Nas últimas semanas apresentamos, aqui no Blog, em duas postagens, um estudo sobre o impacto do envelhecimento no Brasil e o consequente aumento da frequência de uso de Exames, Consultas, Terapias e, especialmente, Internações. Ambos baseados no TD 57 – “Atualização das projeções para a saúde suplementar de gastos com saúde: envelhecimento populacional e os desafios para o sistema de saúde".
Como prometemos, agora, vamos abordar a questão do aumento das despesas assistenciais decorrentes das mudanças projetadas para a saúde suplementar até 2030. Os números impressionam e acendem um forte sinal de alerta: as despesas assistenciais das operadoras devem chegar a R$ 396,4 bilhões em 2030. Um avanço de 272,8% em relação aos R$ 106,3 bilhões, constatados em 2014. E a projeção ainda é considerada conservadora pelo estudo.
Apenas com Internações, os planos de saúde devem dispender R$ 260,3 bilhões. O montante é 331,7% superior aos R$ 60,3 bilhões gastos em 2014, e representam cerca de dois terços (66%) do total gasto com despesas assistenciais. Hoje, as Internações já respondem por 56% das despesas.
Os gastos que, proporcionalmente, mais devem crescer no período, contudo, são aqueles com Terapias. Em 2014, as despesas assistenciais com esse grupo de procedimentos somaram R$ 5,5 bilhões. Em 2030, este valor deve atingir R$ 54,7 bilhões, alta de 894,5%. Com isso, os gastos com terapia ultrapassariam aqueles com consultas e exames, se tornando a segunda maior despesa dos gastos assistenciais.
No mesmo período, os gastos com consultas saltariam de R$ 11,5 bilhões para R$ 19,3 bilhões, um aumento de 67,8%. E os gastos com exames cresceriam 64,1%, de R$ 20,6 bilhões para R$ 33,8 bilhões.As projeções não consideram nem a incorporação de novas tecnologias, nem o aumento da expectativa de vida da população e a maior exigência de cuidados de saúde que, naturalmente, surgiriam em decorrência desse incremento. Também não são projetados os efeitos da variação da frequência de utilização dos serviços e da taxa de cobertura ou do crescimento econômico, entre outras variáveis que influenciam os gastos com saúde. Por outro lado, igualmente não são projetadas alterações que possam reduzir os custos, como ganhos de escala ou eficiência. A projeção, considerada conservadora, mas realista, considerou apenas o envelhecimento da população e corrigiu o custo de Consultas, Exames, Terapias e Internações de acordo com o VCMH/IESS calculado com base na média de 2007 a 2015, que foi de 6,9%, já descontando a inflação de 6% medida pelo IPCA/IBGE.
Está claro que o mercado precisa se modernizar de modo que a escalada de custos e a mudança na utilização dos serviços, também geradas pelo envelhecimento populacional, não se tornem um risco à sustentabilidade do setor. As propostas que defendemos para evitar a concretização desse cenário envolvem o estabelecimento e publicidade de índices de qualidade de prestadores de serviços, estímulo à concorrência ao combater falhas de mercado (sobretudo assimetrias de informações de fornecedores de insumos médicos), modernização de modelos de pagamento de prestadores de serviços (premiando a eficiência e o desfecho clínico e punindo o desperdício), e análise técnica e transparente para adoção de novas tecnologias em saúde análise. Como já defendemos em posts anteriores.