Não é de hoje que falamos da necessidade de se repensar o modelo assistencial adotado não só na saúde suplementar, mas em todo o sistema brasileiro. Há uma série de novas alternativas, modelos e características que podem auxiliar a garantir não só a sustentabilidade financeira, mas também ofertar maior qualidade assistencial aos pacientes nos diversos serviços de saúde. O fato é que o modelo atual gera excesso de gastos e sobrecarga dos serviços, além de não suportar devidamente mudanças demográficas e epidemiológicas da sociedade.
É neste contexto que uma das alternativas que mais se fala há tempos é a Atenção Primária à Saúde (APS). Este tipo de assistência procura responder de forma regionalizada e contínua às necessidades de uma população, integrando as ações curativas, de prevenção de doenças e promoção da saúde. Para se ter uma ideia, os dados mostram que mais de 80% dos atendimentos são resolvidos na primeira consulta com um médico de família.
A importância e eficácia da modalidade repercute também nas diferentes publicações e eventos do setor. Nessa semana, houve painel exclusivo sobre o tema no 2º Fórum Saúde Suplementar, promovido pelo jornal Folha de S. Paulo, que mostrou também diversas iniciativas nesse âmbito por parte do setor. A mesa contou com a participação de Juliana Pereira, diretora-executiva de clientes da Qualicorp, José Cechin, diretor-executivo da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), Alexandre Rosé, diretor de serviços clínicos da Amil Assistência Médica Internacional, Alberto Gugelmin Neto, vice-presidente da Unimed do Brasil, e foi mediada por Cláudia Collucci, colunista do jornal.
Para José Cechin, diretor-executivo da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), além de procedimentos desnecessários, a negligência e a falta de capacitação, que levam a cirurgias e consultas mal feitas, oneram ainda mais o sistema. “Há uma supervalorização dos exames por causa da insegurança do médico. Esse modelo de pagamentos privilegia a quantidade, não a qualidade. O médico precisa ser treinado na área de custos”, apontou.
Segundo a publicação, uma das maiores dificuldades para a implantação da atenção primária é a baixa adesão dos profissionais. Segundo dados do Ministério da Saúde, das 3.587 vagas autorizadas para ingresso na residência em medicina da família neste ano, só 1.183 foram preenchidas, cerca de um terço apenas.
Ou seja, é cada vez mais importante o debate e disseminação de informações sobre o tema para melhorar ainda mais a prática em todo o país. Recentemente, a ANS divulgou, em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), uma publicação com os projetos selecionados no Laboratório de Inovação sobre Experiências de Atenção Primária na Saúde Suplementar Brasileira. Além disso, durante recente evento, a Federação Nacional da Saúde Suplementar (FenaSaúde) divulgou 11 medidas para fortalecer o setor. A Atenção Primária à Saúde (APS) aparece em primeiro lugar entre elas, como base do sistema para organizar a assistência e o encaminhamento para os outros níveis de atenção.
Em tempo, já tivemos um trabalho vencedor da categoria Promoção de Saúde e Qualidade de Vida no Prêmio IESS de Produção Científica em Saúde Suplementar - “Atenção Primária na Saúde Suplementar: estudo de caso de uma Operadora de Saúde de Belo Horizonte”, de Eulalia Martins Fraga, que demonstra claramente os benefícios dessa abordagem.
O gasto de planos de saúde com consultas, exames e procedimentos assistenciais deverá passar dos R$ 170 bilhões em 2018, um avanço de 8,7% em relação a 2017, de acordo com projeção da Associação Brasileira de Planos de Saúde (ABRAMGE) que já apontamos aqui. Diversos fatores contribuem para esse aumento, como mostra a reportagem “Os desafios dos planos de saúde”, publicada hoje pelo jornal O Estado de S. Paulo.
Nós temos, constantemente, buscado apontar caminhos para combater esse avanço e fornecer subsídios técnicos para auxiliar gestores e tomadores de decisões na busca pela sustentabilidade econômico-financeira do setor. Por exemplo, com o estudo “Arcabouço normativo para prevenção e combate à fraude na saúde suplementar no Brasil”, que realizamos em parceria com a PwC Brasil, para destacar a necessidade de mudanças regulatórias no País.
Claro, como buscamos sempre fomentar o debate, não nos restringimos aos estudos que nós produzimos e buscamos sempre trazer outros trabalhos e iniciativas que possam contribuir para este debate e para a implementação de novas ações. Por isso, hoje, gostaríamos de destacar alguns materiais externos.
O primeiro é a reportagem “Atenção primária é saída para conter custo”, publicada hoje no jornal Valor Econômico, que traz um relato sobre o congresso realizado pelo International Finance Corporation (IFC), no fim da semana passada, em Miami, com 450 representantes de empresas do setor de saúde de mais de 70 países.
O grande destaque da convenção foi a necessidade de focar em atenção primária e, nesse sentido, algumas empresas apresentaram cases interessantes que podem (devem) ser analisados pelo mercado. Entre elas, duas brasileiras: NotreDame Intermédica e Prevent Senior.
Maureen Lewis, CEO da Aceso Global, também falou no evento e destacou a necessidade de mudar padrões de uso dos serviços de saúde, como a procura exagerada por pronto-socorro em casos que não são nem de urgência nem emergência. Sobre o assunto, vale rever a palestra que ela deu em nosso seminário "Qualidade e Eficiência na Saúde": “Revolucionando o sistema de saúde por meio da qualidade e eficiência”.
Falando em atenção primária à saúde e sua importância para trazer mais racionalidade ao setor, não poderíamos deixar de apontar a iniciativa da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) “Programa de Certificação de Boas Práticas em Atenção à Saúde”, instituído pela Resolução Normativa (RN) 440, que visa incentivar as operadoras de planos de saúde a desenvolverem redes de atenção ou linhas de cuidado em atenção primária. A ação tem foco especial também no acompanhamento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), assunto que tratamos aqui recentemente. Vale ler, também, a reportagem “ANS lança programa para incentivar planos a terem linhas de prevenção”, do Correio Braziliense.
Por fim, queríamos lembrar o trabalho vencedor da categoria Promoção de Saúde e Qualidade de Vida no VII Prêmio IESS, “Atenção Primária na Saúde Suplementar: estudo de caso de uma Operadora de Saúde de Belo Horizonte”, de Eulalia Martins Fraga, um dos primeiros no País sobre o tema.