O uso adequado de medicamentos é uma preocupação mundial. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estima, por exemplo, que o número de mortos em decorrência de infecções por supermicróbios pode chegar a 2,4 milhões entre 2015 e 2050, sendo que a principal razão para o desenvolvimento destes organismos é o uso inadequado de medicamentos – saiba mais.
No Brasil não é diferente. O estudo “Uso inadequado de medicamentos e fatores associados no Brasil: uma abordagem a partir de uma pesquisa domiciliar no País” , apresentado na última edição do Boletim Científico , constatou que 46,1% dos brasileiros apresentam algum tipo de conduta errada ao utilizar remédios.
O trabalho, liderado por Vera Lucia Luzia, analisou as informações da Pesquisa nacional sobre acesso, utilização e promoção do uso racional de medicamentos no Brasil (PNAUM) de 2013–14 e apontou que 36,6% dos brasileiros utilizam medicamento sem prescrição médica. Além disso, a prática é mais comum entre: mulheres; residentes da região Nordeste; pessoas que não visitam o médico regularmente ou se consultam com mais de um médico; não têm acesso gratuito a medicamentos; e, usam cinco ou mais remédios.
Há outras pesquisas que indicam o problema e destacam a necessidade de avançar em programas de promoção de saúde com foco em conscientização da população para a importância de não tomar medicamentos sem prescrição e, tão importante quanto, respeitar as doses e os períodos determinados pelos médicos. Ano passado, por exemplo, comentamos um levantamento feito pelo Datafolha a pedido do Conselho Federal de Farmácia (CFF) – relembre.
Claro, o Brasil também precisa debater a capacidade dos profissionais em receitar medicamentos corretamente. Já que equívocos podem acontecer não só em função de falta de preparo, mas de alta frequência de atendimentos em jornadas de trabalho muito longas e mesmo de um modelo mental centrado na doença e não no paciente. A questão foi muito bem analisada pelo Dr. Daniel Neves Forte, coordenador da equipe de Cuidados Paliativos do Hospital Sírio-Libanês, durante o seminário "Decisões na Saúde - Cuidados Paliativos e Nat-Jus: Iniciativas da Medicina e do Direito que geram segurança ao paciente e sustentabilidade ao sistema". Vale rever.
Parece claro e cada vez mais lógico que o setor de saúde avance na questão de transparência de informações, a exemplo do que acontece em outros mercados e mesmo neste segmento econômico ao redor do mundo. Contudo, a experiência internacional revela que é preciso ter clareza dos resultados que se busca obter a partir da publicização de dados do setor de forma recorrente, transparente e compreensível para os diversos públicos interessados. Mais do que isso, é necessário foco e a elaboração de legislação detalhada para que os resultados obtidos não sejam o oposto dos esperados com a transparência das informações.
O assunto é complexo. Talvez este seja o mais inescrutável dos assuntos já tratados por aqui. Mas o TD 76 – “Transparência em saúde no Brasil e no mundo: onde estamos e como podemos avançar” –, que acabamos de publicar, traz importantes indicativos de como progredir nessa agenda.
A despeito da profusa coletânea de posts, estudos e eventos que temos sobre a importância da transparência no setor – são 117 publicações no site, confira – o novo estudo deixa claro que nem toda transparência é positiva.
Obviamente, ainda precisamos de indicadores de qualidade capazes subsidiar decisões clínicas e apontar, por exemplo, qual o melhor hospital para passar por um parto de risco ou o melhor centro clínico para um transplante de rim etc. Transparência é fundamental para detectar falhas, como os eventos adversos, e criar programas pragmáticos para combater este problema, como aponta o 2° Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil. Relembre.
O TD 76 demonstra, também, que há casos em que a transparência pode resultar em comportamentos completamente opostos aos desejados, especialmente quanto aos preços praticados entre os diversos elos do setor. Programas que obrigam a divulgação de preços praticados por hospitais para Operadoras de Planos de Saúde (OPS), por exemplo, tendem a se tornar um incentivo perverso com efeito propulsor dos preços médios praticados. Isso porque negociações específicas que possibilitariam custos mais acessíveis tendem a ser inviabilizadas na medida em que os agentes não estariam propensos a praticar os mesmos preços para todo o mercado.
O movimento é semelhante ao que acontece em escala global, quando farmacêuticas se recusam a divulgar os preços acertados com governos de diferentes países, já que não poderiam manter as melhores condições negociadas com um País para todos os outros – seja por questões de escala ou outros interesses estratégicos particulares de cada instituição.
Mesmo os resultados do Physician Payments Sunshine Act, a mais emblemática legislação de transparência do setor no mundo, parecem estar aquém do almejado. A pesquisa “Effect of the public disclosure of industry payments information on patients: results from a population-based natural experimente”, publicada em 2019, indica que não houve aumento significativo das pessoas que sabiam se o seu médico havia recebido pagamentos da indústria, ainda que tenha crescido a parcela da população que afirmava saber da existência de dados públicos para consulta.
