Acabamos de divulgar o TD 64 – "Fatores associados ao nível de gasto com saúde: a importância do modelo de pagamento hospitalar”. O estudo, inédito, aponta benefícios de modelos de pagamento prospectivos, que priorizem questões como a qualidade do atendimento.
De acordo com o trabalho, a utilização de um modelo de pagamento hospitalar prospectivo reduz a taxa de crescimento do gasto com saúde per capita dos países em 1,2 ponto porcentual em relação aos países que utilizam modelo retrospectivo, mais conhecido como fee-for-service. O levantamento ainda analisa dados de inflação médica dos países, e observa que em 2016 o Brasil foi o País com a maior inflação médica no mundo, mesmo desconsiderando o nível de inflação geral da economia.
Na próxima semana iremos publicar, aqui no blog, um especial de 5 dias sobre “DRG e outros modelos de remuneração”, tema vencedor da nossa última enquete.
Há pouco mais de uma semana, destacamos, aqui no Blog, o aumento de 19% nos custos assistenciais das operadoras de saúde, de acordo com o VCMH. O avanço é mais do que o dobro da inflação geral do período, que foi de 9,4%, de acordo com o IPCA. O que acende uma luz de alerta para o setor. Hoje, foi a vez de o jornal Correio Braziliense dar o mesmo alerta, com a reportagem “Custo da saúde dispara e ameaça planos e clientes”.
Logo após o título, a reportagem destaca: “Gasto de operadoras com atendimentos médicos cresce 19% em um ano. No país, já existem 60 empresas com patrimônio líquido negativo, prejudicando beneficiários. Número de internações e exames encarece tratamento”
Estamos, de fato, frente a uma ameaça a sustentabilidade do setor de saúde suplementar. Porém, mais importante do que o aumento, é entender seus motivos, que já temos apontado faz tempo, e, principalmente, entender que há meios para reverter esse cenário.
O número de internações e exames, conforme destacado na reportagem, certamente encarece o sistema. E como já apontamos aqui, com o envelhecimento da população pelo qual estamos passando, a tendência é que tanto o número de internações quanto o de consultas continue a crescer. E não só isso, os gastos com esses procedimentos também tende a aumentar, dado que pacientes com mais idade tendem a necessitar de mais cuidados.
O segredo para começar a mudar essa jornada de escalada de preços é não olhar para a frequência de utilização de serviços como um problema. Há inúmeros programas de promoção da saúde em outros países que estimulam um incremento na frequência de exames e consultas, o que, em contra partida, culmina na diminuição de internações e da ocorrência de problemas mais graves. Em última instancia, contribuindo para a redução de custos.
Contudo, o que encarece a utilização dos serviços de saúde no Brasil, é principalmente o modelo de pagamento adotado atualmente: o chamado fee-for-service. Hoje, os hospitais têm um cheque em branco para cada internação. De uma forma bastante crua, mas para facilitar a compreensão: o desperdício compensa. Quanto mais dias, exames e insumos forem consumidos, maior o lucro do prestador de serviço.
Isso não significa que os hospitais são vilões interessados apenas no dinheiro. Significa que o modelo está errado. Precisamos urgentemente mudar para um modelo que privilegie as melhores práticas, a performance e o desfecho clinico; um modelo que puna o desperdício. Pode parecer que “o disco riscou” devido a frequência com que repetimos isso. Mas acreditamos que enquanto isso não mudar, os custos da saúde continuarão em sua trajetória ascendente.
Claro, há outros fatores que pesam nessa conta, tanto circunstanciais, como a crise econômica, quanto estruturais, como a falta de critérios objetivos de custo-efetividade para a incorporação de novas tecnologias na saúde. E é certo que políticas mais eficientes nesse sentido, bem como a criação de novos produtos de saúde suplementar que entreguem ao beneficiário maior poder de decisão são importantes e podem dar novo folego ao setor. Mas enquanto o atual modelo (novamente, que premia o desperdício) perdurar, não haverá solução definitiva.
O aumento dos gastos em saúde é um problema global que atinge diversos países ao redor do globo, não somente o Brasil. Na China, para controlar o crescimento excessivo das despesas e reduzir os gastos, foi feito uma mudança no modelo de pagamento no sistema de saúde, migrando do modelo de pagamento fee-for-service (FFS), que é atualmente utilizado no Brasil, para o sistema de pagamento de orçamento global (GBPS).
O estudo “Global budget payment system helps to reduce outpatient medical expenditure of hypertension in China”, publicado na última edição do Boletim Científico com o título “Modelo de pagamento de orçamento global ajuda a redução de despesas ambulatoriais em saúde para pacientes hipertensos na China”, avaliou qual o efeito do novo modelo de pagamento de orçamento global nas despesas em saúde da cidade de Tianjin, na China.
O principal destaque observado no estudo foi a redução de 16,9%, com base nas despesas em saúde per capita, que o sistema de pagamento de orçamento global apresentou em comparação ao fee-for-service, reduzindo significativamente a despesa em saúde total.