Mais de 7 milhões. Esse é o número de pessoas que morrem a cada ano em decorrência do uso de tabaco, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Destes, pouco mais de 6 milhões são fumantes ativos e 900 mil, passivos (aqueles que são afetados indiretamente por estar no mesmo ambiente que fumantes ativos). Números que, ainda de acordo com a OMS, qualificam o fumo dessa substância como uma das piores epidemias já enfrentadas pela humanidade e a principal causa de morte prevenível atualmente.
Para combater o problema, algumas práticas são recomendadas pela instituição:
• Avisos de advertência nos pacotes de cigarro, especialmente os que privilegiam recursos visuais, funcionam bem. Principalmente para evitar que jovens adquiram este hábito e para que os adultos evitem fumar próximo de crianças.
• Proibir a publicidade do produto pode reduzir seu consumo de 7% a 16%.
• Tributação suficiente para subir o preço médio em 10% pode reduzir seu consumo em até 5%. Outra vantagem da medida é arrecadar recursos para campanhas de combate ao tabagismo.
• Estabelecer programas de auxílio e conscientização ao fumante. Pode parecer estranho, mas pesquisas revelam que boa parte dos fumantes no mundo não conhece os riscos associados ao hábito. Aconselhamento e medicação podem dobrar a chance de uma pessoa parar de fumar.
Além dos pontos levantados pela OMS, acreditamos que é fundamental o avanço da legislação local, com medidas que proíbam o uso da substância em locais públicos fechados (bares, restaurantes, galerias etc.), como acontece em São Paulo e outros estados do País, e abertos (praias, praças etc.), como acontece na França e em outros países com legislação mais avançada nesse assunto.
Por fim, a criação de programas de promoção da saúde com foco em combate ao tabagismo é outro fator que não pode ser desconsiderado e, acreditamos, deveria ser desenvolvido por mais empresas – a ação pode ser analisada tanto do ponto de vista comercial, com resultados para a produtividade da empresa e redução do absenteísmo, quanto pelo ponto de vista de qualidade de vida dos colaboradores. Nesse sentido, encorajamos a leitura do estudo “Promoção da Saúde nas Empresas”, produzido pelos especialistas Michel P. O’Donnell e Alberto José N. Ogata, e também a apresentação feita Dra. Cristiane Penaforte, da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, realizada em evento do IESS em 2012: “Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis no Brasil”. Ah, se você quiser saber mais sobre os hábitos de consumo de tabaco do brasileiro, vale rever o TD 73 - Análise da Pesquisa Nacional de Saúde.
Em 2017, aqui, comentamos o estudo “Epidemiologia da multimorbidade na população geral brasileira: Evidências da pesquisa nacional de saúde de 2013”, publicado na edição 17 do Boletim Científico. Agora, a edição 24 do mesmo boletim traz uma nova pesquisa sobre multimorbidade (a existência simultânea de mais de um problema de saúde em uma única pessoa), acendendo uma luz de alerta.
De acordo com o estudo “Multimorbidade em indivíduos com 50 anos ou mais de idade: ELSI-Brasil”, abordado na edição mais recente de nosso periódico, 67,8% dos entrevistados possuíam duas ou mais doenças e 47,1% contavam com 3 ou mais doenças. Já o estudo mais antigo aponta que 24,2% da população brasileira apresentam multimorbidade.
Cabem duas ponderações importantes aí: primeiro, a pesquisa apresentada em 2017 considerava os números da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2013, uma amostra bem mais ampla do que a coorte com 9.412 indivíduos de 50 anos ou mais empregada no segundo estudo; depois, é esperado que indivíduos mais velhos apresentem maior prevalência de multimorbidade, como também já destacamos aqui. Ou seja, os números não são comparáveis.
Ainda assim, as projeções de que 26 milhões de brasileiros com 50 anos ou mais têm 2 doenças ou mais e que 18 milhões têm 3 ou mais problemas de saúde ao mesmo tempo não pode ser desconsiderada. Seja pelo custo econômico-financeiro que acarreta para os sistemas de saúde (tanto público quanto privado), ou, principalmente, pela perda de qualidade de vida que representam para uma grande parcela da população. Além disso, vale lembrar, 1 em cada 4 brasileiros será idoso em 2060.
Olhando pelo lado positivo, o novo estudo aponta os problemas de saúde mais recorrentes entre as pessoas com multimorbidade (problema de coluna e hipertensão arterial sistêmica) e indica que mulheres, pessoas mais velhas e aqueles que não consumiam bebidas alcoólicas tiveram mais multimorbidade do que os outros grupos. Dando importantes bases para a estruturação de programas de promoção da saúde.
A edição desta quinta-feira do Jornal O Estado de S. Paulo trouxe uma reportagem com diversas bandeiras levantadas pelo IESS ao longo dos últimos anos. Intitulada “Programas de prevenção potencializam melhor uso dos planos de saúde e sua sustentabilidade” cruzou números de saúde nacionais e internacionais com diversos dados de nossos estudos para trazer informações sobre a necessidade de prevenção de doenças, promoção da saúde, revisão dos modelos de pagamento e outras urgências para o setor como um todo.
A reportagem apresentou dados do nosso Texto para Discussão n° 73 “Hábitos alimentares, estilo de vida, doenças crônicas não transmissíveis e fatores de risco entre beneficiários e não beneficiários de planos de saúde no Brasil: Análise da Pesquisa Nacional de Saúde, 2013” que compara a incidência de fatores de risco como pressão alta, maus hábitos alimentares e baixa frequência de exercícios entre esses dois grupos.
A publicação mostra que os beneficiários dos convênios consomem mais doce e sal e substituem refeições por pizza e outros alimentos industrializados com mais frequência do que quem utiliza o Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, também sofrem mais com pressão alta, diabetes e colesterol alto.
Lembram, portanto, o que apontamos periodicamente da necessidade de mudança de hábitos de vida e consumo. “O ditado ‘prevenir é melhor do que remediar’ faz bem tanto para a saúde dos beneficiários quanto para a do sistema suplementar. A prevenção evita que o problema apareça. Se mesmo assim ele surgir, todos os esforços devem se focar em detectá-lo e tratá-lo o mais rápido possível”, aponta o texto. “Além de ampliar as chances de cura, isso reduz custos com intervenções caras que nem sempre são eficazes em estágios avançados de algumas doenças”, afirma Rafael Schmerling, oncologista clínico do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.
O oncologista também conta que cirurgias para retirada de tumores e lesões pré-cancerígenas identificadas logo no início podem resolver 95% dos casos de câncer sem que sejam necessárias terapias mais longas e mais custosas, como quimioterapia, radioterapia e imunoterapia.
A reportagem também traz outros temas importantes para o setor, como a questão dos modelos de pagamento, mas isso é tema para outras publicações. Conheça mais detalhes do TD 73.