Desde o começo do ano, temos mostrado iniciativas na saúde suplementar em que a aplicação de novas tecnologias está possibilitando mudanças no cenário atual ou, ao menos, projetando possibilidades muito interessantes para o desenvolvimento do setor no futuro. É o caso, por exemplo, dos novos aplicativos apresentados na Consumer Eletronics Show (CES); dos avanços de Google, Apple, Amazon e Microsoft com smartspeakers; da clínica Ping An Good Doctor, que realiza 50 milhões de atendimentos diagnósticos por mês apenas por meio de inteligência artificial; e das inovações apresentadas na South by Southwest (SXSW), entre outros.
Claro, não somos os únicos a acompanhar os últimos avanços tecnológicos e o potencial que eles têm para mudar o mercado. Recentemente, Michael Reddy, presidente da Healthcare Weekly – revista dos Estados Unidos focada em inovações na saúde –, escreveu um artigo elencando as 9 tecnologias com as quais todo executivo do setor deveria estar animado.
A primeira delas? Inteligência artificial (IA). Além dos empregos já explorados para a tecnologia, como o diagnóstico na Ping An Good Doctor ou a viabilidade de agendar consultas e muito mais por meio dos smartspeakers, Reddy aponta três que a IA será fundamental para o futuro do segmento – especialmente por sua capacidade de mitigar e prevenir riscos. Três formas de fazer isso seriam:
• Lembretes automáticos. Solução ideal para monitorar e garantir que os remédios corretos sejam tomados no tempo certo.
• Identificar perfis de risco. Descobrir pessoas que precisam de atenção médica e alertar equipes especializadas para atuar de forma personalizada. O IBM Watson está sendo testado, por exemplo, para atuar em casos de pessoas com vício em opioides (morfina, codeína, metadona etc.).
• Possibilitar o uso personalizado de medicamentos de acordo com características fisioquímicas de cada indivíduo.
• Para conhecer as outras oito tecnologias apontadas por Reddy, sugerimos ler o artigo original (infelizmente disponível apenas em inglês).
Quem acompanha minimamente o setor de saúde já sabe: não somos apenas nós que falamos incessantemente sobre a importância da integração dos cuidados ao paciente. E a prática vem por meio de uma série de medidas que devem auxiliar todo o setor a se desenvolver. Além de representar uma melhora da assistência ao paciente, mudanças no paradigma atual significam também a possibilidade de frear os crescentes gastos.
Recentemente, artigo publicado no Saúde Business traz importantes pontos para cuidados mais centrados no paciente. De autoria de Robert Nieves, vice-presidente global para informática em saúde da Elsevier, o material elenca 3 importantes práticas que, segundo o autor, são fundamentais para alcançar um processo de planejamento de cuidados bem-sucedido: processo de avaliação eficaz; ferramentas de apoio à decisão clínica para planos de cuidados; e educação do paciente.
Para tanto, a vigilância contínua do quadro clínico é grande importância. Com isso, pode-se prevenir e detectar precocemente diversos problemas. Essas falhas na prestação do serviços estão totalmente relacionadas com nosso Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil.
Nós já falamos aqui no Blog que a publicação mostra que os hospitais públicos e privados do Brasil registraram, em 2017, seis mortes, a cada hora, decorrentes dos chamados “eventos adversos graves”, ocasionados por erros, falhas assistenciais ou processuais ou infecções, entre outros fatores. Outro fator importante apontado pela publicação é que esses eventos consumiram R$ 10,6 bilhões apenas do sistema privado de saúde no período analisado.
Um dos pontos fundamentais na busca por frear os crescentes gastos em saúde diz respeito à mudança do modelo da assistência, como de práticas que foquem na Atenção Primária à Saúde. Como temos falado periodicamente.
Além disso, o cuidado fragmentado resulta em maior número de entradas de urgência, emergência e de internação. Exatamente pela importância do tema que incluímos o estudo “Atendimento Ambulatorial Fragmentado e Utilização Subsequente de Cuidados de Saúde Entre os Beneficiários do Medicare” na 24º edição do “Boletim Científico IESS” , que reforça a necessidade de assistência contínua e integrada para o bem-estar do paciente e do sistema de saúde.
