Recentemente divulgamos a publicação “Análise da assistência à saúde da mulher na saúde suplementar brasileira entre 2014 e 2019”, que trouxe um panorama da saúde feminina no período analisado e apontou queda de 12% na taxa de cesarianas e aumento de 5,6% na quantidade de partos normais. Acesse aqui.
Por entender que a população feminina requer programas de prevenção e cuidados específicos de saúde, a análise especial tem o objetivo de acompanhar alguns procedimentos de assistência realizados pelas mulheres beneficiárias da Saúde Suplementar coletados do “Mapa Assistencial da Saúde Suplementar” da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
A publicação ainda traz informações relativas ao câncer e métodos contraceptivos. O estudo mostra que a procura por exame diagnóstico preventivo de câncer de colo de útero (Papanicolau) também tem recuado. Em 2014, esse procedimento diagnóstico preventivo foi realizado em 47,9 de cada 100 mulheres na faixa etária entre 25 e 59 anos. Em 2019, essa taxa foi de 46,1 e, em 2018, de 44,2 na saúde suplementar.
Embora mostre um leve avanço entre 2018 e 2019, os números mostram que é fundamental que as mulheres dessa faixa etária fiquem atentas a este importante aspecto da promoção da saúde e prevenção no que se refere ao câncer de colo de útero.
O levantamento ainda aponta que o número de internações para a realização da laqueadura tubária (procedimento de anticoncepção definitivo) e implante de dispositivo intrauterino (DIU) tem crescido exponencialmente.
Na comparação entre 2014 e 2019 houve aumento de 15,4% no número de internações para laqueadura tubária, saltando de 14,9 mil para 17,2 mil. Já o aumento no número de procedimentos de implante do DIU mais que quadruplicou no período, avançando de 50,9 mil para 205,2 mil.
Vale ressaltar que o resultado da análise é especificamente para a saúde suplementar. A publicação pode ser acessada na íntegra aqui.
No começo do mês, aqui no Blog comentamos a falta de conhecimento sobre cesáreas no Brasil. Um contrassenso em relação à quantidade de partos desse tipo realizados no País – 55% do total segundo a “Análise da assistência à saúde da mulher na saúde suplementar brasileira entre 2011 e 2017”, que divulgamos no final do ano passado.
Como tivemos diversos comentários, positivos e negativos, sobre a questão, decidimos explorar um pouco mais o assunto e trazer os números do estudo “Diferenças regionais brasileiras e fatores associados à prevalência de cesárea”, publicada na última edição do Boletim Científico.
O trabalho encontrou uma prevalência de cesárea um pouco menor, de 53%. A diferença é explicada pelo período analisado, de 1990 a 2013. No total, foram analisados os registros de 16,2 mil mulheres entre 18 e 49. O resultado aponta realidades contrastantes.
O parto natural é mais frequente no Norte (52,74%) e Nordeste (51,06%), mas apenas por uma pequena margem. Já nas demais regiões, a cesárea “abre uma vantagem” expressiva. No Sul, são 56,9% do total; no Sudeste, 59,3%; e, no Centro-Oeste, 61,5%.
Além disso, essa é a média encontrada para o período. Contudo, a prevalência de cesáreas cresceu ao longo dos anos, principalmente nas regiões Nordeste, em que avançou 2,2 vezes, e no Sul, onde cresceu 2,75 vezes.
Confira os demais resultados da pesquisa e outras publicações na 25° edição do Boletim Científico.
Nos últimos dias, duas reportagens sobre cesáreas nos chamaram atenção. A primeira, do jornal Folha de S.Paulo, aponta que o Brasil é o País com a segunda maior taxa desse procedimento no mundo e destaca que um projeto de Lei da deputada Janaína Paschoal (PSL) propõem que no SUS a gestante possa optar pela cesárea, inclusive para parto sem indicação clínica, como já acontece na saúde suplementar.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que apenas 15% dos partos sejam feitos por cesárea. Contudo, os partos desse tipo respondem por 55% do total no País. Apenas a República Dominicana tem uma proporção maior, de 56,4% dos partos. Os números detalhados constam na “Análise da assistência à saúde da mulher na saúde suplementar brasileira entre 2011 e 2017”, que publicamos recentemente.
