbito global, aumenta-se também os problemas em decorrência de hábitos ruins de saúde. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que epidemia de sobrepeso e obesidade já afeta 39% da população adulta e 18% das crianças e adolescentes entre 5 e 18 anos.
Ainda segundo a OMS, a obesidade e o sobrepeso estão associados ao aumento do risco de 14 tipos de câncer, como o câncer de mama (pós-menopausa), cólon, reto, útero, vesícula biliar, rim, fígado, mieloma múltiplo, esôfago, ovário, pâncreas, próstata, estômago e tireoide.
Exatamente pela preocupação com relação ao tema que o trabalho “A crescente carga de câncer atribuível ao alto índice de massa corporal no Brasil” publicado na 22º edição do Boletim Científico buscou verificar se a redução do IMC elevado poderia reduzir a incidência de câncer no País, além de apresentar projeções da incidência de cânceres potencialmente evitáveis devido ao alto IMC para o ano de 2025. As estimativas de incidência de câncer tiveram como base os dados do GLOBOCAN - da OMS – e do Instituto Nacional do Câncer (Inca).
A pesquisa mostrou que aproximadamente 15 mil casos de câncer por ano no Brasil (ou 3,8% do total) poderiam ser evitados com a redução do excesso de peso e da obesidade. Para 2025, a publicação projeta mais de 29 mil novos casos (ou 4,6% do total de novos casos) atribuíveis ao IMC elevado. Descobriu-se que 15.465 (3,8%) de todos os novos casos de câncer diagnosticados no Brasil em 2012 foram atribuíveis ao IMC elevado, com uma carga maior em mulheres, com 5,2%, do que em homens, com 2,6%.
Já os tipos de câncer mais comuns atribuíveis ao sobrepeso foram mama, colo de útero e cólon para mulheres e cólon, próstata e fígado entre os homens. As maiores frações atribuíveis populacionais (PAFs) para todos os cânceres estão mais concentradas nos Estados mais ricos do país, como da região Sul, que apresentou 1,5% entre os homens e 3,4% para as mulheres e no Sudeste, com 1,5% entre eles e 3,3% para elas. Estimou-se, ainda, que os casos de câncer atribuíveis ao alto índice de massa corporal irão chegar aos 29.490 em 2025, o que representará 4,6% de todos os cânceres no país. A estimativa ainda aponta maior incidência entre mulheres, com 18.837 do total, ou 6,2%, do que nos homens, com 3,2%, atingindo os 10.653.
Má alimentação, pouca atividade física e sedentarismo são fatores determinantes para excesso de peso e obesidade, em conjunto com outros hábitos de vida e consumo. Portanto, é cada vez mais clara a necessidade de políticas e ações voltadas para maior conscientização da população sobre as consequências do estilo de vida. Logo, o trabalho fornece informações cruciais para a criação de ferramentas para apoiar a criação de programas e políticas para prevenção do câncer no Brasil.
Não deixe de conferir a 22º edição do Boletim Científico na íntegra.