Quer conferir na íntegra os pontos apontados pelo especialista? Veja o artigo publicado na Saúde Business
Não é de ontem que apontamos a necessidade de mudança no atual modelo de remuneração de serviços de saúde adotado no Brasil, o fee-for-service. Afinal, como já falamos aqui e em diversas outras oportunidades – em nossa Área Temática você pode ver todas rapidamente –, premia o desperdício ao remunerar por serviço executado e não por desfecho clínico.
Felizmente, dessa vez, não somos nós (não somos apenas nós) que estamos fazendo a afirmação, mas a própria Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), por meio de seu diretor de Desenvolvimento Setorial da ANS, Rodrigo Aguiar. “A cada atendimento, exame, cirurgia, é feito um pagamento ao prestador, não importando a qualidade do serviço, e não importando o resultado em saúde para aquele paciente. O Brasil é, por exemplo, o campeão mundial em realização de ressonância magnética. Isso ocorre porque há um estímulo à produção. Os profissionais ganham quanto mais eles produzirem”, Aguiar afirmou à Agência Brasil – a reportagem foi replicada por diversos canais, como o site da revista Exame.
Para combater esse problema, a ANS está lançando o Guia para Implementação de Modelos de Remuneração baseados em valor, uma cartilha que apresenta 5 modelos que podem ser adotados pelas Operadoras de Planos de Saúde (OPS) para remunerar profissionais, clínicas e hospitais em substituição ao fee-for-service ou mesmo de forma complementar: pagamento por performance (P4P, como é mais conhecido), capitation, pacotes (global e parcial), DRG, e assalariamento.
Para entender melhor cada um dos modelos, recomendamos a leitura do TD 64 – "Fatores associados ao nível de gasto com saúde: a importância do modelo de pagamento hospitalar”, que destaca os benefícios de modelos de pagamento prospectivos.
Ainda não está claro como se dará o processo de adoção desses modelos, mas a recomendação de utilização deles pela ANS é, certamente, um fato a se comemorar. Nós, claro, ficaremos de olho em seus desdobramentos.
A produção de dados e monitoramento da situação de saúde da população é fundamental para o entendimento das mudanças demográficas, orientação e criação de programas, políticas e ações voltadas para a prevenção de doenças e promoção da saúde coletiva. Essa é uma das ambições de trabalhos como o Texto para Discussão n° 73 “Hábitos alimentares, estilo de vida, doenças crônicas não transmissíveis e fatores de risco entre beneficiários e não beneficiários de planos de saúde no Brasil: Análise da Pesquisa Nacional de Saúde, 2013”, em que traçamos um perfil da saúde do brasileiro em diferentes aspectos.
A importância de estudos dessa temática e sua capacidade de transformação dos sistemas de saúde globais também motivou a elaboração do trabalho “Examinando os beneficiários que mais usam os recursos hospitalares: implicações de um perfil desenvolvido a partir de dados de planos de saúde da Austrália”, publicado na 24º edição do “Boletim Científico IESS”. Para tanto, examinou-se as características demográficas, de admissão hospitalar e clínicas de usuários que mais usam os recursos hospitalares dentro de uma amostra de planos privados australianos.
O estudo dividiu os beneficiários em três critérios: beneficiários que concentram o maior número de internações; aqueles que concentram o maior número de dias de internação; e beneficiários que concentram a maior parte dos benefícios pagos.
Entre os resultados, observou-se que os 1% de beneficiários com maior utilização representam 21,2% do total de dias de internação e os 1% de maior custo representam 13,3% dos custos totais.
Vale lembrar que o sistema de saúde australiano tem grandes semelhanças com o brasileiro, que garante acesso universal aos serviços e a adesão ao seguro de saúde privado é voluntária. O governo da Austrália possui uma série de políticas que subsidiam os seguros de saúde e encorajam a adesão. Além disso, as seguradoras de saúde privadas podem oferecer serviços de controle de gerenciamento de doenças crônicas e outros serviços ambulatoriais com o objetivo de reduzir as internações e seus custos associados.
Confira o Boletim Científico na íntegra.