Workshop FenaSaúde - VCMH
Apresentação feita por Luiz Augusto Carneiro, superintendente executivo do IESS, no 2º Encontro de Comunicação da Saúde Suplementar - FenaSaúde, realizado em São Paulo (SP)
Os efeitos da pandemia do coronavírus tiveram reflexo na Variação dos Custos Médico-Hospitalares (VCMH) no ano de 2020. O índice, apurado pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), foi negativo em 1,9%, indicando queda nos custos pagos pelas operadoras de planos de saúde individuais, quando comparados aos 12 meses anteriores. Em 2019, o índice havia registrado alta de 14,5%.
Apresentação feita por Luiz Augusto Carneiro, superintendente executivo do IESS, no 2º Encontro de Comunicação da Saúde Suplementar - FenaSaúde, realizado em São Paulo (SP)
O teto do reajuste para planos individuais mal saiu e já tem gente o comparando ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no País. Contudo, queremos lembrar que essa não é uma análise adequada.
Isso porque o reajuste vem para equilibrar a variação de custos médico-hospitalares (VCMH) e, embora entendamos que a comparação entre VCMH e IPCA tem o propósito de avaliar as variações do peso dos planos de saúde nos orçamentos domésticos, é inadequada, uma vez que os indicadores são incomensuráveis.
Com o intuito de evitar que essa visão continue predominando, lançamos a “Nota sobre a Variação dos Custos Médico-Hospitalares (VCMH)”, que explica como é calculado o índice e aponta suas diferenças para os indicadores que medem a inflação no País, como o IPCA ou o Índice Geral de Preços (IGP), entre outros.
Para começar, o cálculo da inflação é feito a partir da aferição da variação dos preços de uma determinada cesta de itens. O que é importante, por exemplo, para detectar a flutuação de preços de combustíveis e alimentos. Na saúde, entretanto, mais do que a variação de preços de materiais (como gazes, seringas etc.) ou procedimentos (como consultas, internações etc.), é fundamental aferir também a frequência de utilização dos serviços.
Isso porque a variação da despesa somente seria igual à dos preços (inflação) se não houvesse oscilação da frequência. O que não tende a acontecer.
Vale lembrar, mesmo com a redução de beneficiários nos últimos anos, temos visto um aumento expressivo de uso de serviços médicos. Entre 2017 e 2018, tivemos uma leve variação de 0,3% no total de beneficiários, mas a quantidade de procedimentos realizados saltou 5,4%, chegando a 1,4 bilhão. Ao analisar períodos mais longos, o aumento é ainda mais claro: entre 2007 e 2018, por exemplo, a realização de exames avançou 26,4%; de consultas, 21%; e de terapias, 76,2%.
Há uma série de fatores que influenciam a frequência de uso desses serviços e que devem continuar a impulsionar a VCMH. Entre os principais, destacam-se o envelhecimento – que abordamos aqui – e a incorporação de novas tecnologias. Os desperdícios ainda pesam nos custos – tratado aqui – e a judicialização da saúde – aqui.
O documento ainda reforça que a VCMH não pode ser comparada nem mesmo ao IPCA Saúde, componente do IPCA que mede a variação de preços de itens classificados como “saúde e cuidados pessoais” na cesta de serviços aferida pelo IBGE: materiais e medicamentos, exames laboratoriais, honorários médicos, taxas e diárias hospitalares, planos de saúde, produtos de higiene e limpeza etc. Isso porque esse índice, como todos os indicadores de inflação de preços, não considera a variação da frequência de utilização.
Vamos deixar mais claro: em um cenário em que as pessoas faziam 4 consultas ao custo de R$ 100 cada no ano 1 e passaram a fazer 5 consultas ao custo de R$90 cada no ano 2, o IPCA Saúde captaria uma deflação de 10%, enquanto a VCMH indicaria um avanço de 12,5%, resultante do gasto per capita ter subido de R$400/ano para R$ 450/ano.
Esperar que o setor passe a ter reajustes em linha com o IPCA ou qualquer indicador de inflação, sem considerar o peso da variação da frequência de uso, é uma receita que compromete a sustentabilidade econômico-financeira da saúde suplementar.
As despesas assistenciais per capita de operadoras de planos de saúde com exames, consultas, terapias, internações e serviços ambulatoriais de beneficiários de planos médico-hospitalares voltaram a acelerar e encerraram 2018 com alta de 17,3%, de acordo com o Índice de Variação de Custos Médico-Hospitalares (VCMH/IESS) que acabamos de publicar. Em relação a 2017, o índice registrou avanço de 0,8 ponto porcentual.
O aumento da VCMH resulta de múltiplos fatores. Entre eles, o aumento da frequência de utilização e o aumento dos preços unitários de materiais, medicamentos, honorários, taxas e diárias. Fatores como incorporação de novas tecnologias e o envelhecimento populacional também têm impacto. Entre 2018 e 2017 os itens de despesas que mais cresceram foram as Terapias (hemoterapia, Litotripsia Extracorpórea, quimioterapia, radiologia intervencionista, radioterapia, terapia renal etc.), com aumento de 31,3%, seguida de Serviços Ambulatoriais com avanço de 19,7%.
