Quem ainda não conhece alguns dos termos do setor, pode não entender importantes mecanismos do funcionamento da saúde suplementar. Uma dessas questões é sobre a sinistralidade. E a gente deixa um pouco mais claro: cada vez que o beneficiário aciona o plano de saúde para marcar um procedimento (consultas, exames ou cirurgias), essas ações são caracterizadas como sinistros. A sinistralidade é a relação entre o número de procedimentos para os quais o plano de saúde foi acionado por um beneficiário e o prêmio (valor pago na mensalidade ou pela empresa).
Vale lembrar que os reajustes do plano de saúde coletivo empresarial ou por adesão são determinados a partir das negociações entre a empresa e a operadora de plano de saúde, de acordo com as regras do contrato. Nesse sentido, são considerados diversos fatores para a negociação e, para se chegar no valor do reajuste, a sinistralidade é levada em conta. Já que os planos de saúde são contratados de forma coletiva, a sinistralidade daquele contrato será avaliada coletivamente. É necessário, portanto, o uso responsável de cada pessoa que usufruir daquele benefício.
Mas porque estamos falando tudo isso? A revista Seguro Total publicou recentemente um artigo que apresenta alguns importantes aspectos sobre o tema, a importância do maior controle dessa taxa e os principais fatores que aumentam os sinistros.
A publicação mostra que um estudo realizado por alunos do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, apontou que a falta de percepção das pessoas sobre a própria saúde é uma das questões que levam à superutilização dos serviços de saúde. Para tanto, operadoras e entidades do setor têm se movimentado. A Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), por exemplo, tem orientado sobre a necessidade de adoção de programas preventivos, buscando reduzir os procedimentos que poderiam ser facilmente evitados por meio da prevenção e do autocuidado.
O artigo também traz outros pontos, como da diminuição do quadro de funcionários da empresa – que irá elevar a taxa de sinistralidade -, os procedimentos desnecessários, como excesso de exames.
A revista ainda reforça a nossa pesquisa IESS/Ibope que mostra que quase 90% dos usuários de plano de saúde de fato utilizam seus serviços, apresenta a satisfação com seu benefício e outros aspectos.
Acesse aqui a publicação na íntegra.
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Mesmo representando menos de 1% do total de procedimentos na saúde suplementar, as internações detêm a maior parcela das despesas do segmento. O alerta está na “Análise Especial do Mapa Assistencial da Saúde Suplementar no Brasil entre 2014 e 2019”. No período analisado, as despesas com esse tipo de procedimento tiveram elevação de 70,1%, saltando de 47,3 bilhões em 2014 para 80,4 bilhões em 2019.
Em 2019, as internações responderam por 44,8% do total das despesas do setor, seguidas por R$ 36 bilhões com exames complementares, o que representa 20,1%, e R$ 25,8 bilhões com consultas médicas, 14,1% dos gastos. Além das despesas com terapias e demais despesas médico-hospitalares.
Em 2019 foram realizadas quase 8,6 milhões de internações entre os beneficiários da saúde suplementar, número 13,9% maior na comparação com 2014. O que mostra que a taxa de internação no setor está aumentando, tendo passado de 15,1%, em 2014 e para 18,4% em 2019.
O Brasil passa por um fenômeno de transição demográfica e envelhecimento populacional. Claro que é um avanço da sociedade e da medicina, mas isso traz um aumento das despesas médicas e acende um alerta para a necessidade de se pensar mecanismos para garantir equilíbrio econômico-financeiro, satisfação e qualidade para todos os envolvidos na cadeia, sejam beneficiários, operadoras e prestadores de serviços.
Para se ter uma ideia, o número de internações por fraturas de fêmur entre idosos (60 ou mais anos) quase dobrou, passando de 10,8 mil para 20,7 mil. Outro dado que chama a atenção é do número de internações por problemas cardíacos, também fortemente relacionados com o envelhecimento da população. A internação por infarto agudo do miocárdio cresceu 38,5% entre 2014 e 2019 e para implantação de marcapasso passou de 10,4 mil para 13,7 mil, avanço de 31,8%. As internações por doenças do aparelho circulatório e respiratório representaram cerca de 11,6% do total de internações em 2019.
Nós já mostramos aqui que o setor de planos de saúde médico-hospitalares registrou aumento das despesas na assistência à saúde, mesmo com redução do número total de beneficiários e também o avanço na quantidade de procedimentos de assistência médico-hospitalar realizados no mesmo período. Veja aqui.
Com o objetivo de contribuir ainda mais com a disseminação de dados da assistência à saúde no Brasil, o IESS elaborou o documento com base nos números do Mapa Assistencial da Saúde Suplementar, publicação anual da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
Acesse aqui o estudo aqui.
Nós já mostramos aqui que o setor de planos de saúde médico-hospitalares registrou aumento das despesas na assistência à saúde, mesmo com redução do número total de beneficiários. A “Análise Especial do Mapa Assistencial da Saúde Suplementar no Brasil entre 2014 e 2019” também mostra que cresceu a quantidade de procedimentos de assistência médico-hospitalar realizados no mesmo período. No intervalo analisado, o número total passou de 1,19 bilhão para 1,43 bilhão, aumento de 19,6%.
Nesse período, observamos que houve um aumento de 28,1% no número de procedimentos por beneficiário, o que corresponde a um salto de 14 exames complementares por beneficiário em 2014, por exemplo, para 19 em 2019. O número de brasileiros com planos de saúde foi de 50,1 milhões para 47,0 milhões, redução de 6,1%, no mesmo intervalo de tempo.