Nesse sentido, a pesquisa IESS/Ibope aponta que 48% dos beneficiários de planos de saúde gostariam de saber se seu médico ou hospital recebe algum tipo de benefício da indústria farmacêutica, mas apenas 35% trocariam de médico ou hospital em caso de resposta afirmativa.
De modo geral, o estudo destaca que mais do que transparência total, o setor precisa de políticas bem estruturadas, capazes de assegurar aos contratantes e, mais importante, aos pacientes, uma ferramenta adequada para comparar os prestadores de serviços de saúde disponíveis e escolher a melhor opção com foco em qualidade assistencial.
O assunto, claro, está longe de ser esgotado. Então, se você também se interessa por este tema, continue acompanhando nosso blog.
Quem acompanha minimamente o setor de saúde já sabe: não somos apenas nós que falamos incessantemente sobre a importância da integração dos cuidados ao paciente. E a prática vem por meio de uma série de medidas que devem auxiliar todo o setor a se desenvolver. Além de representar uma melhora da assistência ao paciente, mudanças no paradigma atual significam também a possibilidade de frear os crescentes gastos.
Recentemente, artigo publicado no Saúde Business traz importantes pontos para cuidados mais centrados no paciente. De autoria de Robert Nieves, vice-presidente global para informática em saúde da Elsevier, o material elenca 3 importantes práticas que, segundo o autor, são fundamentais para alcançar um processo de planejamento de cuidados bem-sucedido: processo de avaliação eficaz; ferramentas de apoio à decisão clínica para planos de cuidados; e educação do paciente.
Para tanto, a vigilância contínua do quadro clínico é grande importância. Com isso, pode-se prevenir e detectar precocemente diversos problemas. Essas falhas na prestação do serviços estão totalmente relacionadas com nosso Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil.
Nós já falamos aqui no Blog que a publicação mostra que os hospitais públicos e privados do Brasil registraram, em 2017, seis mortes, a cada hora, decorrentes dos chamados “eventos adversos graves”, ocasionados por erros, falhas assistenciais ou processuais ou infecções, entre outros fatores. Outro fator importante apontado pela publicação é que esses eventos consumiram R$ 10,6 bilhões apenas do sistema privado de saúde no período analisado.
Um dos pontos fundamentais na busca por frear os crescentes gastos em saúde diz respeito à mudança do modelo da assistência, como de práticas que foquem na Atenção Primária à Saúde. Como temos falado periodicamente.
Além disso, o cuidado fragmentado resulta em maior número de entradas de urgência, emergência e de internação. Exatamente pela importância do tema que incluímos o estudo “Atendimento Ambulatorial Fragmentado e Utilização Subsequente de Cuidados de Saúde Entre os Beneficiários do Medicare” na 24º edição do “Boletim Científico IESS” , que reforça a necessidade de assistência contínua e integrada para o bem-estar do paciente e do sistema de saúde.
Quer conferir na íntegra os pontos apontados pelo especialista? Veja o artigo publicado na Saúde Business
O foco de todo esforço no campo da saúde é (ou deveria ser) oferecer melhores resultados aos pacientes, aliando custo-efetividade e qualidade assistencial. Na busca por empoderar os beneficiários de planos de saúde, uma das ações mais importantes é conferir mais transparência ao setor, como já apontamos aqui no Blog.
Nesse sentido, aproveitando o Dia Mundial do Consumidor, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) publicou uma lista elencando os principais pontos a serem avaliados durante o processo de contratação de um plano de saúde – confira aqui.
A iniciativa também é extremamente positiva para as Operadoras e para a sustentabilidade econômico-financeira do setor. Afinal, acreditamos que ter beneficiários melhor informados e mais próximos do processo decisório – efetivamente no controle de sua própria saúde – é um passo certeiro no caminho de reduzir desperdícios e até mesmo a judicialização na saúde. Vale lembrar, há evidências na literatura que descrevem que a mudança de um plano normal para um plano de franquia anual com poupança pode causar uma redução das despesas entre 11,1% e 15,4% apenas em função do incentivo ao controle de custos pelos próprios beneficiários – saiba mais.
Também há evidências internacionais sobre a relevância de disponibilizar informações para os pacientes. A palestra de Andrew Vallance-Owen, presidente do Private Healthcare Information Network (PHIN), durante sua apresentação no Seminário Internacional Qualidade Assistencial e Segurança do Paciente em Serviços de Saúde, que realizamos em agosto do ano passado, demonstrou como a disponibilização de informações para as escolhas dos pacientes no sistema privado de saúde foi benéfica ao Reino Unido. Confira.