O item de internação tem um peso elevado na composição do índice, e por isso, sua variação fica muito próxima da média. Em 2017 e 2018 o valor ficou ligeiramente abaixo da média de todo o setor, em 16,5%. Resultado da elevação de 8,6% da frequência de utilização e do aumento no custo médio, de 7,4%. Acreditamos que a variação da internação hospitalar só não foi maior em função do movimento das operadoras e prestadores de serviços médicos em iniciar uma migração para pacotes, diárias globais etc.
O aumento da frequência de itens de consultas, internações e outros procedimentos são fatores que justificam o reajuste de planos em um nível superior ao da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ou mesmo de suas componentes que apuram a variação de preços de produtos de saúde, como o IPCA Saúde. Para se ter uma ideia do peso da frequência de uso na conta, pode-se imaginar uma situação em que os custos de serviços de saúde caiam, mas a despesa aumenta devido ao aumento da frequência. Por exemplo: se as consultas médicas custassem, em média, R$ 100 e passassem a custar R$ 95, indicadores como a inflação registrariam uma queda de 5% (deflação). Contudo, se no mesmo período a frequência de realização de consultas passar de 5,0 para 5,5 o custo per capita passa de R$ 500,00 para R$ 522,50, com aumento de 4,5%. Claro, a tendência não é que os custos médios de cada procedimento caiam, assim como não temos deflação no País. Mas o exercício lógico mostra porque a VCMH continua acima da inflação. O que não é natural é esperar que a VCMH fosse semelhante ou igual ao IPCA, isso porque inflação mede apenas variação de preços enquanto a VCMH mede a combinação da variação de preços com a variação de frequência
A crescente judicialização que se observa tanto no setor público quanto na saúde suplementar é outro poderoso promotor das despesas e acrescenta iniquidades pois, em muitos casos, privilegia o individual à custa do coletivo. Assim como a incorporação de tecnologia, um fenômeno que acontece no mundo inteiro e com impactos semelhantes.
Importante lembrar, também, que o processo de transição demográfica, com a maior participação de idosos no total da população, impacta diretamente na demanda de serviços de saúde, em especial de internações. E a faixa etária de idosos é a que mais cresce no mercado brasileiro de saúde suplementar.
Nos próximos dias analisaremos mais detalhadamente essas questões. Não perca.
Os custos médico-hospitalares devem crescer 7,6% no mundo em 2019 de acordo com o relatório Global Medical Trends que acaba de ser lançado pela Willis Tower Watson. O documento é um dos mais respeitados no mundo e sua edição de 2018 serviu de base, juntamente com levantamentos de Aon Hewitt e Mercer para o TD 69 – "Tendências da variação de custos médico-hospitalares: comparativo internacional".
De acordo com o novo relatório, o avanço dos custos médico-hospitalares deve ser mais modesto na Europa (ao redor de 5%) e mais severo no Oriente Médio e África (superior a 12%). Nas Américas, o crescimento esperado é de 10,7%. Contudo, nos Estados Unidos o avanço deve ser de 7,9%. Já para o Brasil, a entidade projeta um aumento de 15,3%. No mesmo continente, apenas Argentina deve ter um incremento maior nos gastos com o setor superior ao brasileiro: 23,5%.
Fora das Américas, Vietnam (16,3%), Turquia (18,2%), Argélia (20%), Costa do Marfim (20%), Madagascar (20%) e Gabão (30%) se unem à lista de países com aumento dos custos superior ao projetado para o Brasil. O relatório analisou 77 países no total.
No caso brasileiro, a Towers indica que o aumento acima da média global se deve ao volume de procedimentos (consultas, exames, terapias etc.) desnecessários e à incorporação de novas e custosas tecnologias e procedimentos ao Rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o que torna sua cobertura obrigatória pelos planos.
O uso exagerado de serviços médicos, aliás, é identificado como o principal fator de aumento dos gastos no setor no mundo. Em seguida aparece a incorporação de novas tecnologias. Entre os tratamentos que mais “consomem” recursos, aqueles para câncer, doenças cardiovasculares e musculoesqueléticas lideram a lista – o que não é uma surpresa. A novidade nesse sentido é que mais de um terço dos respondentes acredita que as doenças mentais devem entrar para este ranking já nos próximos cinco anos.
Outra tendência que preocupa para os próximos cinco anos é o aumento das despesas dos planos com produtos farmacológicos, que devem crescer consideravelmente em todo o mundo.
Olhando um pouco mais para longe, a prevalência de diabetes é um dos pontos que mais tem preocupado a comunidade médica ouvida pelo levantamento. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (WHO, na sigla em inglês), se medidas sérias não forem tomadas agora, o total de diabéticos na Índia deve chegar aos 87 milhões em 2030. O que equivaleria a 5,7% dos 1,53 bilhão de habitantes que o País deve ter nesse ano segundo projeção da Population Reference Bureau (PRB), dos Estados Unidos. No mesmo ano, ainda empregando a projeção de crescimento da população do PRB e as estimativas de avanço da prevalência da doença da OMS, 12% dos chineses ou 170 milhões de pessoas estariam na mesma situação.
