Em meio à pandemia de coronavírus que assola o mundo todo desde o fim de 2019, outro mal do século 21 tem atrapalhado ainda mais: as fake news (notícias falsas). Com o aumento da utilização de recursos tecnológicos em todos os campos da sociedade, a internet se tornou um meio de comunicação muito valioso – e também muito controverso.
A proliferação e abrangência de conteúdos incorretos ou mal intencionados se tornaram verdadeiros empecilhos, sobretudo em uma área tão delicada como a da saúde. Há, por exemplo, um grande temor entre as autoridades de saúde acerca da quantidade de pais que deixaram de vacinar os filhos por conta de boatos sobre falsos riscos causados pelos imunizantes. E esse movimento já tem mostrado a conta com crescimentos exponenciais no número de casos de sarampo e de poliomielite nos últimos anos, por exemplo.
Sendo assim, cabe aos médicos darem o primeiro passo para combater as notícias falsas. Os pacientes continuarão a procurar aconselhamento médico na internet ou recebê-lo por meio dos aplicativos de troca de mensagens com amigos e familiares. O profissional de saúde, portanto, pode ter influência importante na tomada de decisões. Mais do que nunca, eles precisam saber falar com os pacientes sobre alegações imprecisas e oferecer informações corretas.
O portal Medscape falou com Dr. Brian Southwell, especialista em comunicação da ciência que oferece treinamentos para enfrentar este desafio na faculdade de medicina da Duke University. Ele lidera o programa "Medical Misinformation Guiding principles for partnering with patients", que tem como objetivo ajudar profissionais de saúde e pacientes a trabalhar em conjunto para identificar fontes de informação incorretas e construir um novo entendimento sobre a base de fontes baseadas em evidências.
O site elencou uma série de ações para os profissionais de saúde como ouvir o paciente sem interromper, nem julgar; convidar os pacientes a compartilharem o que pode estar afetando suas escolhas com uma pergunta aberta; oferecer orientações fundamentadas de como pensar as decisões, em vez de desacreditar fontes de informação específicas; mostrar interesse pelo paciente, criando conexão emocional; argumentar de forma correta, respeitando os valores de cada indivíduo; entre outros.
Os profissionais de saúde também enfrentam desafios em caracterizar de forma confiável informações de saúde de alta e baixa qualidade. Dra. Isabella Ballalai, médica e vice-presidente da Sociedade Brasileira Imunizações (SBIm), lembrou que os profissionais de saúde também enfrentam desafios em caracterizar de forma confiável as informações que recebem. "Muito médico acredita em fake news. Nosso foco é formar profissionais e não é raro perceber dúvidas nos colegas, se perguntando se algo é verdade ou não. Mas os profissionais que nos preocupam são os que não nos perguntam e simplesmente acreditam. O médico precisa estar informado, saber se informar e ser orientado a identificar e não compartilhar fake news”, afirmou ao Medscape.
Quer entender melhor como fazer sua parte para diminuir a desinformação? Acesse a publicação do Medscape na íntegra.
As chamadas fake news, informações falsas ou distorcidas espalhadas nas redes sociais, se tornaram uma epidemia em âmbito global. As motivações são várias, bem como os temas divulgados com o objetivo de manipular, iludir e prejudicar os diferentes públicos. Há grandes chances de se deparar com conteúdo falso na internet enquanto navega normalmente ou ainda por meio de grupos nas redes sociais e aplicativos de comunicação. Segundo estimativa da PSafe, 8,8 milhões de pessoas no Brasil teriam sido impactadas por fake news nos três primeiros meses deste ano. Portanto, é necessário impedir que conteúdo falso se espalhe. Há, no entanto, situações em que é fácil distinguir fatos de invenções, mas não são todos.
Foi com esse objetivo que o Ministério da Saúde criou um canal para possibilitar que a população consulte se a notícia sobre saúde que recebeu nas redes sociais é verdadeira ou falsa. “Ele servirá exclusivamente para verificar com os profissionais de saúde nas áreas técnicas da pasta se um texto ou imagem que circula nas redes sociais é verdadeiro ou falso. Ou seja, é um canal exclusivo e oficial para desmascarar as notícias falsas e certificar as verdadeiras”, informou o ministério, por meio de nota à época do lançamento. “No caso da saúde, é muito mais grave, porque a notícia falsa mata”, reforçou.
Conforme divulgado hoje pelo jornal O Estado de S. Paulo, seis meses após iniciar um programa de monitoramento, o Ministério já identificou 185 focos de fake news na internet. Por conta do levantamento, o órgão anunciou uma série de medidas contra essa prática. Importante ação será voltada aos pais que estão deixando de vacinar os filhos por causa de boatos repassados na rede sobre supostos riscos da imunização, já que a vacinação foi alvo de cerca de 90% dos focos das mentiras.
Ainda segundo a publicação, há uma série de outros temas com notícias falsas sendo disseminadas, como falsa cura para o diabetes, modos de transmissão de HIV, supostos alimentos “milagrosos” contra doenças e outros.
Os impactos negativos das notícias falsas para a saúde têm sido alvo de preocupação de autoridades em todo o mundo. “É um passo excelente que os órgãos despertem para esse caráter de epidemia que as fake news têm. Assim como as doenças, essas informações erradas viralizam, contagiam e precisam ser combatidas com rapidez”, apontou Luiza Silva, professora da Faculdade de Comunicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) à reportagem do Estado de S. Paulo.