No último mês, o Jornal Grande Bahia divulgou um artigo que evidencia como a gestão hospitalar está diretamente relacionada com a segurança do paciente, tema que deve ser priorizado pelas diferentes instituições.
Para tanto, a publicação retoma os dados que divulgamos no último ano no primeiro Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil, produzido em conjunto com a Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Entre os números do estudo, o que mais se destaca é a morte de 829 brasileiros todos os dias em decorrência de condições adquiridas nos hospitais.
Segundo o artigo, o Conselho Federal de Medicina (CFM) ratifica que há deficiências na infraestrutura física, falhas administrativas e falta de controle interno nos estabelecimentos de assistência hospitalar no Brasil. O CFM indica a necessidade da “adoção de um conjunto de ações, da capacitação das equipes de assistência, da qualificação da rede assistencial pública e privada, do aumento dos investimentos, da valorização dos profissionais, do aperfeiçoamento da gestão e da criação de mecanismos eficazes de avaliação, monitoramento e controle”, repercute o texto.
Além da necessária atualização, capacitação e valorização dos profissionais, a nota do CFM tangencia temas cruciais à saúde suplementar no país: qualificação e avaliação. Temas ainda mais sensíveis quando falamos da rede hospitalar. É por isso, que reforçamos constantemente que a divulgação de indicadores de qualidade e de desempenho na saúde pode se tornar um fator transformador para o país, tanto para serviços públicos quanto particulares.
Esta mudança possibilita que o beneficiário seja capaz de escolher melhor onde deseja ser atendido e ainda contribui para todo o sistema, seja na correta remuneração dos prestadores de saúde ou ainda para criar referências sobre performance de profissionais e instituições, contribuindo para um avanço na prestação de serviços de toda a cadeia e impactando diretamente na segurança do paciente, tema caro na agenda de pautas do setor.
Como apontado por Renato Couto no Seminário Internacional "Indicadores de qualidade e segurança do paciente na prestação de serviços na saúde" - na apresentação “Impactos da ausência de indicadores de qualidade na prestação de serviços de saúde no Brasil”, um conjunto de indicadores de alta relevância para hospitais está diretamente relacionado com a transparência do setor e com o empoderamento dos diferentes clientes, sejam beneficiários, operadoras ou compradores de planos de saúde.
Não custa lembrar, em 2016, aproximadamente 19% dos gastos assistenciais da saúde suplementar no país foram consumidos por desperdícios e fraudes, segundo nosso estudo. Esse percentual representou cerca de R$25,5 bilhões no ano de 2016, somando contas hospitalares e de exames.
Se na medicina causa e efeito é uma relação comum na rotina dos profissionais quando se fala de exames, procedimentos e medicamentos, quando se fala das especificidades do setor de saúde não é diferente: a falta de transparência está diretamente relacionada com o desperdício em todo o setor.
Se você não pode acompanhar o Seminário Internacional "Indicadores de qualidade e segurança do paciente na prestação de serviços na saúde", que realizamos em 26 de outubro no Hotel Renaissance, em São Paulo, mas gostaria de ver as palestras do evento, essa é sua chance.
Além de fotos, palestras e dos estudos divulgado na ocasião, agora acrescentamos os vídeos com as apresentações dos palestrantes e os debates à página do evento. Se preferir, você também pode acessar diretamente pela lista abaixo:
Abertura – Luiz Augusto Carneiro, superintendente executivo do IESS
Nos últimos dias, temos falado dos impactos causados por eventos adversos em hospitais, seja no número de vidas perdidas ou no total de recursos financeiros desperdiçados, e da importância de se dar transparência aos eventos adversos para que possamos enfrentá-los.
Hoje, apresentamos dois exemplos práticos de como a adoção de indicadores de qualidade e a transparência deles podem ajudar nesse processo. Os dois casos foram relatados por Matt Austin, pesquisador e professor da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins e supervisor científico de Pesquisa Hospitalar do The Leapfrog Group (EUA) durante sua apresentação no seminário internacional "Indicadores de qualidade e segurança do paciente na prestação de serviços na saúde", que realizamos no dia 26 de outubro no Hotel Renaissance, em São Paulo.
No primeiro caso, o acompanhamento de partos eletivos entre a 37° e a 39° semanas de gravidez para mulheres que nunca tiveram filhos e carregam apenas uma criança na posição cefálica (com a cabeça para baixo) – ou seja, partos de baixo risco – indicou que apesar de a indicação nacional ser para que esses partos (cesarianos ou induzidos) aconteçam no máximo em 23,9% dos casos, 60% dos hospitais-maternidade nos Estados Unidos estavam realizando-os com mais frequência do que o indicado.