A segunda reportagem, dessa vez da Ag. Brasil, indica que esses números estão fortemente ligados ao medo que as brasileiras têm do parto normal e analisa uma pesquisa realizada com 7 mil mulheres (50% gestantes) pelo portal Trocando fraldas. De acordo com o levantamento, 61% das mulheres têm medo de dar à luz por meio de parto normal.
Além disso, a pesquisa aponta que em 45% dos casos é o desejo da própria mulher que determina a cesárea, apenas 17% das vezes ela ocorre por determinação médica e 34% dos procedimentos ocorrem por condições do sistema de saúde, como a estrutura ou a falta dela na maternidade.
De modo geral, tanto o estudo quanto as reportagens mostram o que já temos indicado: uma necessidade premente de campanhas de conscientização sobre os riscos e vantagens de cada procedimento.
Vale lembrar, o risco de morte materna pós-parto é três vezes maior em cesarianas do que em outras modalidades de parto, como apontam alguns estudos já analisados aqui no blog, principalmente em decorrência de hemorragia e complicações na anestesia. Por outro lado, esse procedimento é indicado quando se constata, por exemplo, que o cordão umbilical está enrolado no pescoço do bebê e diversos outros partos de risco.
Nós continuamos defendendo que cada caso deve ser analisado separadamente e a decisão tem que ser tomada em conjunto pela paciente e seu médico de confiança.
Ah, para quem quiser entender melhor o medo justificado que diversas mulheres têm dos partos normais, recomendamos o documentário “Parto, da violência obstétrica às boas práticas e Cesárea, mitos e riscos”, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
No final do mês de novembro, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) lançou uma campanha para evitar a antecipação dos partos no fim de ano. Em parceria com o Hospital Israelita Albert Einstein e o Institute for Healthcare Improvement (IHI), “A hora do bebê: Pelo direito de nascer no tempo certo” busca incentivar o parto normal e conscientizar as futuras mães e toda a rede de atenção obstétrica sobre os riscos da realização de cesáreas sem indicação clínica.
A campanha vem em boa hora. Segundo os dados da ANS, há a redução de cesarianas no final do ano em função da antecipação dos nascimentos que ocorreriam na época das festas. No último ano, a média de cesarianas na semana de 24 a 31 de dezembro foi 20% menor do que a média semanal do ano. Já em 2016, houve diminuição de aproximadamente 40% no número de cesáreas realizadas no período de 24 a 31 de dezembro, comparado com a média semanal de cesarianas.
A agência reforça que há evidências científicas de que bebês nascidos de cesarianas são internados em UTI neonatal com mais frequência e o risco de morte da mãe e de complicações para o recém-nascido aumentam quando não há indicação clínica para essa modalidade de parto. Isso acontece porque, quando realizado antes das 39 semanas de gestação, pode não haver a maturação pulmonar do bebê.
Os responsáveis pelo programa Parto Adequado, da Agência Nacional de Saúde Suplementar, apontam que há uma cultura muito grande de agendamento de cesarianas por motivos não clínicos, o que aumenta ainda mais no período de festas de fim de ano e férias. Já falamos sobre o programa aqui que busca incentivar ainda mais o parto normal na rede particular de saúde. Já mostramos também que o risco de morte materna pós-parto é três vezes maior em cesarianas quando comparado a outras modalidades de parto. A publicação “Cesariana e mortalidade materna pós-parto: um estudo de caso-controle de base populacional no Brasil” aponta que os principais riscos relacionados ao procedimento são mortes por hemorragia pós-parto e complicações na anestesia.
As diferentes ações buscam mudar o paradigma entre pacientes, profissionais de saúde e instituições com a revisão de diferentes protocolos. É importante reforçar que o debate do tema nas diferentes esferas é fundamental para que todos tenham condições de adotar as práticas mais seguras na redução de riscos tanto ao longo da gravidez, no parto ou logo após o nascimento da criança.
Claro que cada caso tem suas especificidades e o que deve prevalecer é a decisão tomada entre a mãe e o médico, sempre visando a segurança ao longo de todo o período. Veja a matéria da Agência Brasil sobre o tema.