O total de beneficiários de planos médico-hospitalares individuais atingiu, em março deste ano, o menor nível desde dezembro de 2011. Fortemente influenciado pela recessão econômica, o total de vínculos de planos individuais vem apresentando retração, trimestre a trimestre, desde o último período de 2014. Apenas nos 18 meses encerrados em março deste ano, houve queda de 2,8% no total de vínculos dessa modalidade de contratação. O que representa a perda de cerca de 280 mil vínculos. Os 9,84 milhões de beneficiários de planos individuais se tornaram 9,56 milhões, como demonstra o gráfico.
O movimento coincide com a retração no saldo de empregados medido pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que também começou a apresentar queda no quarto trimestre de 2014. Nos 18 meses encerrados em março deste ano, o saldo de desempregados chegou a 2,45 milhões. No mesmo período, também a renda per capita, medida pelo Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), diminuiu: 7,5%. Os números estão disponíveis no IESSdata.
Os movimentos da economia, trabalho e renda no Brasil, muito preocupantes, impactam diretamente sobre o comportamento do mercado de planos de saúde. Mais um sintoma desse atrelamento se mostra do que pode ser um “fato novo”: a perspectiva negativa sofre o futuro da economia pode estar afetando a alta da variação dos custos de saúde. O índice Variação de Custos Médico-Hospitalar (VCMH) bateu recorde nos 12 meses encerrados em dezembro de 2015, atingindo a alta de 19,3%.
Apuramos esse indicador a partir da análise de um amplo conjunto de informações de carteiras de planos individuais de diversas operadoras. O recorde do VCMH também pode ter sido influenciado por conta da expectativa do beneficiário de não conseguir manter o plano, uma hipótese a ser investigada mais profundamente no futuro. Em tese, nossa suspeita é que, diante do temor de perder o emprego ou mesmo ter a renda reduzida, e, com isso, não ter mais condições de manter o plano de saúde, beneficiários estariam usando mais os serviços de saúde antes de não conseguirem mais manter o plano. Assim, realizam o máximo possível de consultas, terapias e exames sob a lógica de que é melhor se garantir e fazer os procedimentos antes de não contar mais com o plano.
A hipótese ainda precisa, evidentemente, de mais investigação, como dissemos. Contudo, levanta um ponto de atenção para o setor que precisa, constantemente, se aprimorar para garantir sua sustentabilidade. Não há como negar que a combinação de queda de beneficiários e custos em alta amplia o risco do setor.
Em 2015, 766 mil brasileiros deixaram de contar com o benefício de ter um plano de saúde. Os números do setor, apresentados no boletim “Saúde Suplementar em Números”, deixam claro que o volume de demissões e a consequente redução do saldo de empregos formais estão impactando diretamente no total de beneficiários de planos de saúde.
Para se ter uma ideia do peso que a recessão representa para o setor não é necessário ir longe. Não é preciso nem mesmo analisar a renda das famílias ou computar o total de planos que foram cancelados porque, sem emprego, o beneficiário não pode manter o vínculo. Basta olhar o total de contratos coletivos empresariais, aqueles oferecidos pelas empresas aos seus funcionários. Foram cancelados 404,8 mil vínculos deste tipo em 2015. O que significa que, sozinhos, os planos coletivos empresariais responderam por 52,85% de todos os beneficiários que deixaram de ter plano de saúde no ano passado. O gráfico abaixo ilustra bem como o total de beneficiários recuou juntamente com o saldo de empregados.
O cenário, contudo, deixa clara a resiliência do setor. Em 2015, o Produto Interno Bruto (PIB) apresentou retração de 3,8% e foram fechados 1,54 milhão de postos de trabalho com carteira assinada. Os impactos para o setor de saúde suplementar foram evidentemente menos intensos. O principal motivo para tanto é a percepção positiva que a população tem sobre os planos de saúde.
Uma pesquisa, realizada no ano passado pelo IBOPE Inteligência a pedido do IESS, revela que 75% dos brasileiros que possuem plano de saúde estão satisfeitos ou muito satisfeitos com seus planos. Além disso, ter um plano de saúde foi apontado como o terceiro maior desejo dos brasileiros, atrás apenas da educação e da casa própria. De acordo com a pesquisa, 95% dos brasileiros consideram a posse de plano de saúde essencial.