A questão não deve, entretanto, ser analisada como um problema para o futuro, mas atual. De acordo com o relatório da Towers, 14% dos mexicanos já morrem em decorrência de diabetes e problemas relacionados. Ou seja, é cada vez mais importante iniciativas como as que debatemos ao longo do último mês aqui no Blog.
Ontem, aqui no Blog, explicamos a diferença básica entre o cálculo da VCMH e da inflação geral medida pelo IPCA. De acordo com o TD 69 – Tendências da variação de custos médico-hospitalares: comparativo internacional –, há uma série de fatores impulsionando a VCMH não só no Brasil, mas no mundo. As principais são a incorporação de novas tecnologias e o processo de envelhecimento.
No Brasil, como já apontamos aqui no Blog e em diversos documentos disponíveis na área temática, a saúde suplementar não dispõe de uma agência específica para avaliação de tecnologias em saúde e só agora caminha para o estabelecimento de regras claras para o processo de atualização do Rol, definindo as etapas, os requisitos documentais entre outras coisas (Cosaúde discute proposta de regulamentação do processo de atualização do Rol.
É importante observar que mesmo em países como Canadá, Austrália, Holanda e Reino Unido, que contam com sistemas robustos de análise de custo e efetividade para a incorporação de novas tecnologias, este ainda um fator de aumento da VCMH. Não é de se estranhar, portanto, que a falta de avaliação de tecnologias em saúde (ATS) seja um dos principais motivos propulsores da VCMH. Afinal, não há recurso para ofertar tudo, o tempo todo, para todos.
Na mesma linha, o envelhecimento populacional (sem dúvidas, um enorme mérito da medicina moderna) tem um peso significativo no aumento da utilização dos serviços de saúde. Especialmente de internações. Dados do IBGE indicam que, em 2030, o Brasil contará com mais de 223 milhões de brasileiros, sendo 18,62% com 60 anos ou mais. Publicado em 2016, o TD 57 – Atualização das projeções para a saúde suplementar de gastos com saúde: envelhecimento populacional e os desafios para o sistema de saúde brasileiro – estima que frente a esse avanço da população com mais de 60 anos, os gastos assistenciais podem chegar a R$ 396,4 bilhões em 2030, o que representaria um avanço 268,4% em comparação a 2014. Já o estudo especial “Caracterização dos beneficiários de alto custo assistencial – um estudo de caso” indica que 66,5% dos gastos assistenciais são consumidos por apenas 5% dos beneficiários, principalmente devido a internações de pessoas com idade avançada.
Algumas falhas de mercado também são apontadas pelo TD 69 como motores da VCMH. Especialmente a ausência de indicadores de qualidade que possibilitem identificar os melhores prestadores de serviços e realizar uma precificação mais justa dos serviços de saúde; e a falta de transparência nas relações entre os agentes de mercado. Práticas que encontram amparo no modelo de pagamento de serviços de saúde chamado fee-for-service, ou “conta aberta”, atualmente empregado no Brasil. Outro dos temas recorrentes aqui no Blog, não por falta de alternativas – Para saber mais, consulte nossa área temática.
Ainda pesa nessa conta, ao menos no caso brasileiro, o período de recessão econômica e aumento do desemprego que resultou na queda do total de beneficiários, sem uma correspondente redução de custos assistenciais; a judicialização da saúde; e os elevados custos de OPMEs, uma questão que esbarra em problemas como assimetria de informação e até mesmo fraudes.
Por conta desses problemas, embora as estimativas variem um pouco entre os relatórios das três consultorias analisadas no TD 69 (Aon Hewitt, Mercer e Willis Towers Watson), a VCMH para planos empresariais médico-hospitalares do Brasil é de aproximadamente 17%, o que nos coloca entre os 10 países de maior VCMH do mundo.
Para entender melhor essa comparação, não deixe de ler o Blog de amanhã!
O índice de Variação do Custo Médico-Hospitalar do IESS – VCMH/IESS– expressa a variação do custo médico hospitalar per capita das operadoras de planos de saúde entre dois períodos consecutivos de 12 meses cada. A amostra utilizada para o cálculo do índice VCMH representa aproximadamente 10% do total de beneficiários de planos individuais (antigos e novos) distribuídos em todas as regiões do país.
Essa metodologia é reconhecida internacionalmente e aplicada na construção de índices de variação de custo em saúde, como o S&P Healthcare Economic Composite e Milliman Medical Index. Além disso, o índice VCMH/IESS considera uma ponderação por padrão de plano (básico, intermediário, superior e executivo), o que possibilita a mensuração mais exata da variação do custo médico hospitalar. Ou seja, se as vendas de um determinado padrão de plano crescerem muito mais do que as de outro padrão, isso pode resultar, no cálculo agregado, em VCMH maior ou menor do que o real, o que subestimaria ou superestimaria a VCMH.