Além disso, apesar de a gestação ser considerada completa a partir da 37° semana, de acordo com o padrão daquele país, os bebês nascidos de partos induzidos ou cesarianas nesse período apresentaram maior incidência de problemas respiratórios e problemas de desenvolvimento cerebral. O que indica que as duas últimas semanas são muito importantes em termos de desenvolvimento dos sistemas respiratório e nervoso.
No começo da pesquisa, cerca de 17% dos bebês nos Estados Unidos nasciam nessas condições. Frente aos resultados, foi feita uma mobilização nacional para reduzir esse número para 5% dos recém-nascidos. O programa foi um sucesso e, de acordo com os dados do The Leapfrog Group, apenas 2,8% dos bebês, hoje, nascem de partos eletivos antes da 39° semana.
O segundo caso, também emblemático, aconteceu no estado americano do Maine, e mostra a força que os pacientes têm para exigir que indicadores de qualidades sejam adotados pelos hospitais e seus resultados sejam publicados de maneira transparente.
No Maine, a maior parte dos planos de saúde é contratada pelo estado para os seus servidores. Para estimular os servidores estaduais a buscar prestadores de serviços que apresentavam alto desempenho de acordo com a Pesquisa Leapfrog de Qualidade, os servidores não teriam que pagar a franquia quando fossem nesses hospitais. Por outro lado, ao se consultar em um hospital que não foi bem avaliado, os servidores teriam que pagar a franquia de US$ 250.
Muitos dos servidores ficaram chateados, de acordo com o relato de Austin, e começaram a cobrar os hospitais a adoção de indicadores e a participação na pesquisa. Hoje, 100% dos hospitais daquele estado participam da pesquisa, com a apresentação de melhoras expressivas de qualidade e seis deles figuram entre os melhores dos Estados Unidos.
Postamos aqui que a divulgação de indicadores de qualidade e de desempenho na saúde pode se tornar um fator transformador para a área. Capaz de auxiliar o beneficiário na escolha de onde deseja ser atendido, contribuir para a justa remuneração dos prestadores, criar referências sobre performance e possibilitando que cada profissional e instituição tenham condições de analisar seu desempenho atual em comparação aos concorrentes.
Mas, como seria possível adotar esse padrão de transparência? Essa é uma das respostas que esperamos obter no Seminário Internacional "Indicadores de qualidade e segurança do paciente na prestação de serviços na saúde", que vamos realizar no próximo dia 26, em São Paulo.
No evento, teremos a participação do Ministério da Saúde e da ANS, que apresentarão suas respectivas visões sobre o tema. Nossa análise inicial é que o Ministério dispõe dos dispositivos legais e legitimidade para passar a exigir que os indicadores de qualidade sejam tornados públicos. Mas essa é uma agenda que pode ser construída sem precisar ser imposta.
Para tal, toda a cadeia produtiva do setor de saúde e, principalmente, a população que usa esses serviços, precisa ser sensibilizada a respeito da importância e dos benefícios que a transparência dos dados pode prover ao sistema.
Muitos setores econômicos têm manifestado que a própria sociedade, por meio da academia, de organizações de classe, empresas e profissionais, deveria ser capaz de encontrar as soluções para os problemas que comprometem seu desempenho, sem depender da força de uma lei. O debate de “menos Estado e mais cidadania” tem crescido muito em distintos fóruns.
Entretanto, dadas as características do setor de saúde, especialmente no Brasil, com um elevado grau de regulação e força das leis, nosso entendimento é que a construção do arcabouço regulatório em prol da transparência deve também advir de força de legislação, com total participação e envolvimento de todos os elos da cadeia produtiva.
Vamos aguardar os debates no nosso evento. Certamente com o conhecimento das experiências internacionais e em um debate franco, ético e técnico, poderemos avançar nas soluções.
Na vida, estamos sempre comparando. Quando vamos comprar um carro, comparamos preços, design, segurança, tecnologia oferecida, economia de combustível... O mesmo vale na aquisição de um apartamento, quando decidimos nos hospedar em um hotel e, de uma forma mais ampla, em qualquer contratação de serviços. Por que, então, quando falamos de saúde isso deveria ser diferente?
A resposta, obviamente, é que não deveria.
Acontece que no Brasil não há métricas adequadas para aferição de qualidade de prestadores de serviços de saúde que permitam a correta comparação entre os concorrentes. Especificamente no segmento de saúde suplementar, a comparação é possível porque a ANS oferece uma série de indicadores de avaliação das operadoras: Dados dos Planos e Operadoras, Monitoramento da Garantia de Atendimento, Programa de Qualificação de Operadoras e Índice de Reclamações, entre outros.