A análise mostra que todos os procedimentos apresentaram aumento, em especial dos exames complementares, com crescimento de 28,7%; terapias, com avanço de 27,7%; e internação, que registrou aumento de 13,9%. Em 2019, foram realizados 916,5 milhões de exames complementares, 277,5 milhões de consultas médicas ambulatoriais, 158,8 milhões de outros atendimentos ambulatoriais (sessões/consultas com fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas, terapeuta ocupacional, psicólogos e outros), 72,0 milhões de terapias e 8,6 milhões de internações.
Importante lembrar que os dados podem significar que os brasileiros estão mais conscientes da importância de se ter um acompanhamento médico ao longo da vida do que realizar visitas pontuais aos prontos-socorros. No entanto, é fundamental estarmos atentos para a superutilização de exames e procedimentos. A publicação reforça a necessidade de repensar o setor, aprimorar sua gestão e enfrentar desafios como a adoção de programas efetivos de promoção da saúde.
Para se ter uma ideia, a análise mostra que, na saúde suplementar brasileira, o número de exames de ressonância magnética por mil beneficiários passou de 115,4 em 2014 para 179,0 em 2019. Essa taxa é superior à média dos Estados Unidos (128,0), da Islândia (109,3) e do Canadá (54,5), por exemplo. Países com os valores mais altos entre os membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Continuaremos apresentando novos dados da “Análise Especial do Mapa Assistencial da Saúde Suplementar no Brasil entre 2014 e 2019”. Acesse o estudo aqui.
Quando se fala em serviços de saúde, é fundamental levar em consideração a sua utilização. Como já alertamos, o excesso de procedimentos também faz mal ao paciente que é, muitas vezes, exposto à riscos desnecessários. Claro, esses exames são extremamente úteis à prática médica e essenciais para diversos diagnósticos. Contudo, também é um fato que muitos dos exames emitem radiação nociva e a prescrição deve ser avaliada caso a caso, como apontamos recentemente. O tema, inclusive, é alvo de campanha da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Se não bastasse os perigos à saúde, a supertilização também onera todo o sistema e é um fator importante no cálculo da VCMH.
Exatamente pela importância em se falar e conscientizar sobre a questão é que divulgamos no trabalho “Tendências no uso de serviços de saúde médicos e odontológicos e a relação com nível educacional e posse de plano privado de saúde no Brasil, 1998-2013” na 23º edição do Boletim Científico. A pesquisa descreveu as tendências no uso dos serviços de saúde médicos e odontológicos e a relação com nível educacional, sexo, idade e posse de plano privado de saúde.
Segundo a pesquisa, houve aumento dos serviços tanto entre indivíduos com planos de saúde quanto os que não possuem. Contudo, verificou-se que o percentual de uso ainda foi maior em todos os anos para aqueles que estão na saúde suplementar. A utilização dos serviços médicos aumentou progressivamente, passando de 55,2% em 1998 para 71,3% em 2013 e, entre os exclusivamente odontológicos, saltou de 1% para 6,3%. O percentual de adultos que consultou dentista no último ano passou de 35,2% para 47%.
Diferentemente do uso de serviços médicos, as pessoas com maior idade tendem a utilizar menos os serviços odontológicos. A idade apresentou tendências inversas comparando o uso do serviço médico com o odontológico no período analisado.
Quer ver esse e outros trabalhos publicados em nosso Boletim Científico? Acesse e conheça.
Acabamos de divulgar nosso estudo especial “Análise da utilização e dos gastos com serviços de assistência à saúde segundo o perfil do usuário – Um estudo de caso”, desenvolvido com base nos dados de uma operadora de autogestão entre os anos de 2008 e 2015. O trabalho traz diferentes dados, como de internações, consultas, exames ambulatoriais e outros procedimentos assistenciais ao longo do período.
O estudo mostra um importante alerta dos setores de saúde em âmbito global. No caso brasileiro, mesmo com a queda do total de beneficiários nos últimos anos, as despesas com a assistência não param de subir. Esse crescimento foi puxado principalmente pelo envelhecimento dos beneficiários, o que tem se refletido em especial nos gastos com internação. Para se ter ideia, o valor médio de uma internação dessa autogestão aumentou quase três vezes em oito anos, de R$ 8,0 mil em 2008 para R$ 23,9 mil em 2015.
A pesquisa mostra que, em valores reais, as despesas assistenciais médico-hospitalares dessa operadora aumentaram 52,7% no período analisado, de R$ 475,3 milhões em 2008 para R$ 725,6 milhões em 2015. Apenas os gastos com internação cresceram 76,9% no período e chegaram a representar 53,0% do total de gastos assistenciais em 2015. Vale lembrar que estudo recente do IESS mostrou que as operadoras de planos de saúde devem gastar R$ 383,5 bilhões com assistência à saúde de seus beneficiários em 2030. O montante representa um avanço de 157,3% em relação ao registrado em 2017.
Na análise, notou-se que a única faixa etária que apresentou crescimento foi a de idosos (60 anos ou mais), que passou de 26 mil em 2008 para 33 mil em 2015, ou seja, aumento de 27,1%. As demais faixas etárias, de até 18 anos e de 19 anos a 59 anos, apresentaram queda de 52,5% e de 41,3%, respectivamente. Proporcionalmente, os idosos representavam 26% do total de beneficiários em 2008. Número que saltou para 44% em 2015.
Importante reforçar que o estudo de caso utilizou dados de uma operadora de plano de saúde da modalidade de autogestão. O universo estudado não representa a totalidade do mercado de saúde suplementar no País, mas é um esforço para se pensar as especificidades das populações, suas características epidemiológicas e necessidades.
Continuaremos apresentando dados do estudo especial “Análise da utilização e dos gastos com serviços de assistência à saúde segundo o perfil do usuário – Um estudo de caso” nos próximos dias. Não perca!