No caso de prestadores, infelizmente, não temos como comparar se as melhores práticas recomendadas são exercidas em nossa região ou pelos prestadores que fazem o atendimento do nosso plano. Faltam critérios e indicadores de qualidade e de performance para mensurar a performance e diferenciar prestadores de serviço (médicos, clínicas, laboratórios e hospitais). Seja para recompensar a eficiência e o melhor desfecho clínico, seja para penalizar desperdícios. Muito da reputação dos prestadores advém de fatores como acreditação e percepção de qualidade dos pacientes, mas, efetivamente, não se tem informações, por exemplo, da quantidade de eventos adversos ocorridos em um hospital ou de qual é o porcentual de infecções considerando o volume global de atendimentos.
Independentemente do porte ou da localização do prestador, essa informação não está disponível. Mas isso não precisa ser assim. A agenda da transparência é crucial para o setor.
Nos Estados Unidos, apenas para dar um exemplo, é possível pesquisar hospitais por nome ou região (cidade, estado etc.) e comparar seus resultados aos demais concorrentes, ou mesmo do País, em mais de 60 quesitos. Por exemplo: é possível conhecer com que frequência um hospital é procurado para tratar doenças do coração, pneumonia, asma ou uma série de outras doenças; quais os índices de readmissão, infecção hospitalar e mortalidade; valores cobrados por procedimentos; e muito mais.
Tudo isso de forma rápida e fácil, na internet, para que qualquer pessoa possa fazer comparações a qualquer momento, onde quer que esteja e, em caso de necessidade, contar com critérios claros para a tomada de decisão. Esse poder de decisão ao paciente é um dos principais fatores para a melhoria do sistema de saúde.
Uma dessas ferramentas disponíveis é o Hospital Compare, mantido pelo governo como parte do Medicare; outra, o The Leapfrog Group, mantido pela iniciativa privada. As próprias seguradoras nos EUA mantém uma estrutura de captação de informações totalmente independente para prover o paciente com a máxima informação disponível.
A ideia de empoderar o paciente para que ele possa escolher onde quer ser tratado e como implementar esses sistemas no Brasil estará entre os temas do seminário internacional "Indicadores de qualidade e segurança do paciente na prestação de serviços na saúde", que realizaremos dia 26 no Hotel Renaissance, em São Paulo. Não perca a chance de debater o assunto com um dos maiores especialistas mundiais, Matt Austin, pesquisador e professor da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins e supervisor científico de Pesquisa Hospitalar do The Leapfrog Group. As inscrições são gratuitas, mas as vagas são limitadas.
Não temos dúvidas de que, se o sistema de produção de indicadores de qualidade for estabelecido e tornado público no Brasil, os pacientes vão se sentir mais seguros na sua escolha. Vão adorar! Ou não vão?
A aplicação de indicadores de qualidade e de performance (já debatida várias vezes aqui no Blog) é fator elementar para qualquer setor produtivo mensurar seu desempenho, identificar oportunidades de aperfeiçoamento e, assim, poder situar-se em relação a competidores locais e externos. Na saúde, esse princípio é fundamental e ainda mais sensível porque se trata de preservar vidas e garantir segurança e qualidade ao paciente.
Infelizmente, o sistema de saúde do Brasil, público e privado, foi construído sem eleger a mensuração de desempenho e da qualidade como um princípio e referência para avaliar o mercado. De tal forma que serviços de saúde são avaliados e precificados, essencialmente, com base na “percepção da qualidade e de desempenho”, no poder de mercado e capacidade de negociação desses prestadores e por fatores que não necessariamente confirmam a qualificação, caso de certificados normativos e acreditações.
O País carece definir, implementar e dar publicidade aos indicadores de qualidade e de desempenho dos prestadores de serviço de saúde no Brasil, de maneira a mensurar, com máxima transparência, a qualidade dos serviços prestados. Assim, empodera-se o paciente com informações concretas e realistas para que ele escolha a quem conferir os cuidados de sua saúde; os prestadores passam a ser comparáveis por seu desempenho, o que cria uma agenda voltada à qualidade e, portanto, maior segurança assistencial ao paciente; e os contratantes dos serviços de saúde passam a dispor de informações mais qualificadas para a decisão de precificação e remuneração dos serviços.
É para debater a situação do sistema brasileiro de saúde, a atual ausência de indicadores de qualidade e de performance, como esse processo se dá no mercado internacional e apresentar propostas para a melhoria do sistema do Brasil que o IESS realiza, no dia 26 de outubro, no Hotel Reanissance (Alameda Santos, 2233. Jardim Paulista, São Paulo – SP) o Seminário Internacional "Indicadores de qualidade e segurança do paciente na prestação de serviços na saúde - Melhores práticas internacionais e propostas para a constante melhoria da qualidade na saúde no Brasil". Contaremos com alguns dos maiores especialistas nesse tema, brasileiros e estrangeiros, além de apresentar estudos de caso e propostas efetivas. Participe você também!